Caiu a casa

Passadas as duas coletivas, de Paulo Roberto Falcão e Roberto Siegmann, fica uma certeza: Giovanni Luigi vivia às turras com ambos. Não queria Falcão e por isso brigou com Siegmann.

O vice de futebol caiu de forma justa, por incompetência. Em pouco mais de seis meses, revogou todos os dogmas de Fernando Carvalho, o que certamente incomodava Luigi e parte da diretoria. Só que trouxe pouquíssima coisa nova positiva, quase nada. Trouxe dois bons jogadores no começo do ano (Zé Roberto e Bolatti), outro caro que fracassou (Cavenaghi) e uma série de apostas inexpressivas até o momento. Luigi discorda publicamente de sua política: indica que há dinheiro para trazer gente melhor, o que contrasta em absoluto com o discurso de Siegmann, de que não há recursos e que será necessário gastar pouco nos próximos anos.

Falcão caiu muito mais por questões político-afetivas que por incompetência. Nos jogos contra Vasco, Corinthians e São Paulo, ficou escancarado que o Inter tem time (e olhe lá), mas não grupo. Falcão não tem como mudar um jogo escalando Alex, Fabrício ou Gilberto no lugar de jogadores muito superiores, como D'Alessandro, Oscar e Leandro Damião. Sua queda, olhando pelo aspecto técnico, é uma grande injustiça. Mas não é a sequência de derrotas que o derrubou.

Como sua entrevista final deixou bem claro, Luigi nunca o quis. E Falcão, sem Siegmann o protegendo, o defendendo e o bancando, não teria condição alguma de realizar um trabalho com um mínimo de tranquilidade. Por isso, caiu. E, olhando por este prisma, era mesmo inevitável a demissão.

Caíram Falcão e Siegmann, mas Giovanni Luigi é o grande derrotado. Receberá pressão absurda da torcida pela demissão de Falcão. Será ainda mais cobrado, diante das críticas violentas feitas pelos homens que acaba de dispensar. E terá que achar um técnico e um vice de futebol rapidamente. Os meses de julho e agosto, complicados pelo calendário excessivamente pesado de jogos porque passará o Colorado, será um período de transição. Com tanto jogo seguido, uma crise tão profunda pode prolongar uma série de péssimos resultados que comprometerão demais o pouco que restou do ano no Beira-Rio. Luigi, acusado de "lento" por Siegmann, terá que ser rápido. Muito rápido.

Em tempo:
- Falcão, assim como Renato, chorou na despedida. E, assim como Renato, sai de bem com a torcida.

- Só Dunga salva. Ou não?


Comentários

Lourenço disse…
Não concordei com a vinda do Falcão, tampouco achava que o trabalho dele daria certo. Mas que demissão injusta, hein.
Igor Natusch disse…
Falcão foi muito inteligente na hora de dar adeus. Soube manter a linha, mas enfiou o dedo na cara de Luigi, deixando bem claro que sentia-se traído e que não tinha nenhuma espécie de diálogo com o presidente. Vindas de outro treinador, são declarações que talvez passassem despercebidas até; na boca de Falcão, ganham potência para balançar todas as estruturas do Beira-Rio.

A palavra "crise", utilizada sem nenhum critério por jornalistas esportivos Brasil afora, cabe perfeitamente no momento que o Internacional vive. Muito mais do que problemas dentro de campo, o colorado vive agora uma crise institucional das mais complicadas. A pressão sobre Luigi será extrema; se Paulo Odone reclamou de perseguição, é porque nem imaginava o que aconteceria do outro lado da rua, dias depois.

Não duvido que Dunga surja como nome conciliador, tentativa de substituir um ídolo com outro ídolo, supostamente mais aguerrido e com maior controle de vestiário. A questão é: funcionaria? Sinceramente, não sei.
Lourenço disse…
Dunga é um ótimo nome, inclusive, deveria ter vindo no lugar de Falcão, mas precisará de alguém de campo forte ao lado, como Falcão tinha no Julinho. Cuca também é um bom nome, e pega o Inter em situação semelhante a que pegou o Cruzeiro ano passado.
Ao contrário da maioria das vezes, em que o problema é a reposição, e não a demissão, acho que o erro do Inter é na demissão em si, não estou muito preocupado com o novo técnico.
Prestes disse…
"Cuca é um bom nome"

Respirei fundo para não xingar um integrante do Ministério Público, uhsdahudhuasdhuuhds
juca disse…
Eu não concordo com o status de ídolo colorado que recentemente tem sido atribuído ao Dunga. Na minha opinião é uma fabricação.

