Rumo à Libertadores 2012

Frederick Posselt Martins

Início de semana, fim das férias. Em meio à preparação psicológica para a trágica volta ao trabalho, um amigo meu (o Douglas Fanny, do blog Canelada) faz um convite dos mais tentadores:

- Vamos quinta-feira na estreia do Zeca na Copa do Brasil?

Comecei a refletir. Sempre foi um desejo assistir uma partida no Zequinha Stadium, de onde dá pra ver, da janela do apartamento, os refletores ligados em dia de jogo. Mas, em vinte anos de Porto Alegre, ainda não havia surgido uma boa oportunidade para ver o São José desfilando seu futebol em seus domínios. Pois esse era o momento perfeito: afinal, o Passo D'Areia estaria estreando seu gramado artificial FIFA (ou, talvez, FIF7), sendo o primeiro estádio de Porto Alegre a alcançar tal "façanha". Ademais, seria uma estreia em torneio nacional, contra uma equipe razoavelmente conhecida, que já havia conquistado, outrora, esse campeonato. Então, tal qual a propaganda do café, veio a pergunta: "por que não?"

Até a pé nós iremos dois quilômetros Assis Brasil abaixo (mentira, eu peguei um ônibus da Conorte). No caminho, um torcedor do Paulista caminhava tranquilamente na rua mal-iluminada, com uma bandeira enrolada no corpo, em direção ao estádio. Coisa boa ver alguém fazendo isso sem ser hostilizado por torcida adversária. Ao chegar no Gigante do 4º Distrito e me encontrar com o Fanny, rumamos para uma rua sem saída, que paradoxalmente, era a rua da entrada pro estádio. Após vinte mangos deixados na bilheteria, entramos no setor da arquibancada social passando por um corredor que deixava todo o charme de um estádio do interior gaúcho, apesar de nos encontrarmos em Porto Alegre.

Sentamos na última fileira disponível, com as cabines de transmissão atrás de nós... vazias. Apesar do jogo ter sido transmitido pela televisão secundária da afiliada da Roberto Marinho Empreendimentos, não encontramos ninguém de importante da imprensa bovina. Só no final do jogo identificamos alguém de uma rádio de Caxias do Sul, que certamente acompanhou a partida para dar informações sobre o próximo adversário grená nas meias-finais do Piratini 2011. No gramado de futsete sim, era outra coisa: as celebridades políticas despejavam toda sua retórica, todo seu lobby, todo seu charme, toda sua hipocrisia. Entre eles, o prefeito Fortunati, que só assistiu os dez minutos do primeiro tempo. Seguido dele, nas arquibancadas, Iúra, o Passarinho (o único digno que assistiu o jogo no meio do povo).

Não parava por aí: no início do cotejo, Danrlei de Deus GOLEIRO, de terno e gravata, apresentava-se para ocupar uma das cabines de transmissão para assistir a partida junto com outras celebridades irrelevantes. Em meio à sua chegada, gritos para o ex-goleiro, do tipo "Dá um autógrafo?", "me consegue um pastel e um refri?", "aumenta meu salário, Danrlei!". E por fim, no apagar das luzes daquele prélio, Giovanni Luigi, discretamente, adentrava no Passo D'Areia. Tudo isso seria pela estreia do gramado novo? Vocês sabem qual será minha resposta. E sabem que eu diria, aqui, que os sacos nas cabines que se encontravam atrás de nós foram mais puxados que a camisa do Pelé no Azteca após a partida contra a Azzurra em 70. Mas vamos deixar assim, porque ainda estamos falando de um jogo de futebol. E para ele iremos agora.

Em campo, a bola quicava rápido e levantava terra, o que fazia com que me lembrasse da infância, mais precisamente dos jogos que pinball que jogava no meu Mega Drive. Também devaneava com o Fanny sobre a possibilidade dos jogadores esfolarem os joelhos nesse tipo de gramado. Afinal, se você já cai de mau jeito numa pelada de futsete, de forma que o local injuriado fica vermelho por uma semana, imagina em uma partida valendo classificação para um campeonato nacional. Rolaria sangue no gramado?

