Números, com ou sem bigode

Celso Roth inicia amanhã sua quarta passagem pelo Estádio Olímpico. Como ela será, ninguém sabe. O que podemos fazer no momento é projetar o futuro recuperando as outras vezes em que a casamata da Azenha esteve sob seus cuidados.

1998/99
Celso Roth chegou ao Grêmio dois meses após ser demitido pela primeira vez no Inter. O time perdera as 3 primeiras partidas do Brasileirão e temia o rebaixamento. Mesmo com um elenco limitadíssimo, montou uma equipe capaz não só de sair da zona de descenso como classificou o time entre os 8 melhores do campeonato, na última rodada, ao vencer dramaticamente a Portuguesa por 4 a 2. Nos play-offs, foi eliminado pelo líder e futuro campeão Corinthians, mas o time deu trabalho.

No ano seguinte, o Grêmio foi eliminado pelo Flamengo na Copa do Brasil, mas conquistou dois títulos no primeiro semestre: a Copa Sul, derrotando o Paraná na decisão, e o Gauchão, vencendo o Inter, sob o comando de Ronaldinho. No Brasileirão, o time começou até bem, mas a falta de um bom elenco pesou. Roth foi demitido quando o tricolor já era 13º colocado entre 22 participantes.

Estreia: Atlético/PR 0 x 0 Grêmio, 09/08/1998, Campeonato Brasileiro
Demissão: Grêmio 2 x 3 Guarani, 26/09/1999, Campeonato Brasileiro
Títulos: Copa Sul 1999 e Gauchão 1999
Campanha geral: 89 jogos, 47 vitórias, 18 empates e 24 derrotas
Aproveitamento: 59,6%
Gre-Nais: 6 jogos, 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas

2000
Celso Roth voltou ao Olímpico menos de 1 ano após sua primeira demissão. Terceiro técnico no ano, veio para substituir Antônio Lopes. Era o Grêmio da ISL, milionário, mas que não conseguia resultados e perdera o Gauchão para o Caxias em casa. Após duas derrotas nas primeiras partidas do Brasileirão, Roth foi a Salvador e buscou um 1 a 1 com o Bahia. Sua campanha naquele ano foi razoável. Sem empolgar, o Grêmio fez o suficiente para chegar entre os 12 primeiros e se classificar aos mata-matas da Copa João Havelange. Ali, o tricolor eliminou Ponte Preta e Sport com as calças na mão. Na semifinal, não resistiu ao surpreendente São Caetano. Foi o fim da II Era Roth no Olímpico.

Estreia: Bahia 1 x 1 Grêmio, 09/08/2000
Demissão: Grêmio 1 x 3 São Caetano, 17/12/2000
Títulos: nenhum
Campanha geral: 28 jogos, 12 vitórias, 8 empates e 8 derrotas
Aproveitamento: 52,4%
Gre-Nais: 1 jogo, 1 vitória

2008/09
O Grêmio terminou 2007 buscando um substituto para Mano Menezes. Vagner Mancini foi o escolhido, mas não durou um mês: foi demitido ainda invicto, pela convicção da direção de que era ofensivista demais. Roth veio, com rejeição de 80% em várias enquetes de emissoras de rádio. Manteve o time 13 jogos invicto, mas em três dias foi eliminado do Gauchão em casa pelo Juventude, numa escalação absolutamente esdrúxula, e pelo modestíssimo Atlético/GO, da Série C, na Copa do Brasil. Caiu Paulo Pelaipe, mas Roth se manteve, mesmo com rejeição absoluta dos torcedores.

Após as eliminações, o Grêmio ficou um mês sem jogar, só treinando e fazendo amistosos contra clubes inexpressivos. Com um elenco tido como frágil, o Brasileirão era motivo de extrema preocupação para os gremistas, que viam o time como candidato ao rebaixamento. No entanto, a campanha que se seguiu foi espetacular: logo na estreia, vitória sobre o bicampeão São Paulo, no Morumbi, por 1 a 0. Com goleadas históricas como um 7 a 1 no Figueirense e um 4 a 0 no Atlético/MG, ambas fora de casa, o Grêmio foi campeão do turno e disparou na liderança. No returno, o time se reforçou, mas Roth mexeu na equipe quando não devia. Houve queda de rendimento e a perda do título para o São Paulo.

Em 2009, o Grêmio ia bem na Libertadores, mas 3 derrotas seguidas em Gre-Nais em menos de 2 meses ocasionaram a demissão. A rejeição dos torcedores era insuportável.

Estreia: Grêmio 2 x 1 Esportivo, 21/02/2008
Demissão: Internacional 2 x 1 Grêmio, 05/04/2009
Títulos: nenhum
Campanha geral: 75 jogos, 43 vitórias, 16 empates, 16 derrotas
Aproveitamento: 64,4%
Gre-Nais: 7 jogos, 3 empates, 4 derrotas

Curiosidades
- Roth nunca perdeu numa estreia pelo Grêmio.

