Shakhtar x Tottenham: confronto possível?

Samir El Hawat*

Depois de 30 dias me banhando na praia das areias mais brancas, das águas mais claras e das mais belas mulheres, o balneário Pinhal, volto ao batente com a coluna semanal sobre futebol europeu. Mesmo que já um pouco distante do fato, não poderia deixar de dar meu pitaco sobre os confrontos da Champions, especialmente sobre os jogos dos espanhóis. Os amantes do futebol sonham com um enfrentamento entre Real e Barcelona nas semifinais. Seria o jogo do século entre as duas equipes, mas, antes disso, ambos deverão passar por seus adversários, e é sobre isso que falaremos hoje.

A Liga dos Campeões da Europa caminha para as quartas de final, porém, só se fala no possível confronto entre Barcelona e Real Madrid nas semifinais. Os dois gigantes do Velho Continente podem se enfrentar, desde que ambos superem seus adversários: Shakhtar Donetsk e Tottenham, duas surpresas que, na fase anterior, eliminaram os históricos, mas atualmente irritantes, times da Roma e do Milan. Os ucranianos não apenas venceram o time romano, como os trucidaram, com duas vitórias, marcando seis gols no arqueiro Doni. Já os Spurs venceram o time de Robinho, Pato e cia à moda inglesa: vitória por diferença mínima fora de casa e um empate em Londres. Simples, mas o suficiente para passar de fase.

A reação dos jogadores do Shakhtar ao saber do enfrentamento contra o poderoso Barcelona é compreensível. Pelo que vem jogando, poderiam fazer um confronto muito parelho contra Tottenham, Schalke, Inter, Chelsea e Manchester United, os demais classificados. Porém, contra Barça ou Real Madrid, a disputa fica extremamente difícil. Os espanhóis vem jogando o melhor futebol da Europa e, se futebol fosse justo e lógico, um dos dois times levaria a taça. Mas o esporte não é justo, tampouco lógico, e é nisso que os ucranianos devem se agarrar.

Uma das armas do Donetsk, time de melhor campanha até agora na Liga, com sete vitórias em oito jogos, é o frio ucraniano. A Roma foi derrotada no Donbass Arena  com os termômetro marcando -7ºC. Mas não é apenas por aí que uma zebra pode surgir. Os ucranianos jogam em um 4-5-1 com características ofensivas, com Luiz Adriano a frente, tendo o apoio de Douglas Costa, Jadson e William, o quarteto brasileiro que vem jogando muito bem. O Shakhtar tem um bom toque de bola e, como o time catalão, faz questão de valorizar a posse, fazer com que o adversário fique o mínimo de tempo possível com a pelota. Tenho curiosidade em saber como o romeno M. Lucescu montará esse time contra o Barça. Terá coragem para seguir com a principal característica do time que é atacar? Se o treinador dos ucranianos me pedisse um conselho, admito aqui que não saberia como ajudá-lo. Vejo esse time do Barça jogar há muito tempo e ainda não sei qual é a melhor formação para enfrentá-lo. Já vi equipes que se retrancaram e foram goleados, bem como times que atacaram a turma de Messi e... também foram goleado. É o confronto das quartas que mais me seduz. Espero um grande jogo, mas não acredito em zebra.

Já no outro confronto, as chances do Tottenham surpreender o time Merengue cresce à medida que Cristiano Ronaldo pode ficar de fora da disputa. O português teve uma lesão muscular na rodada do final de semana do espanhol (vitória do Real no clássico local contra o Atlético, por 2x1) e fica parado de duas a três semanas. Evidente que o Real é muito mais do que o atacante português. Os espanhóis contam com o apoio do lateral-esquerdo Marcelo (sempre que vejo ele jogando lembro que Michel Bastos vestiu a amarelinha na Copa. Inacreditável!), com a força na marcação de Khedira e Alonso, e o poder ofensivo de Ozil, Di Maria e Benzema, que finalmente dá mostras de que acertou no time madrilenho. Porém, a ausência de um dos melhores do mundo em um momento decisivo faz a perna dos demais pesar. Além dos craques da linha, ainda há José Mourinho na casamata, e a vontade de um novo enfrentamento contra Guardiola para limpar a mancha na carreira que foi aquela goleada por 5x0 pelo campeonato espanhol. 

Do outro lado, o Tottenham, time de história que, depois de anos no limbo, volta a se destacar em uma competição internacional. Tem nas subidas de Bale (que anda de fora do time por conta de uma lesão nas costas e é dúvida para o confronto) e Lennon a sua grande arma. O volante Sandro, ex-Internacional, já adaptado,  assumiu a titularidade e jogou muito contra o Milan. A equipe é bem equilibrada e certamente exigirá demais do Real. Vou mais longe: se há espaço para a zebra na Liga nesse momento, é o Tottenham quem poderá ocupá-lo

Nos demais enfrentamentos, a Inter é a grande favorita no duelo contra os alemães do Schalke 04. Com Leonardo, o time de Milão voltou a vencer e convencer, com destaque para Eto'o. Não canso de elogiar a temporada que o camaronês vem fazendo. Destruiu com o Bayern na classificação heroica na fase anterior.  O Schalke está longe de ser uma grande equipe, mas, como se diz por aí, um time começa pelo camisa 1 e pelo camisa 9. No gol, Neuer, mais um que alemão que trilhará uma carreira fantástica. Deve ser coroado como o melhor goleiro da Champions. E, na frente, o espanhol Raul, maior artilheiro da Liga dos Campeões.

O clássico inglês fecha os confrontos das quartas de final e, como em todo clássico, não há favoritismo. O time londrino estava meio cambaleante, agora parece estar se reerguendo. Para a disputa do certame inglês não há mais tempo para pensar em título, então, todas as fichas depositadas nesse confronto. O time de Manchester lidera a disputa no nacional e é mais regular que os londrinos. Tem em Nani, no interminável Giggs e em Rooney seus destaques. Nessa disputa fico em cima do muro.


* Colaborador especial, escreve semanalmente sobre futebol europeu aqui no Carta.