Não exatamente, embora o futebol força tenha rolado solto – como se exige em uma partida envolvendo um representante daqui. Das seis substituições na partida, quatro foram por motivo de lesão – duas pra cada lado. Os representantes de Jundiaí vieram com uma equipe praticamente reserva (oito titulares ficaram em São Paulo), que teve sua melhor chance ainda no primeiro tempo, em uma cabeçada que só não resultou em gol porque um defensor do Zeca salvou em cima da linha. De resto, apenas alguns chutes de fora da área, todos defendidos de forma segura pelo arqueiro Thiago. Do lado azul, a defesa estava segura, e tinha no lateral direito Suelinton boas subidas pro ataque. A dupla de frente só se destacava com Xavier, o Cabañas negro (Lê só deu o passe pro gol, no resto da partida, foi detestável). E o meio campo era um eletrocardiograma que dependia do marcapasso Chiquinho. Marabá, logo cedo, se lesionou e deu lugar ao SAUDOSO Marcelo Labarthe, que foi bem, mas de forma discreta. Já Gleydson lembrava Sandro Goiano: batia, discutia, reclamava em campo, peitava jogador caído. E era tão tosco quanto.

O Paulista tomou a iniciativa nos primeiros minutos, mas foi fogo de palha: com o tempo, os comandados de Itamar Schulle equilibraram o jogo. Suelinton, em dado momento, livre dentro da área, poderia ter fuzilado o goleiro Felipe Alves, mas preferiu dar um passe para onde os atacantes azuis não se encontravam. As boas jogadas quase sempre eram pelo lado direito. Quando isso não acontecia, os escanteios e cobranças de falta de Chiquinho se destacavam. Tivesse o São José bons jogadores para a força aérea, o placar poderia ter sido mais elástico. Outro defeito foi a falta de arremates a gol dos atacantes, que mais tentavam trabalhar a bola do que concluírem a gol. Esqueceram que essa tarefa, basicamente, é dos meias.

No segundo tempo, houve mais ímpeto do Zequinha em buscar o gol, e também mais imposição física, a ponto de dois jogadores do Paulista saírem com dores na coluna e pedirem para serem substituídos por causa dos encontrões que recebiam dos gaúchos, especialmente de Gleydson. Em dado momento, o árbitro barriga-verde ainda paralisou o jogo, pois a barra nada brava (e nada inteligente) do Zeca acendeu sinalizadores em meio ao jogo, enchendo o Gigante do 4º Distrito de fumaça. Detalhe: o goleiro azul estava defendendo as metas onde a barra se encontrava, logo atrás. Finalmente, após algumas boas chances perdidas, aos 33, Lê fez boa jogada pela direita, driblou um zagueiro e cruzou para um Xavier livre, leve e solto testar de cabeça pro fundo das redes. Era o esperado gol, que tranqüilizou os torcedores para o prélio em Jundiaí.

O resultado, para o segundo jogo, é bom. Para uma estreia, também. Para a inauguração de um gramado, com a presença de celebridades políticas, nem se fala. Entrementes, o São José precisa jogar mais do que jogou ontem caso queira garantir a classificação pra próxima fase. Se o Paulista reserva soube resistir durante boa parte do jogo, fora de casa, podemos imaginar o sufoco que o titular poderá impor. Mas, se a seriedade de Itamar Schulle e dos jogadores falar mais alto, esquecendo de todo o lobby político e futebolístico feito no pré-jogo (afinal, não era só o gramado que era artificial ontem), pode-se sonhar com algo mais e manter o projeto para a classificação à Libertadores 2012, que o Fanny tanto almeja para o 4º Distrito. Afinal, com um time razoável, de gramado e estádio novo, como diria a propaganda do café: “Por que não?”

Comentários

Vicente Fonseca disse…
Sandro Goiano não era tosco. Errava poucos passes e até de vez em quando lançava. Era um tanto RUDE, mas sabia jogar também.

No mais, sensacional relato. Fiquei muito pilhado de ir nesse jogos com clima interioriano depois do que tu relatou, Fred.
Igor Natusch disse…
Ir em jogo de time "pequeno" = felicidade plena.

Sensacional, Fred.
Zezinho disse…
Tri legal, Fred!

Ano passado, eu assisti a Corinthians Paranaense x Juventude no Ecostádio Janguito Malucelli, aqui em Curitiba. Na torcida do Papo, é claro.

O clima é muito diferente. Tu conversa com o pessoal cumprimenta jogador, fala com o bandeirinha, recolhe a bola do jogo, vai no banheiro e não precisa levar mochila, guarda-chuva junto.

Nessa 5ª, eu fui na torcida do Ypiranga no jogo contra o Coxa. Essa atmosfera cordial, hospitaleira, faz com que tu te sintas parte da equipe, do jogo.

E nem é preciso se preocupar com eventuais entreveros entre torcidas