Depois da festa, a pressa

Aleandre Vidal / Fla Imagem

Igor Natusch
Pelo menos do lado de fora dos gramados, a chegada de Ronaldinho no Flamengo já deu muito certo. A recepção ao jogador conseguiu juntar cerca de 20 mil pessoas na acanhada sede flamenguista na Gávea, na tarde e uma quarta-feira, o que não é pouca coisa. Da Jaula das Gostosudas a Vagner Love, foi uma recepção bem ao gosto de Ronaldinho - movimentada, com torcida empolgada, algumas pseudocelebridades e muita festa. A toque de caixa, foram confeccionadas 60 mil camisetas "comemorativas" à chegada do craque - cuja única diferença das demais, no caso, está na substituição do distintivo da CBF por uma pequena marca adesivada dizendo "o melhor no maior do mundo". Venderá como pão quente, acreditem. A frase "Flamengo é Flamengo", pronunciada por Ronaldinho durante sua saudação ao torcedor, também deve virar mote para campanhas publicitárias que renderão algumas dezenas de milhões de reais a mais para todos os envolvidos.

A questão que fica é quando o investimento poderá começar a ser avaliado dentro do campo. Ronaldinho não chega a carregar a barriga proeminente do seu xará corintiano - ou ao menos não a exibe publicamente com a mesma falta de cuidado. Mas é evidente que ainda está longe do que se espera para um profissional, ainda mais um tão caro e que mobilizou tantos esforços para ser contratado. Na coletiva pós-apresentação (que, felizmente, deixou de ser palhaçada total e acabou com perguntas livres para a imprensa), Ronaldinho disse que "está bem" e que vai conversar com Luxemburgo. Infelizmente para ele, conversar não é exatamente o verbo a ser conjugado - o que ele precisa é trabalhar, e muito.

A emocionada Patrícia Amorim, que chegou a chorar durante a apresentação do jogador, é outra que terá que se mexer (ainda) mais nos próximos dias. O Flamengo tem craques recentemente contratados (Ronaldinho e Thiago Neves), tem alguns bons nomes que foram mantidos, mas ainda está longe de ter um time. Confiar em soluções mágicas é velha política nos lados da Gávea, com resultados bastante variáveis - se Adriano e Vagner Love foram bem sucedidos, não se pode dizer o mesmo do trio Romário-Sávio-Edmundo, por exemplo. Luxemburgo, apesar dos raquíticos resultados obtidos nos últimos tempos, ainda é treinador de respeito, mas precisará de peças. A grande estrela, ele já tem. Agora é hora de adquirir algumas engrenagens que possam garantir a energia para que ela possa brilhar. Dinheiro, pelo jeito, o Flamengo vai ter. Ou não.

Uma última consideração. A frase proferida por Ronaldinho durante a coletiva de ontem - "o Grêmio era uma boa opção" - deixa bastante claro que o clube gaúcho, no fim das contas, estava envolvido em leilão desde o primeiro momento da negociação. Apenas, por imprevidência ou excesso de confiança, demorou demais para se dar conta disso. Informações do RJ dao conta de que as negociações entre Assis e Patrícia começaram antes do Natal... De qualquer forma, a vontade de recomeçar no Olímpico nunca pesou tanto na balança quanto se quis dar a entender ou acreditar. Agora, fica até chato o atleta dizer que estava "angustiado" com a novela, e completar segundos depois afirmando que "não me envolvi, não sei de nada, deixei tudo com o meu irmão". Enfraquece o discurso, no mínimo.

Comentários

luís felipe disse…
bom texto.

receio qualquer opinião sobre Ronaldinho antes dele entrar em campo, o que deve acontecer lá por fevereiro, mas nada ainda me fez crer que ele deixou de ser o burocrata do Milan - que é um jogador comum inclusive para os padrões nacionais.

a começar pela falta de treinamentos nos últimos meses.