Sinal amarelo para a albiceleste
ARGENTINA 1 x 1 BOLÍVIA
Tem gente por aí que não curte Copa América. Acho esse tipo de posição absolutamente incompreensível - tipo alguém achar que Celso Roth voltar uma vez mais para o Grêmio poderia ser uma boa ideia, por ex - mas vá lá, cada um com sua visão de futebol, quem sou eu para julgar? Seja como for, nem o mais rabugento detrator do certame vai poder negar que Argentina e Bolívia foi uma bela partida para abrir os trabalhos do torneio continental. Teve emoção, boas atuações individuais, superação, insinuações de zebra e um placar surpreendente. A Argentina, favorita incontestável, não deve ter curtido muito esse 1 a 1 - mas, convenhamos, acabou não fazendo por merecer muito mais do que isso.
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Quem achava que a seleção argentina seria uma espécie de reedição do futebol total à Barcelona, deve ter ficado decepcionado. De fato, o 4-3-3 de Sergio Batista lembra muito o modelo do time de Pepe Guardiola, mas faltou ao selecionado o que sobra no Barcelona campeão da Europa: movimentação. Fazendo nada surpreendentes duas linhas de marcação, a Bolívia conseguiu dificultar imensamente o trabalho ofensivo dos donos da casa, que afunilavam o jogo sem medo e acabavam trancados no ferrolho de Gustavo Quinteros. A Argentina tentava, mas não conseguia fazer seu jogo fluir - e isso foi dando confiança aos bolivianos, em especial Rojas e Moreno, que escapavam com cada vez mais volúpia em velozes contragolpes.
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Messi, grande esperança do lado albiceleste, foi discretíssimo. Só o peso absurdo de seu nome pode justificar a escolha dele como melhor jogador da partida, algo totalmente injusto e desligado do que de fato aconteceu em campo. Sejamos justos, não se omitiu do jogo e tentou inúmeras vezes as jogadas de penetração típicas de seu estilo agressivo de futebol. Mas algo não estava bem com o craque - ou talvez a sintonia com companheiros como Zanetti, Cambiasso e Lavezzi ainda precise de alguns jogos para ganhar a fluência quase mágica de Xavi e Iniesta. Certo, Milito e Mascherano estavam ao lado de Lionel Messi no gramado de La Plata - mas são justamente dois dos jogadores de menor contribuição ofensiva no Barça e dos que menos interagem com o atacante durante os jogos do time espanhol.
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O segundo tempo foi mais intenso do que o primeiro - especialmente pelo gol da Bolívia, ocorrido logo na volta dos vestiários e que incendiou de vez a partida. Diante da desagradável perspectiva de uma derrota na estreia, os argentinos passaram a pressionar, ainda que tivessem dificuldade para criar chances reais de gol. A belíssima bucha de Agüero, pegando de primeira jogada armada com o peito por Burdisso, colocou justiça nos números finais - afinal, a Argentina é muito mais time e esforçou-se para obter a igualdade. De modo geral, um belo jogo e um belo início para uma Copa América que promete ser daquelas.
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De qualquer modo, mais do que um resultado que está sendo comemorado como façanha pelos jornais bolivianos, o jogo de ontem acende a luz amarela para a albiceleste. A ideia de formatar taticamente a Argentina para que Messi tenha total liberdade não é ruim - com um craque desses no time, é quase inevitável fazê-lo. Mas tem dias, como ontem, que o craque simplesmente não aparece. E aí, como é que fica?
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