Terror B
Se fôssemos tentar resumir em poucas palavras a inesperada vitória do Cruzeiro/RS sobre o Internacional, classificando-se nos pênaltis para as semifinais da Taça Piratini, talvez pudéssemos apelar para o clichê: venceu o melhor. E talvez aí esteja um bom resumo dos problemas que acometeram o Inter B - afinal, a equipe que se pretendia capaz de representar o clube no Gauchão acabou sofrendo um revés bem pouco agradável, e não pode sequer argumentar que foi vitimada por algum tipo de azar ou fatalidade metafísica. Foi uma eliminação sem base para maiores contestações, fruto de uma equipe que, mesmo tecnicamente inferior, jogou com admirável aplicação - e de um favorito que, de superior a seu adversário, teve apenas o peso da camisa.
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Na verdade, os pouco mais de 5 mil heróis que encararam o calor da tarde de sábado para ver o deserto futebolístico que foi o primeiro tempo de jogo mereciam, no mínimo, o dinheiro do ingresso de volta. O Cruzeiro teve o mérito de montar um ferrolho de alta competência, e sem violência: era uma retranca bem posicionada, com jogadores que corriam pouco, que evitavam as avançadas coloradas na base da competente ocupação de espaços. Mas o estrelado ficou por isso, já que sua intensidade ofensiva era próxima do zero. E o Internacional, facilmente submetido à marcação, resumiu-se a algumas chegadas esporádicas, sem nunca tentar impor qualquer tipo de superioridade, técnica ou tática ou qualquer que fosse. Não tinha mesmo como sair do zero a zero.
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A grande diferença entre os times, na segunda etapa, foi que um deles se corrigiu, o outro não. Enquanto o Cruzeiro resolveu arriscar-se um pouco mais, o Internacional continuou na pasmaceira que o caracterizou nos primeiros 45 minutos. O gol colorado, marcado por Ricardo Goulart, indicava uma superioridade totalmente fortuita no placar - afinal, o Cruzeiro já era mais time antes do gol, e depois dele passou a mandar desavergonhadamente na partida. Para quem não viu o jogo, talvez pareça exagero, mas é fato: na maior parte do segundo tempo, o Cruzeiro simplesmente amassou o Internacional. O empate de Diego Torres, aos 37mins do segundo tempo, até demorou a acontecer, pela quantidade de chances do Cruzeiro e pela total incapacidade colorada de impor uma resistência à reação adversária. A virada não aconteceu, basicamente, porque não deu tempo - e a vitória nos pênaltis, marcada pela curiosa disputa entre goleiros (o colorado Agenor bateu e errou, enquanto Fábio fez a defesa e o gol decisivos), fez justiça com o único time que mereceu, de fato, a classificação. As vaias que desabaram sobre o Beira-Rio assim que o último pênalti foi cobrado mostraram com clareza o tamanho da indignação colorada com a péssima atuação.
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Todos os indícios apontam para a demissão do técnico do Inter B, Enderson Moreira. De fato, a atuação foi das piores - mas fica a impressão de que, caso isso se confirme, a direção colorada estará atacando a questão pelo lado mais fácil e óbvio. Parece claro que, entre tantos problemas, o propalado planejamento colorado simplesmente não funcionou - e a questão vai muito além dos eventuais erros de um só profissional. Jogadores devem ser emprestados, outros sumariamente dispensados, em um clube que finalmente percebeu a obesidade mórbida de seu plantel e começa a tentar queimar suas gorduras localizadas. Agora, o clube terá um buraco de quase quinze dias no calendário, entre o confronto com o Jaguares (MEX) pela Libertadores e a estreia no segundo turno do Gauchão, contra o Ypiranga. Tempo, certamente, para rever muitas coisas, e tentar recolocar o Internacional nos eixos.
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Campeonato Gaúcho 2011 - Taça Piratini
Quartas de final
INTERNACIONAL 1 (4) X (5) 1 CRUZEIRO/RS
Local: Beira-Rio, Porto Alegre-RS
Árbitro: Jean Pierre Lima
Auxiliares: Marcelo Oliveira e Silva e João Lúcio Monteiro de Silva Júnior
Público: 5457 espectadores
Gols: Ricardo Goulart (INT), aos 8mins do primeiro tempo; Diego Torres (CRU), aos 37mins do segundo tempo
Cartões amarelos: Massari (INT); Alberto e Diego Torres (CRU)
INTERNACIONAL - Agenor (5); Kleber (4,5) (Milton Júnior, 5), Rodrigo Moledo (4), Romário (5) e Massari (5) (Dalton, 4,5); Juliano (4,5), Elton (5,5), Ricardo Goulart (6) (Marinho, 5), Thiago Humberto (4) e Marquinhos (4); Guto (4). Técnico: Enderson Moreira (3,5)
CRUZEIRO/RS - Fábio (7); Márcio (5,5), Léo (6), Sandro (6) e Zadda (5,5); Alberto (5,5), Almir (6), Faísca (6)(Rafael, 4) e Diego Torres (7,5) (Leo Maringá, 5); Jô (5,5) e Adriano (6) (Juninho Botelho, 5,5). Técnico: Leocir Dall'Astra (7)
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Foto: Lucas Uebel/Vipcomm
Comentários
E acho exagero colocar a culpa toda da eliminação no Inter B. Ok que era uma partida eliminatória, mas a campanha entre o time A e o time B não estavam desproporcionais na primeira fase.
2009 gremista no Beira-Rio, heim?
A culpa disso tudo é do Rei do Planejamento, respaldado pela direção. Enquanto o Inter repete as bizarrices de 2007, o Grêmio mostra que atuar com os titulares não dói.
Poupar pontualmente é uma coisa, abandonar o campeonato é outra. O problema é que esse abandono que o Inter comete não ajuda em nada na Libertadores.
Quem conhece Roth, não se surpreende.
Abraço.
Ora, qualquer um que acompanha futebol gaúcho sempre viu que o Inter B é um caminhão de dinheiro jogado fora.
O Inter nunca disse qual é a função do time B. Revelar jogadores? Negociá-los com mercados periféricos? Servir ao time profissional?
É uma granja onerosa com muitas galinhas e poucos ovos.
Entendi errado, mas sempre vi o time B como uma consequência, e não causa, do excesso de jogadores na folha.