Desapego pela vitória

AMÉRICA-MG 2 x 2 GRÊMIO
Não estava muito difícil vencer o América-MG. Pelo contrário: mesmo sendo jogo em Sete Lagoas, o Grêmio tinha conseguido virar a partida a seu favor, tinha um jogador a mais desde o primeiro tempo e era obviamente superior a seu adversário, tanto em recursos quanto em oportunidades criadas. Era só manter a partida sob controle e o Grêmio fatalmente venceria o América-MG, fechando de vez o caixão do Coelho no Brasileirão. Mas o time gaúcho fraquejou, cedou generosos espaços ao adversário e, acometido de estranho desapego pela vitória que tinha em mãos, acabou sofrendo o castigo de vê-la escapar.
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Celso Roth foi mal hoje, desmontando a partir do intervalo uma estabilidade construída a duras penas no decorrer da primeira etapa. O time gaúcho saiu perdendo cedo, gol de falta do sempre incômodo Carleto aos 11mins, mas mesmo naquele momento mostrava que era superior ao time mineiro. O Grêmio viveu considerável instabilidade após sofrer o gol, mas foi reequilibrando-se gradativamente e já mandava de novo na partida quando Marcos Rocha, aos 32mins, quase partiu Douglas ao meio, tornando inevitável sua expulsão. Em seguida, André Lima empatou a partida - e a conjunção de fatores parecia transformar a virada em uma consequência óbvia do andar da carruagem.
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Mesmo que o Grêmio tenha passado à frente logo aos 7mins do segundo tempo, foi no vestiário que o fracasso final gremista começou a ser gestado. Pensando no confronto contra o Flamengo na semana que vem, Celso Roth retirou Fernando de campo, adiantando Gilberto Silva para a volância e colocando Edcarlos na zaga. Uma mudança que em teoria faz sentido, mas que escancarou a necessidade que o Grêmio tem de contar com o jovem volante em campo. Fernando cumpre função decisiva, dando combate intenso na frente dos zagueiros (coisa que Fábio Rochemback, por exemplo, não tem feito) e acelerando a saída de bola para o ataque. Sem ele, o meio-campo gremista simplesmente parou de funcionar. Mesmo diante de um América-MG ainda mais fragilizado do que de costume, o Grêmio foi sendo envolvido, cedendo espaços. E o que é pior: parecia pensar, dentro de campo e na beira do gramado, que estava tudo bem assim.
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A entrada de Diego Clementino, além de não atacar o principal problema do Grêmio na partida - a saber, o combate deficiente e a saída de bola lenta da dupla Rochemback / Gilberto Silva - acabou tendo o efeito ofensivo que dela se poderia esperar: zero. Na coletiva, Celso Roth argumentou que tentou definir o jogo, abrindo Escudero como ponta e colocando o Grêmio com 3 atacantes; se assim foi, mostra claramente que o treinador não entendeu muito bem o que estava acontecendo. Não faltava força na frente, pelo contrário: quando o Grêmio chegava, criava chances, ainda que as desperdiçasse. O que faltava era coesão na meia-cancha, algo que vai além de empilhar peças, seja na volância ou na articulação. Colocar Adílson e tirar Marquinhos foi a pá de cal: o Grêmio ficou sem nenhum armador, com três homens isolados na frente. Rachado ao meio, o Grêmio recuou. E cedeu o empate, em mais uma das incontáveis falhas de posicionamento da zaga gremista.
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Em termos de tabela, o resultado não faz nenhuma diferença prática. A triste realidade gremista é essa: somar mais uns cinco ou seis pontos para garantir a vaga na Sul-Americana, enquanto aguarda ansiosamente a chegada de 2012. Mas acredito que esse empate, ainda que não seja catastrófico como descreveu Paulo Pelaipe no pós-jogo, pode e deve servir de alerta para o Grêmio. O ano que vem pode ser promissor, caso o Grêmio monte uma equipe de qualidade para encarar a Copa do Brasil no primeiro semestre. Mas falta muita coisa. E um empate contra um lanterna desesperado demonstra que as carências não estão apenas no plantel e no que ele é capaz de oferecer: elas passam também pelo ânimo e disposição dos jogadores e daqueles que os comandam. Um time de futebol precisa querer vencer, e essa ideia precisa estar clara na mente de todos os envolvidos, do vendedor de ingressos ao craque do time. Ouviu-se muito que o Grêmio queria vencer hoje, nas entrevistas pós-jogo. Pena que, dentro de campo, não deu para enxergar quase nada disso.
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América-MG (2) - Neneca; Anderson, Micão (Fabrício) e Everton; Marcos Rocha, Glauber, Leandro Ferreira, Rodriguinho e Carleto; Kempes (Léo) e Alessandro (Fábio Júnior).
Técnico: Givanildo Oliveira.
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Grêmio (2) - Victor; Mário Fernandes, Gilberto Silva, Rafael Marques e Julio Cesar; Fernando (Edcarlos), Rochemback, Douglas (Clementino), Marquinhos (Adilson) e Escudero; André Lima.
Técnico: Celso Roth.
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Local: Arena do Jacaré, Sete Lagoas (MG). Data: sábado, 22 de outubro de 2011. Árbitro: Nielson Nogueira Dias (PE). Auxiliares: Jossemmar Coutinho e Clóvis Amaral da Silva (PE). Gols: Carleto (AME) aos 11mins e André Lima (GRE), aos 34mins do primeiro tempo; André Lima (GRE) aos 7mins e Anderson (AME) aos 41mins do segundo tempo. Cartões Amarelos: Everton Luiz, Micão e Marcos Rocha (América); Edcarlos e Fernando (Grêmio). Cartão vermelho: Marcos Rocha (América).
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Comentários

Zezinho disse…
Igor, eu não vejo mão do Roth no fato do Grêmio ceder o empate. O ingresso do Adílson no final do jogo foi para aumentar a combatividade à frente da zaga e empurrar Rochemback para gerir o jogo mais a frente.

O problema desse time é anímico. É ser um amontoado de come e dorme. Daí parte da imprensa culpa o técnico, jogador fica de birra, centroavante manda recadinho pra quem deixou o clube e vira nessa massaroca infame.

Desde 1995 o Grêmio não fazia o terço final de campeonato brigando por NADA:

1996 - classificação ao mata-mata
1997 - fugir do rebaixamento
1998 - classificação ao mata-mata
1999 - classificação à Seletiva Pré-Libertadores
2000 - classificação ao mata-mata
2001 - classificação ao mata-mata
2002 - classificação ao mata-mata
2003 - fugir do rebaixamento
2004 - fugir do rebaixamento
2005 - classificação ao mata-mata
2006 - Libertadores
2007 - Libertadores
2008 - Título e Libertadores
2009 - Libertadores
2010 - Libertadores
Rodrigo Cardia disse…
"Desde 1995 o Grêmio não fazia o terço final de campeonato brigando por NADA"

Mas o pior é constatar que naquele ano tínhamos um objetivo maior, que era o Mundial. Já agora, realmente não almejamos NADA.
Vicente Fonseca disse…
Em 2009, o Grêmio deixou o campeonato de lado faltando 10 rodadas, naquele empate em 3 a 3 com o Sport, no Olímpico. Em 1999, embora se ficasse uma posição abaixo o time não disputaria a Seletiva, não houve uma mobilização para que isto acontecesse.

Mas concordo com a tua ideia, Zezinho. Ao menos é melhor um fim de ano tranquilo que os "objetivos" de 1997, 2003 e 2004...