Ele jogou uns 2 anos quando subiu aos profissionais e depois voltou pra salvar o time do rebaixamento, pra depois ser enxotado do Beira-rio.

Foi criticado quando entrou na justiça contra o Inter, chamado de mercenário pra baixo, e quando ganhou a causa doou todo o dinheiro à caridade.
Lourenço disse…
Hehehehe mas Prestes, para o Grêmio também não achava ruim o Cuca. Desde 2007, acho que só o trabalho no Flamengo não foi bom. Falta de títulos? Isso sempre tem fim (Roth e Abel vencedores da Libertadores que o digam) e, sinceramente, não acho que o Inter e Grêmio tenham que se preocupar com isso, pois não têm time para ser campeão este ano mesmo.
Zezinho disse…
Quando vejo o Inter envolto em crises após suas maiores conquistas, lembro desse texto do Prestes, publicado no Impedimento, ainda em 2009: http://impedimento.org/2009/08/25/um-multicampeao-de-fino-trato-parte-i/

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Rudi Amin Petry disse que seu ano mais difícil no Grêmio foi em 1984, após as maiores conquistas do Tricolor. Teve que lidar com um elenco campeão, jogador querendo regalia, ser mimado, se achando o dono do espeto.

E nisso o Inter tem pecado. O Colorado tem tido dificuldades em lidar com seus elencos campeões, tem adiado a cirurgia necessária após lograr grandes vitórias.

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Em 2007, apenas 4 meses após a maior conquista do clube, a torcida se viu eliminada da primeira fase do Gauchão e da Libertadores. Algo que poderia ter sido evitado se a cirurgia fosse feita antes. Poder-se-ia chegar às finais do Gauchão, às quartas da Libertadores e manter intacta por mais tempo a aura de melhor time do Mundo.

No entanto dá-se um desconto, afinal eram conquistas colocando fim num hiato de 13 anos. Somente no segundo semestre de 2008, com a consequente conquista da Sul-Americana, ela foi realizada e ali começou a caminhada rumo ao Bi da América.

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Após o Bicampeonato e o Mazembaço, a experiência anterior e mesmo o resultado negativo do Mundial criavam um atmosfera favorável à cirurgia necessária.

A nova diretoria, que não era tão nova assim, poderia muito bem, se tivesse convicção, apostado em Falcão desde o início e remontar o time.

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Inter deveria ter negociado Lauro, Nei, Bolívar, Índio, Kléber, Guiñazú, Tinga, Wilson Mathias, Andrezinho e, quiçá, D'Alessandro. Negociou apenas Alecsandro - o mais óbvio - e Giuliano - que poderia ser poupado desse processo.

FC certa vez disse que um clube pode ser auto-sustentável (abra$$o, Greenpeace) negociando jogadores medianos por valores "pequenos". Algo até R$2 milhões, sem vender um grande jogador por R$10 milhões.

Nos primeiros anos, o Inter só conseguia o segundo: Daniel Carvalho, Nilmar. Depois, o primeiro: Tinga, Fabiano Eller, Bolívar, Rafael Sobis; e promessas, como Pato.

Atualmente o Inter poderia seguir a cartilha de FC e se livrar de vários medíocres como os citados acima. Há mercado para todos eles, seja no Brasil, Leste Europeu, Ásia ou México. Poderia desinchar a folha e montar um time a partir de Muriel, Juan, Oscar, Giuliano, Damião e alguns cascudos emergentes ou vindos de outros times.

Mas não. O Inter consegue construir uma crise enorme e ficar sem orçamenos mesmo tendo um galinheiro cheio de ovos de ouro
Lique disse…
eu vou pedir demissao do cargo de leitor do carta:

30 de maio:
"Lique deixou um novo comentário sobre a sua postagem "Rio Grande hospitaleiro":

sigo firme: falcao nao é técnico. colorado que se iludiu com toda aquela balaca dele, falando de barcelona, etc vai se dar muito mal logo ali."

hheheh