Um falcão que não alça voo
CORITIBA 1x1 INTER
Paulo Roberto Falcão tem mais sorte do que juízo. Afinal, se existe um fator ao qual não seria coerente atribuir o empate do Inter contra o Coritiba, seria às escolhas tomadas por seu treinador. Aliás, corrijo-me: podemos atribuir a Falcão o empate, mas no sentido de ter sido menos do que o Inter poderia ter extraído da partida. O treinador colorado escalou mal, trocou pior ainda, manietou o próprio time, esforçou-se bastante para que a partida terminasse mal para o Internacional. Como indica o 1 a 1 no placar final, seu sucesso foi relativo, independente de qual lado queiramos valorizar nessa análise - o bom ou o ruim.
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A ideia, em si, era digna. Trancar as ações do Coritiba no meio campo, reforçando um pouco a contenção na faixa central e aproveitando para usar Glaydson como uma espécie de escudo para Nei, antecipando o combate ou fazendo cobertura aos avanços do lateral direito. Não chegou a ser um fracasso, mas acabou tendo um efeito colateral um tanto óbvio, castrando o setor ofensivo do Internacional. Era para ser algo tipo um 4-4-2 em losango, mas acabou virando uma espécie de 4-3-1-2 no qual D'Alessandro, isolado, precisa encarar sozinho o primeiro combate dos paranaenses, recebendo apenas esporádico auxílio de Glaydson - ele mesmo, como sabemos, estando longe de ser um apoiador qualificado. Tinga foi simplesmente lamentável, enquanto Guiñazu demonstrou a dedicação habitual na marcação, sem contribuir quase nada ofensivamente. Com isso, o Inter acabava cedendo o meio-campo para a articulação do Coxa, já que o combate só era feito na intermediária de defesa colorada. Resultado: mesmo sem dominação plena, o Coritiba ditava as ações, enquanto o Inter aguardava. Posição desconfortável, convenhamos.
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O gol de Glaydson era, no momento em que foi marcado, uma espécie de desafogo para o treinador colorado - afinal, ele tirou Oscar do time uma vez mais, desta vez favorecendo o voluntarioso, porém pouco talentoso meia defensivo. Nos minutos após o gol, o Inter foi melhor, jogando para a frente, adiantando a marcação e dando pinta de que poderia até ampliar. Então, o que fez Falcão? Tirou Tinga, realmente péssimo, e colocou Wilson Mathias. E o volante fez simplesmente uma das atuações mais tenebrosas que já vi, comparável ao glorioso Orteman na tragicômica derrota gremista para a Portuguesa em 2008. Errou tudo, parecia que a bola gemia a cada contato com a chuteira inepta do jogador. O Coritiba empatou - de pênalti, é verdade, mas em uma falha grotesta de Kléber, outra nulidade. Poderia ter virado. E Wilson Mathias, a seu modo, bem que tentou ajudar.
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Enquanto isso, Oscar dormitava na casamata. E nem mesmo a saída de D'Alessandro fez com que Falcão colocasse o jogador em campo: o escolhido para entrar foi Fabrício. O que nos leva a uma incontornável conclusão: na cabeça do treinador colorado, o medíocre Fabrício (que, aliás, veio para ser lateral e só jogou na meia até agora) está mais pronto do que o talentoso Oscar. Bem, não deixa de ser verdade, por um lado...
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Não dá para colocar a conta de todos os males em Paulo Roberto Falcão, é claro. Mas tampouco é possível ignorar que a partida de hoje forneceu pouquíssimos argumentos a seu favor, se é que forneceu algum. Muriel, de qualquer modo, foi o grande nome colorado, fazendo algumas centenas de boas defesas - incluindo o pênalti, ainda que tenha sido feito o gol no rebote. Mas, como bem sabemos, quando o goleiro é o principal nome do time em uma partida, há um sinal amarelo piscando em algum lugar do vestiário. Não dá para dizer que o treinador colorado está na corda bamba, mas também não dá para afirmar que o Internacional navega em águas tranquilas. Falta consistência ao Inter, e com dois meses de casa já era possível esperar mais de Falcão nesse sentido. Resta saber até quando resistirão as faixas de apoio ao treinador que adornam as arquibancadas do Beira-Rio.
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Foto: Robertson Cruz / Gazeta Press
Comentários
http://cartanamanga.blogspot.com/2008/10/anti-clmax.html
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Bom resultado do Inter. Ok, vencia o jogo, mas entrou com uma escalação criticável, contra um bom time, que ganhou 18 de 19 partidas em seu estádio. Se levarmos em conta a fraca atuação colorada e o que jogou o Coritiba, o adjetivo para o placar já vira "ótimo".
Kleber absurdamente displicente no lance do pênalti.