Vida longa à Libertadores

A Libertadores, meus amigos, é simplesmente a melhor competição futebolística de todo o universo. Quem não concorda com isso é um ser desprezível, um pobre coitado que não merece nenhuma espécie de crédito ou consideração. Nenhum torneio sabe ser tão emocionante, juntar tantas equipes plenas de dignidade, motivar tantas histórias de superação e tantos lances de imponderável e poesia. Cada Libertadores é uma coleção de jogos memoráveis, e cada capitão a erguer a taça tão almejada precisa estar, necessariamente, banhado em sangue e ungido pela glória. Porque La Copa, meus amigos/as, muitos miram - mas só um capitão, e apenas um, tem o privilégio de tocá-la.
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Este ano, foi Edu Dracena o homem agraciado com o direito de erguer La Copa em direção ao céu. E foi justo. Em uma Libertadores emocionante e imprevisível como há muito não se via, o vencedor acabou sendo, pura e simplesmente, o time que mais mereceu. O Santos foi muito mais do que gostam de admitir os simplistas, ainda que ostente méritos que permanecem insuspeitados aos deslumbrados que acham que futebol é uma espécie de exercício de malabares. Soube superar um mau momento no começo da competição, soube buscar bons resultados fora de casa, soube vencer por magra vantagem quando necessário, soube ir galgando rochedos rumo ao ponto culminante do futebol sulamericano. E soube jogar uma final difícil e encardida, contra um Peñarol de dignidade cada vez mais rara no mundo da bola. O Santos fez por merecer o título, em muitos sentidos - e a Libertadores 2011, definitivamente, merecia um campeão como o time da Vila.
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Quem acha que o Santos se impôs sobre o Peñarol na base da qualidade individual, entendeu da missa apenas a metade. De fato, os brasileiros, na comparação direta com os uruguaios, sobram. Mas não dá para ignorar que Muricy Ramalho montou uma equipe capaz de enfrentar os carboneros também na esfera tática. Martinuccio, o centralizador de jogadas no meio-campo uruguaio, foi totalmente anulado no jogo. Mérito, em especial, do incansável acompanhamento de Adriano, que cumpriu função sem visibilidade para a torcida, mas importantíssima na mecânica de jogo santista. Sabedor de que o Peñarol viria fechadito, o Santos fazia a bola girar, valorizava o domínio do lance, acionava constantemente as duas alas ofensivas. Não era preguiça ou falta de objetividade: era compreensão do tipo de jogo que tinha à frente e do que era necessário para vencê-lo.
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Ganso foi muito importante. Justificou-se plenamente em campo pela assistência no primeiro gol e por uma série de jogadas velozes, no raciocínio e na urdidura, durante todo o tempo em que esteve em campo. Arouca atuou de forma decisiva no primeiro gol, buscou várias vezes o lance pessoal e também merece destaque. Zé Love, por sua vez, foi lamentável, perdendo dois gols feitos no segundo tempo. Já Neymar foi o grande nome da final. Podem achar que ele é marrento (muitas vezes é), mas deve ser dito que ele joga demais - e que, especialmente no decorrer do último ano, mostra clara evolução no sentido coletivo. Chamou jogo, distribui a bola quando as portas estavam trancadas, correu muito, ajudou na marcação e até falta dura fez - uma entrada por cima da bola que, para um árbitro menos complacente, renderia bem mais do que o humilde cartão amarelo com o qual foi brindado. Merece ser lembrado como craque da Libertadores; ou terá alguém jogado mais do que ele no conjunto da competição?
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Para o Peñarol, respeito não deve faltar. Muito bem encaixado por Diego Aguirre, construiu uma história de superações Libertadores adentro, e não é porque a última delas não deu certo que as demais devem cair no esquecimento. Na hora decisiva, ressentiu-se especialmente de qualidade criativa no meio de campo - incapaz de alçar a bola na área devido à boa marcação santista, restava aos carboneros tentar aproximar-se do gol na base da troca de passes, algo que longe está de ser a principal força coletiva da equipe. Mesmo assim, conseguiu pressionar, provocou o gol contra de Durval e poderia até ter achado o empate. Chances para isso teve. Aliás, diga-se: Sergio Pezzotta deve ser filho de chocadeira para ter encerrado o jogo logo após falta a favor do Peñarol, última chance de uma alçada de bola lotérica e um possível gol sobrenatural para os uruguaios. O mundo do futebol implorava pela cobrança, e Pezzotta a negou. Deve ser um infeliz sem mãe, só pode.
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De qualquer modo, La Copa está em boas mãos. Sob o cuidado de um grupo de jogadores que há muito deixou de ser uma reunião de candidatos ao Cirque de Soleil e virou um time de verdade, com consciência coletiva, disciplina tática e comprometimento de todos (até das estrelas mais cintilantes) pela vitória. Cresceu, lutou, encarou pelejas complicadas e chegou até o final. Em uma Libertadores das mais legais que já se viu, a taça fica com o clube que mais méritos demonstrou para retê-la. Parabéns ao Santos, e parabéns à Libertadores da América, melhor torneio de clubes do planeta Terra. Liga dos Campeões da Europa, me perdoe a franqueza, mas termino o texto usando o termo técnico que tu merece: chupa.
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Fotos: Reuters e AP

Comentários

Marcus Staffen disse…
Vicente/Igor

Texto sensacional. Resume bem o que é uma Libertadores.

Abraços

Marcus Staffen
vine disse…
"Liga dos Campeões da Europa, me perdoe a franqueza, mas termino o texto usando o termo técnico que tu merece: chupa."

Se tu colocasse isso no início do texto, não leria mais nada!

SKROUNP, Liga dos Campeões da Europa (VdP rulez!)
Chico disse…
Infelizmente presciso reconhecer que gaymar é o melhor jogador da América.