De bom, só os problemas alheios

Os comentaristas de televisão, ao final da partida de Avellaneda, viam perspectivas promissoras para o Internacional conquistar a Recopa Sul-Americana dia 24, no Beira-Rio. Tentei entender aonde perder para um time fraco tecnicamente (que vira mediano porque é organizado e muito esforçado) é sinônimo de bons auspícios para o jogo de volta. Só encontrei dois motivos: o fato de o jogo ser em Porto Alegre e a fragilidade técnica do time de Antonio Mohamed.

O curioso da partida é que os gols foram marcados pelo time que estava sendo controlado pelo adversário. O Inter abriu o placar quando melhorava, é verdade, mas ainda assim era dominado pelo time da casa, que criou várias chances nos primeiros minutos. O Colorado, aos poucos, foi impedindo o Independiente de entrar na sua área. Marcou o 1 a 0 em excelente jogada de Nei, concluída com o oportunismo e a presença de área de um grande centroavante, Leandro Damião, em um momento onde o Independiente rondava o gol de Muriel, mas já não mais concluía.

Aí, o fantasma da bola aérea. Maxi Velázquez subiu mais que Bolívar e empatou o jogo. Mas antes de sair culpando o zagueiro, é preciso verificar a liberdade com que a bola foi cruzada para a área. Um erro imperdoável para um time que entrou basicamente pensando em se defender. E digo isso muito mais pela postura que pela escalação que Osmar Loss colocou em campo: seu 4-4-2 até funcionou razoavelmente, porque Tinga se desprendeu bastante das tarefas defensivas. Jô é que jogou longe demais de Leandro Damião, jogador que já teria uns 40 gols em 2011 se tivesse um companheiro que se aproximasse mais dele.

De qualquer modo, houve uma melhora do primeiro para o segundo tempo. O Inter ocupou mais o campo do Independiente e criou ao menos duas oportunidades de imenso perigo - uma com Damião, outra com Tinga. No entanto, foi um domínio que explicitou mais uma vez o grande problema colorado: a falta de objetividade. Porque mesmo com esse controle das ações, o número de chances foi igual ao criado pelo Independiente (duas), antes de o time argentino marcar 2 a 1. Aliás, a final da Copa Sul-Americana do ano passado foi semelhante: o Goiás dominou a maior parte do tempo, mas eram os rojos quem faziam os gols. No caso de hoje, a chiripa falou mais alto de novo, e no chute de Pérez a bola desviou na barreira e enganou Muriel.

O Inter foi para cima, Leandro Damião (de novo!) quase empatou, mas no fim das contas foi o time da casa quem teve as melhores chances para ampliar. Ou seja: não fosse pelo seu excepcional centroavante e pela medianice do adversário, o Colorado poderia ter perdido por diferença ainda maior. A tarefa no Beira-Rio não será fácil. O Independiente não é um bom time, mas é copeiro. E só cai se perder por dois gols de diferença. O Internacional precisará jogar com a postura e a objetividade que, mais uma vez, não soube ter.

Em tempo:
- Gabriel Milito repetiu o mau futebol da Copa América. Lento, pesado e pouco técnico, só parava Damião no puxão, com a complacência da arbitragem. Nas antecipações, perdeu quase todas. Tuzzio, improvisado como lateral, também sofreu com as tramas rápidas pelo lado esquerdo de ataque do Inter, mas teve melhor atuação.

- Marquinhos???

Recopa Sul-Americana 2011 - Jogo de ida
10/agosto/2011
INDEPENDIENTE 2 x INTERNACIONAL 1
Local: Libertadores de América, Avellaneda (ARG)
Árbitro: Wilmar Roldán (COL)
Público: não divulgado
Gols: Leandro Damião 36 e Maxi Velázquez 41 do 1º; Marco Pérez 27 do 2º
Cartão amarelo: Pellerano, Julián Velázquez, Bolívar e D'Alessandro
INDEPENDIENTE: Navarro (5,5), Tuzzio (6), Julián Velázquez (5), Gabriel Milito (4,5) e Maxi Velázquez (6); Fredes (5,5), Pellerano (5,5), Iván Pérez (5) (Nieva, 17 do 2º - 5,5) e Defederico (4,5) (Cabrera, 17 do 2º - 6); Nuñez (5) (Ferreyra, 29 do 2º - 5,5) e Marco Pérez (6). Técnico: Antonio Mohamed (5,5)
INTERNACIONAL: Muriel (5,5), Nei (6), Bolívar (4,5), Índio (5) e Kleber (sem nota) (Fabrício, 20 do 1º - 5); Élton (4,5), Wilson Matias (5), Tinga (5,5) e D'Alessandro (5,5) (Andrezinho, 31 do 2º - sem nota); Jô (4,5) (Marquinhos, 31 do 2º - sem nota) e Leandro Damião (6,5). Técnico: Osmar Loss (5)