A respeito de lhamas e mariposas
Não se encontrará, em nenhum quadrante da América do Sul, alguém que tenha se surpreendido um pouco que seja com a folgada vitória do Internacional sobre o Jorge Wilstermann (BOL), confortáveis e categóricos 4 a 1 na altitude de Cochabamba. Os bolivianos chegaram a ameaçar um susto, abrindo o placar com Brown logo aos sete minutos de bola rolando - mas o próprio Brown daria o tom do jogo menos de dez minutos depois, marcando o gol contra que simbolizou a reação colorada na partida. Leandro Damião, Zé Roberto e Kleber completaram o dilatado, mas nada exagerado placar.
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Durante cerca de quinze minutos, o Inter pareceu sentir não apenas os rigores da altitude, mas também a postura inicial do Jorge Wilstermann. Modestíssima em recursos, a esquadra boliviana tentou compensar seu futebol mambembe com marcação no campo colorado e cruzamentos incansáveis na área. Mais que perdidos, os jogadores do Inter estavam prostrados em campo, aturdidos, sem entender direito o que estava acontecendo. Mas o feitiço durou pouco tempo: em menos de dez minutos, o Internacional não apenas igualou as ações, como enfiou três buchas impiedosas e reverteu completamente o jogo. Até os 15 ou 16mins, o Inter parecia um lhama que passou da medida nas folhas de coca; aos 25mins, já eram os aviadores que vagavam sem rumo pelo gramado, qual mariposas tontas de tanto girar em torno de um globo de luz.
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Esse aprumar-se no jogo passou, necessariamente, pelos jogadores mais jovens. Oscar, jogando cada dia mais, não é um décimo-segundo jogador coisa nenhuma: merece, e muito, estar entre os onze titulares sempre que possível. Leandro Damião, por sua vez, merece uma nova cláusula contratual: se Celso Roth ousar sentá-lo no banco, é caso inquestionável de demissão sumária. Zé Roberto, por sua vez, multiplicou erros em jogadas de contra-golpe, em uma jornada não exatamente trágica, mas que deve ter exasperado boa parte da torcida vermelha. E não faltaram, é claro, as já rothineiras mudanças inexplicáveis de Celso Juarez - afinal, se dar um respiro para Oscar e Damião é plenamente justificável, nada explica substituir Tinga por Wilson Mathias, que se transformou praticamente em um terceiro zagueiro contra um adversário que jamais ousou um ataque sequer a partir de troca de passes. OK que a altitude justificou a diminuição da volúpia ofensiva do Inter, até para que os pulmões durassem até o fim da partida, mas segurar o resultado era plenamente dispensável - simplesmente porque, depois de construída, a vitória jamais sofreu qualquer tipo de risco.
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A situação do Inter é das mais confortáveis. Iguala em pontos o Emelec e supera o Jaguares, tendo um jogo a menos que ambos. Enfrenta dois dos próximos três jogos em casa - um deles, contra esse mesmo Jorge Wilstermann que tentou latir, mas acabou rapidamente com o rabinho entre as pernas dentro do próprio pátio. Ninguém em sã consciência duvida que o Inter terminará líder de seu grupo - e quem sabe até brigando com o inverossímil Cruzeiro (que acaba de atropelar o Tolima por 6 a 1) pela melhor campanha da primeira fase. No papel e nas potencialidades, o Inter é um dos candidatos ao título - basta usar a contento as peças que possui e tudo estará bem encaminhado. Se isso acontece ou não, é história para os próximos capítulos.
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Taça Libertadores da América 2011
16/março/2011
Fase de Grupos
JORGE WILSTERMANN 1 X 4 INTERNACIONAL
Local: Felix Capriles, Cochabamba (BOL)
Árbitro: Enrique Cáceres (PAR)
Auxiliares: Nicolás Yegros e César Franco (PAR)
Público e renda: não divulgados
Gols: Brown (JOR) aos 7mins, Brown (INT, contra) aos 16mins, Leandro Damião (INT) aos 19mins e Zé Roberto (INT) aos 24mins do primeiro tempo; Kleber (INT), aos 36mins do segundo tempo
Cartões amarelos: Lucas Fernández e Cristian Machado (JOR); Zé Roberto (INT)
JORGE WILSTERMANN: Mauro Machado (5,5); Lucas Fernández (5), Brown (5,5), Jusselio (5) e Juan Ojeda (5,5) (Nicolas Mosquera, 5); Cristian Machado (5), Víctor Melgar (5) (Amílcar Sanchez, 5), Fernandez (5,5) (Fábio Mineiro, 5) e Luis García (5,5); Jesús Toscanini (5,5) e Abregú (6). Técnico: Marcelo Neveleff (5)
INTERNACIONAL: Lauro (6); Nei (5,5), Rodrigo (5,5), Sorondo (5,5) e Kleber (6,5); Bolatti (6), Guiñazu (6,5), Tinga (6) (Wilson Matias, 5), Oscar (7,5) (Andrezinho, 6) e Zé Roberto (5); Leandro Damião (7,5) (Cavenaghi, 6). Técnico: Celso Roth (6)
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Foto: Aizar Raldes/AFP
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