- Esta será sua terceira estreia em um começo de agosto pelo Grêmio. As outras duas, em 1998 e 2000, ocorreram no mesmo dia, 9 de agosto.

- Em 2008, Roth foi contratado no dia 14 de fevereiro, mas só estreou uma semana depois. Neste meio tempo, o Grêmio venceu a Ulbra por 1 a 0, em Canoas, e ele só observou das cabines. O técnico interino? Julinho Camargo, que Roth substituiu agora.

- Roth, por incrível que pareça, não é um perdedor em Gre-Nais. Sua fama, inclusive, era exatamente oposta em seus primeiros anos como técnico. Foi ele o treinador do Inter nos 5 a 2 de 1997 e do Grêmio no começo da maior série invicta do tricolor em clássicos, 13 jogos, de 1999 a 2002.

- Pelo Grêmio, Roth foi técnico em 14 clássicos: ganhou 4, empatou 4 e perdeu 6. Pelo Inter, foi técnico em 7 Gre-Nais: ganhou 2, empatou 4 e perdeu 1. Até hoje, Roth disputou 21 Gre-Nais no total: ganhou 6, empatou 8 e perdeu 7. Retrospecto equilibrado.

- Talvez o bigode seja a explicação. Com bigode, Roth ganhou 6 Gre-Nais, empatou 1 e perdeu 3. Sem bigode, nunca venceu: empatou 7 vezes e perdeu 5. Roth não vence um Gre-Nal há 11 anos - ou 9 jogos.

- No geral, Roth foi técnico do Grêmio em 192 jogos oficiais. Venceu 102, empatou 42 e perdeu 48. Aproveitamento de 60,4%.


Comentários

Marcelo disse…
Genial o retrospecto com/sem bigode.
Zezinho disse…
Na primeira passagem de Roth no Grêmio, lembro do Jornal NH, de 10/08/98: manchete comemorando 0x0 e uma foto na bola parada na poça d'água.

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Eu gosto do Celso desde 1997. Aquele time do Inter era impressionante, um ataque fulminante. Foi capaz de fazer uma bela campanha antes que meu avô colorado falecesse, no Natal daquele ano.

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Ainda que tenha começado a acompanhar futebol em 1994, meu caráter futebolista se deu em 1998 com o primeiro álbum de Copa do Mundo e a campanha do Grêmio no Brasileirão.

Chegamos a ficar 13 jogos sem vencer, até que, comandado por ITAQUI, o Tricolot goleou a Universidad de Chile por 5x1.

Era um time limitado, mas que tinha Rodrigo Mendes gastando a bola e Scheidt comandando a zaga. Não a toa foi meu primeiro time de Gulliver: Danrlei; Ricardo Mendes, Rivarola, Scheidt e Roger; Fabinho, Goiano, Itaqui e Tinga (morra); Zé Alcino e Rodrigo Mendes.

Duas passagens curiosas:

- Grêmio x Santos, no Olímpico. Jogo era para ser sábado, mas por causa da chuva, foi no domingo. Na Gaúcha, Pedro Ernesto, em chamas, anunciava a estreia de Loco Abreu.
Já no estádio o auto-falante anunciou, em ordem numérica: 8...Goiano...9...Clóvis...10...(inaudível)...11...Itaqui...

Meu pai, do lado: 'Esse Roth tá louco! Itaqui na ponta-esquerda?! Esse Clóvis é uma naba!'.

Adivinhem quais jogadores marcaram os dois primeiros gols daquela vitória por 3x2 ;)

- Corinthians x Grêmio, no Pacaembu. Segundo jogo do play-off - havíamos perdido o primeiro por 1x0, gol de Rincón, minha primeira derrota em estádio.

Corinthians dá um calor no Grêmio. Até que há uma falta na intermediária. Itaqui pega a bola. Meu pai: 'Esse Itaqui nunca bateu falta na vida'.

Resultado: um dos golaços de falta mais lindos da história recente do Grêmio.

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Copa Sul de 1999 foi um dos títulos mais coperos y peleadores da história do Grêmio

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Bigodearemos
Vicente Fonseca disse…
Tu vê futebol desde os 4 anos de idade?

Respeitei.
Vicente Fonseca disse…
Marcelo, é MUITA COINCIDÊNCIA que o Roth tenha virado perdedor em Gre-Nais desde a retirada do bigode. É a única explicação possível. Provo com números!

dshdh
Zezinho, devemos ainda lembrar que o Santos estava invicto naquele campeonato brasileiro. Era o único time invicto daquela edição do torneio, e sua primeira derrota foi justamente esse 3x2.
Chico disse…
Finalmente Paulo Odone assume a presidência do GRÊMIO.

Odone, Pelaipe, Paixão e Roth. Agora ninguém segura.

Roth de volta ao Tricolor. Deixa o homem trabalhar.

