Vitória de tirar a touca

SANTOS 0 x 1 GRÊMIO
Pois quis o Destino, esse eterno brincalhão, que fosse esse Grêmio manquitolante, que nada mais espera do campeonato a não ser que ele acabe o mais rápido possível, a rasgar uma das toucas mais persistentes de toda a história do tricolor gaúcho. Pois foi esse Grêmio que aí está, com carências em vários setores e que havia sido esmagado pelo Figueirense há poucos dias, que derrubou o tabu da Vila Belmiro, onde o Grêmio não vencia por partidas do Brasileirão desde nunca. Esse time de Celso Roth, com figuras questionadas como Rafael Marques, André Lima e Diego Clementino, conquistou uma vitória que pouca diferença fez ou deve fazer na tabela, mas que acaba fazendo, mesmo que por linhas tortas, história.
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Não foi uma partida brilhante, isso é certo. Mas igualmente não tinha sido brilhante a vitória conquistada em 1999 pela seletiva para a Libertadores do ano seguinte - partida na qual, como bem lembrou nosso querido Zezinho Morais, o Grêmio escalou cinco volantes e contava com Cláudio Duarte na casamata. Nada mais justo: para arrancar toucas da cabeça e deixar o couro cabeludo respirar, futebol de boa qualidade é elemento puramente acessório. E foi assim que se deu.
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Até que o Grêmio teve uma atuação razoavelmente digna no primeiro tempo, em especial nos 25 minutos iniciais. Mesmo com o gramado em péssimas condições, o Grêmio tentava tocar a bola, criar lances de perigo, jogar futebol enfim. Nada muito bonito, mas pelo menos dava para ver algumas boas intenções na coisa toda. O gol de Escudero - um dos melhores em campo hoje - foi bem emblemático. Rafael, que fechava 100 jogos no gol do Peixe, soltou a bola nos pés de André Lima e foi forçado a cometer o pênalti. Douglas bateu com incomum incompetência, permitindo a defesa do goleiro santista - que não foi suficiente para evitar o gol, já que Escudero surgiu rasgando e chutando o tabu de qualquer jeito para dentro das redes.
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A partir daí, o Grêmio praticamente abriu mão de iniciativas dentro da partida. Ficou resguardado, com Celso Roth puxando Mário Fernandes para a zaga, deslocando Marquinhos para a ala e transformando o Grêmio em uma espécie de 5-4-1. Afora os primeiros 15 minutos do segundo tempo, quando pressionou e deu pinta de que poderia empatar, o Santos não conseguiu lidar bem com a justa retranca gremista. As bolas alçadas na área gremista foram incontáveis - estratégia de Muricy Ramalho para fugir do gramado, quase impraticável àquela altura - mas a zaga do tricolor gaúcho foi inesperadamente eficiente, espanando quase tudo para longe. Os minutos se arrastavam, e com o andar dos ponteiros do relógio ia mudando também o pensamento da torcida gremista. A vitória na Vila, antes vista como impossível, foi se materializando assim, aos poucos, sob a incredulidade de todos. Tanto que imagino que muita gente não saiba até agora como reagir diante do fato.
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Em termos de tabela, vencer o Santos pouca diferença faz. Ainda que tenha galgado degraus e chegado na nona posição, seus 42 pontos estão a oito de distância do Fluminense, primeiro classificado para a Libertadores neste momento. Ou seja, como faltam oito rodadas, o Grêmio ia ter que tirar mais de um ponto de diferença por rodada - o que não combina com a boa campanha do Fluminense e muito menos com as periódicas tropeçadas gremistas. Mesmo assim, trata-se de um resultado de alta relevância, exatamente pelo caráter estatístico. Afinal, arejar a cabeça é sempre profilático, higiênico e agradável.
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Santos (0) - Rafael; Danilo (Leandro Silva), Edu Dracena, Bruno Rodrigo e Durval; Henrique, Arouca, Ibson (Tiago Alves) e Renteria (Breitner); Borges e Alan Kardec.
Técnico: Muricy Ramalho.
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Grêmio (1) - Victor; Mário Fernandes, Rafael Marques, Gilberto Silva e Julio Cesar (Bruno Collaço); Fernando, Fábio Rochemback, Douglas, Marquinhos (Adilson) e Escudero (Diego Clementino); André Lima.
Técnico: Celso Roth.
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Local: Vila Belmiro, Santos (SP). Data: domingo, 16 de outubro de 2011. Árbitro: Emerson de Almeida Ferreira (MG). Auxiliares: Janette Arcanjo (MG) e Antônio Parreão (TO). Gol: Escudero (Grêmio), aos 20mins do 1º tempo. Cartões amarelos: Rafael e Dracena (Santos); Fernando e André Lima (Grêmio). Público: 3.477 torcedores. Renda: R$ 90.319
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Comentários

franke disse…
Pro Grêmio, só falta uma coisa a fazer nesse brasileiro: COÇAR. Ou seja: lutar para NÃO se classificar à Libertadores 2012 e GARANTIR vaga à Copa do Brasil e à Sula, torneios AMBOS que vamos abocanhar.

De resto, só consigo pensar quantos gols esse Santos vai levar do Barcelona.
André Kruse disse…
Em relação a cobrança de pênalti, não me parece tão incomum a incompetência do Douglas. Já é o segundo desperdiçado em menos de 6 meses.

Essa cultura do "craque" do time cobrar o pênalti me parece equivocada (vide Neymar, Ronaldinho & cia)
Igor Natusch disse…
Kruse: Mas ele tinha o hábito de cobrar bem. Lembro que, antes de ele errar a cobrança contra Bahia, dizia-se que ele só tinha errado um pênalti em partidas oficiais, ainda no São Caetano. Concordo plenamente contigo no sentido de que pênalti não é coisa para artilheiro ou craque bater, e sim para quem treina mais e está melhor capacitado. Mas Douglas costumava bater bem. Talvez esteja faltando treinamento...

Franke: como apontamos no Carta na Mesa de hoje, o GRANDE OBJETIVO do Grêmio no Brasileirão é GOLEAR O FLAMENGO, de preferência humilhando Ronaldinho de infinitas maneiras. Quanto ao Santos, concordo muito. O time parece ter perdido qualidade, algo que vai além de Ganso e Neymar não estarem jogando. Se fosse encarar o Barça HOJE, provavelmente seria massacrado sem dó. Se bem que o Inter deve servir de alerta no sentido de que uma má semifinal pode fazer com que nem se jogue a decisão...
Lourenço disse…
O Douglas bate muito bem pênalti, também acho. O Tcheco, se não me engano, errou só dois em toda a sua passagem pelo Grêmio.
Chico disse…
Quebrando o tabu na cabeça do borges.