Agora você vai ouvir aquilo que merece

Tenho certeza que todos os leitores (as) já passaram, estão passando e/ou passarão por desilusões amorosas. É algo inevitável, faz parte intrínseca do que somos, fomos e iremos ser pela vida afora. Então, proponho ao amigo (a) que nos acompanha uma questão bem singela, a partir de sua própria experiência pessoal: o que mais doeu em seus fracassos amorosos, na separação daquela pessoa que pareceu ser tudo, mas se revelou muitíssimo menos do que prometia?
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Muitas respostas virão, certamente. Mas eu diria, e com certeza muitos do que responderem essa perguntinha diriam algo parecido, que o que mais dói é a desonestidade. Brincar com sentimentos alheios é uma coisa muito feia, que machuca mesmo, traumatiza até e faz com que muitos desacreditem do amor para todo o sempre. Algo que a vítima nunca esquece. E jamais perdoa plenamente. Jamais.
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Hoje à tarde, em um Estádio Olímpico lotado com mais de 45 mil ressentimentos, uma multidão traída terá a chance de expressar seu ultraje com todas as letras. Afinal, OK que a direção gremista da época foi incompetente, que os jogadores de futebol são profissionais em busca da melhor proposta, que toda a negociação virou um jogo de quem era mais esperto que o outro e por aí vai. Mas, mesmo que tudo isso seja verdade (e é), nada apaga o fato: Ronaldinho traiu o amor da torcida gremista em 2001, quando se foi, e voltou a fazê-lo no começo deste ano, quando ensaiou-se timidamente uma reaproximação cheia de desconfianças.
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Mentiu. Disse que amava o Grêmio, que ficaria no Olímpico por mais tempo, que jogaria de graça se necessário fosse. Por meio de seu irmão / empresário, chegou a garantir que não havia nenhuma negociação em andamento, quando já tinha pré-contrato assinado com o Paris Saint-Germain. O eterno argumento "mas um jogador profissional como Ronaldinho etc etc" cai por terra nesse exato momento: um jogador profissional muda de clube sem precisar enganar seu torcedor. Temos incontáveis exemplos mundo do futebol afora. O problema não é e nunca foi sair: é mentir que ama e vai ficar. Mentiu. E o traído não perdoa. Nem deve perdoar.
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Quase perdoou no começo do ano, quando Ronaldinho acenou com a chance de retornar. Queria voltar para casa, dizia ele. Nunca se declarou arrependido, mas renovou as juras de amor, e seu irmão / empresário garantiu que não era mais questão de negócios, que o retorno era para o Grêmio, que era só dar o autógrafo no contrato. De novo, a direção falhou ao dar o ovo por certo na cloaca da galinha, deixar-se iludir, acreditar nas palavras macias de quem já tinha enganado da primeira vez. Mas a torcida, essa pobre e sofrida massa de apaixonados pelo Grêmio, não merecia ver publicamente Ronaldinho se esfregando em Palmeiras e Flamengo, optar pelo segundo, tudo isso enquanto se dizia que ele ia voltar. Não voltou. Mentiu de novo. E a segunda traição, dependendo do caso, dói ainda mais que a primeira.
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Eis o que teremos então, meus amigos. Uma massa de traídos em um momento de catarse coletiva. Multidões que não lotaram o Olímpico em nenhum outro momento do ano, acotovelando-se pela chance de xingar Ronaldinho, mostrar sua revolta, dizer com todas as letras que não perdoam e jamais perdoarão sua canalhice. Uma multidão de cornos parafraseando Lupicínio Rodrigues e dizendo que agora, sim, Ronaldinho vai ouvir aquilo que merece. As coisas podem ser muito boas quando a gente esquece, mas acontece que a torcida gremista não esqueceu a judiaria que Ronaldinho e seu irmão / empresário fizeram com o coitadinho do coração gremista. E isso é justo. E ninguém pode apagar a justiça desse gesto coletivo de desforra.
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Se fará diferença, não sei. Possivelmente não, já que Ronaldinho dá sinais claros de que sua consciência não pesa, de que não há nenhum sinal de arrependimento ou mesmo de desejo que tivesse sido diferente. É alguém que segue a vida sem olhar para trás e sem pensar nas mágoas que deixou pelo caminho. Mas isso pouca diferença faz, no fim das contas. O ritual da torcida gremista é consigo mesma. E, desde que não parta para tentativas de agressão (o que é imprevisível e, infelizmente, muito difícil de controlar), tudo é justo, digno e adequado. Afinal, Ronaldinho não é filho pródigo, e não é bem vindo.
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Comentários

Gustavo disse…
Eu sei que é errado. Podem me julgar. Mas eu gostaria muito que ele apanhasse, só um pouquinho. Ele merece.
Sancho disse…
Se ele tivesse, simplesmente, acertado com o Flamengo direto, não haveria UM TERÇO do clima que existe hoje...
Pati Benvenuti disse…
Demos a resposta dentro de campo, isso que importa. Futebol é bonito assim :D
vine disse…
Só tu pra colocar charme e decência numa questão como essa...