Brandão será um bom reforço desde que não caia na noite.
Chico disse…
Quando virá um zagueiro de verdade?
Mário disse…
Naquele Corinthians x Grêmio citado pelo Zezinho, mais bonito do que o gol do Itaqui foi o do Clóvis de voleio. Clóvis esse, aliás, que era realmente horrível. O time do Corinthians era imensamente superior ao do Grêmio, mas só venceu no jogo de desempate.

Lembro bem de estar no estádio no 4 a 2 contra a Portuguesa. Era daquelas classificações impossíveis, precisava de uma combinação improvável de uns 8 resultados, e no fim foi o que aconteceu. Mas quase que o Grêmio não consegue ganhar da Portuguesa em casa, que era o mais fácil. Se não me engano, Zé Alcino fez dois gols no final da jogo que garantiram a vitória e a classificação.
Sancho disse…
I. Em 1998, um dos melhores campeonatos brasileiros de todos os tempos, fizemos a série mais difícil para o Corinthians nas finais. Perdemos só na 3ª partida, quando jogávamos pelo empate, numa saída de gol errada do Danrlei.

II. Em 1999, na Copa Sul, ganhamos um Gre-Nal em que o Inter venceu por 2-0; e batemos o Paraná em Curitiba. Épico.

III. Em 2008, o São Paulo fez uma campanha absurdamente excepcional no segundo turno (mais pontos que o Grêmio no primeiro). O Grêmio caiu de rendimento, mas isso era de certa forma esperado. Ainda assim, fez a terceira melhor campanha do returno. Não colocaria a perda do título na conta do Roth, ao menos não só na dele.

IV. Tchê, o Celso Roth tem 1.000.000 de defeitos, mas não deveria ter essa rejeição toda que tem. Há uma soma de perseguição e implicância gratuitas, com o fato de ele pedir por isso também.

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O principal erro da carreira de Roth
Sancho disse…
Dizer que se trata do "principal erro da carreira de Roth", como comecei a insinuar acima, talvez seja exagero; mas foi um equívoco mostruoso a preparação colorada para o Mundial.

Se o Roth deixasse Mundial para um segundo plano e apostasse no Brasileiro, talvez tivesse tido maior sucesso. Ter colocado todas as fichas em Abu Dhabi e tomado o Mazembaço foi terrível.

Só não sei o quanto a direção colorada não tem de participação nisso. O fato de Roth ter ficado no clube, talvez, seja uma dica...
Lourenço disse…
Só o que não tem muito valor a ser comemorado é o fato de o Roth ter assinado só até o fim deste ano. Nas últimas passagens por Grêmio e Inter, ele também tinha contrato até o fim do ano, e sempre "convenceu" a direções a renovar - e dizem: com aumento - mesmo após o Mazembe.

O que me questiono, na verdade, é se o Roth não chegou meio tarde ou se ainda dá tempo de ser vice-campeão.
Vicente Fonseca disse…
Mário, a combinação era realmente complicada, mas bater a Portuguesa não era fácil, não. Era um dos melhores times do Brasil na época. Foi, inclusive, semifinalista daquele campeonato.

Não coloco só na conta do Roth a perda do título de 2008, Sancho. Sempre fui da ideia de que o São Paulo é que ganhou o campeonato, e não o Grêmio que perdeu. Afinal, fez um bom returno, mas o tricolor paulista foi absurdo.

E concordo, o Brasileirão de 1998 foi um dos mais sensacionais que vi até hoje - se não o melhor de todos.
Zezinho disse…
Quanto a 2008, acho um baita erro dizer 'Grêmio perdeu para o São Paulo, estando 11 pontos na frente'.

O Grêmio não brigava somente com o São Paulo. Teve Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro constantemente no seu encalço. O máximo de distância que a equipe conseguiu pro segundo colocado - enquanto na liderança - foi de 6 pontos.

Entre tantos equívocos, aquele chute do Rafael Carioca, sem goleiro, lá em Camaçari, contra o Vitória, no Barradão, foi o derradeiro
Vicente Fonseca disse…
Tu tem toda a razão, Zezinho. Por isso nem falei nos 11 pontos. O Grêmio NUNCA esteve 11 pontos na frente do vice-líder, como muitos gostam de dizer. A diferença máxima foi de SEIS PONTOS para o Palmeiras, na 23ª rodada. Ainda havia, como tu bem disse, Cruzeiro e Flamengo na disputa também.

Eu até votei no Roth como melhor técnico daquele Brasileirão no Carta na Mesa final de 2008. Porque foi muito por erros dele que o Grêmio perdeu pontos no returno, mas foi muito por causa dele também que o time foi extraordinário nos primeiros 19 jogos.

Acho bom técnico. Com ressalvas, mas melhor que a grande maioria. Não gosto de enxergar o futebol só com a mística. Ela é simplificadora e maldosa.