A corneta e a fúria
Por mais que a gente quisesse comentar apenas a partida em si (e não há dúvida de que assuntos não faltariam), é inevitável tecer algumas palavras sobre toda a confusão que marcou a primeira vitória gremista no Gauchão, 2 a 1 de virada, sobre o sempre aguerrido São José, na noite de sexta-feira. Depois de soltar o verbo em campo, exercitando os palavrões contra as sociais do estádio, Jonas foi blindado pelo clube, e só deve dar declarações a respeito no começo da próxima semana. Parte da imprensa esportiva criticou a decisão, lembrando que entramos em semana de pré-Libertadores e arrastar a crise seria um tiro no pé. Para eles, Jonas devia ter sido convencido a pedir desculpas desde já, o que é uma interpretação aceitável. Por outro lado, o risco de agravar ainda mais a tensão entre parte da torcida e o jogador que está em processo de renovação (afinal, vai saber se o atacante não tinha guardado algumas palavras de baixo calão para mais tarde) torna a decisão de não deixar o homem falar, no mínimo, compreensível.
O chato é que vamos ser forçados a ver longas análises, intermináveis discursos sobre a atitude de Jonas, e tudo isso tira o foco da partida em si - que serviu, sim senhor, para explicitar problemas do plantel gremista, às vésperas da viagem para o Uruguai. No momento, o Grêmio não tem peças suficientes para o meio-campo, tampouco tem um lateral esquerdo no qual se possa confiar. Gílson jogou pouco, indeciso entre atacar e tentar defender, não foi capaz de passar firmeza em nenhuma das tarefas que dele se espera. Não chega a dar saudades de Fábio Santos, mas é um decréscimo bastante perceptível. No meio, Maylson foi apenas modesto; Mateus Carioca, além de jogar pouco, cansou inexplicavelmente rápido para um atleta de meros 18 anos; Dener, improvisado, deu tão errado que trocou de posição menos de 20 mins depois de ter entrado em campo. O Grêmio virou o jogo não com o 4-4-2 em losango que deve aplicar em Montevideo, e sim com um 4-3-3 quase sem marcação no meio, apostando no sufoco - o que deu certo em uma partida de Gauchão, mas não parece o mais indicado para uma estreia em competição continental, fora de casa.
O São Jose, armado de forma competente por Itamar Schülle, soube conter o Grêmio, trancou todas as portas e sempre mostrou-se perigoso nos contragolpes. Como dificilmente o Liverpool adotará uma postura kamikaze contra o adversário brasileiro, a tendência é que o Grêmio enfrente dificuldades semelhantes para propor o jogo - agravadas, é claro, pelo fator local. Nesse sentido, a partida de ontem deve ter motivado várias reflexões em Renato Portaluppi - mesmo porque, além do preparo físico ainda insuficiente, as soluções à mão deram preocupantes sinais de insuficiência. Significa que o Grêmio vai tomar uma goleada no Uruguai? Provavelmente, não - afinal, o time continua sendo mais ou menos o mesmo que terminou 2010 como a melhor equipe em atividade no Brasil. Mas ficou claro que as iminentes ausências de Adilson e Lúcio pesam mais do que se esperava. E que o Grêmio fará bem em encontrar no mercado, imediatamente, uma alternativa extra para o lado esquerdo.
Mas OK, não vou ficar me fazendo: comentemos, brevemente, o caso Jonas. Evidente que a explosão de ódio do atleta não pode passar em brancas nuvens. Trata-se, no mínimo, de uma grosseria, aumenta a pressão da imprensa sobre o plantel e cria um clima de tensão totalmente desnecessário, faltando menos de uma semana para a partida de ida da pré-Libertadores. Seja lá o que estivessem gritando para Jonas, ele é um profissional do futebol, deveria estar acostumado e manter os nervos no lugar. Louve-se, de qualquer modo, a personalidade do jogador: mesmo debaixo de vaias de boa parcela do estádio, fez questão de bater a falta que resultou no gol da virada. Agora, não sejamos hipócritas: a social do Grêmio vem sendo, há tempos, o mais insuportável núcleo de chatice no Estádio Olímpico. Reclamona, implicante, crivada de corneteiros profissionais, daqueles que vaiam desafetos até quando saem da casamata para o aquecimento. São torcedores antigos, que pagam mensalidade anos a fio e merecem respeito, sem nenhuma dúvida. Mas não é de hoje que a negatividade vinda daquele setor provoca reclamações, mais ou menos veladas, entre os jogadores. Em resumo, Jonas errou, perdeu a cabeça, mas não acho que existam santos ou vítimas nessa história.
Comentários
Quanto ao Jonas, lamentável a postura dele. Estava na Social (mas que já fique claro, nunca vaio jogador ruim, imagina o Jonas) e a corneta não foi nada diferente do que sempre houve com outros jogadores e, imagino, em outros estádios. Quanto tudo parecia que ficaria bem (depois do 2º gol), ele foi chutar a bola em cima da torcida. Os próprios jogadores pareciam surpresos com a reação dele. Fiquei com uma impressão clara de que o que incomodava Jonas não era aquilo, ele deve ter entrado em campo perturbado por algo.
Para mim, o que pesa em seu favor não é se a social é corneteira ou se Jonas é goleador. Isso é irrelevante na hora da punição. Porém, é um jogador de bom comportamento, quase nunca se envolve em polêmica, o grupo gosta dele, enfim, acho que o Grêmio faz bem em dar uma punição pontual e seguir o baile, pois me parece algo extremamente fora do contexto do Jonas.
Sobre o jogo, vejo que, além dos problemas identificados pelo Igor, na meia cancha, a zaga tb esteve um tanto quanto atrapalhada. Mas, novamente, Rochemback foi espetacular!
Jogos contra o Liverpool serão mais difíceis do que o previsto e, para o restante da libertadores, se passarmos, contratações de alto nível para a lateral e meia cancha são imprescindíveis!
Durante a transmissão do jogo, creio que já no segundo tempo, o Brito perguntou ao Batista:
- Não seria melhor esse time jogar no domingo, contra o Canoas, para adquirir mais ritmo?
Ao que o Batista respondeu:
- Pelo intervalo inferior a dois dias, não. Sentirão mais cansaço do que ritmo.
E em meio a vaias, gols perdidos e passes errados, que pensei (apesar de ser meio óbvio): 'é muito insano que a terceira partida de um time no ano seja sua estreia na Libertadores'.
Realmente, com as ausências de Adílson e Lúcio, a formatação do 4-4-2 em losango não foi capaz de suprir as deficiências do time. Contra o Ypiranga, elogiei a manutenção do esquema para uma equipe reserva, de forma a dar um padrão a todos jogadores. Contudo, deveríamos ter mais alternativas, como jogadores capazes de abrir uma defesa. Mas quem disse que há tempo pra treinar?
Rochemback está jogando uma bola federal. Por diversas vezes, apareceu como homem-surpresa. E é muito bom ver um camisa 5 com qualidade no passe pra sair jogando.
Ontem, os laterais afunilaram em demasia o jogo. No losango, eles deveriam ter ido mais vezes à linha de fundo. Não comprometeram, mas visto que o Zequinha fazia um ferrolho na frente da área, embolavam ainda mais as jogadas.
Em outros veículos de comunicação, não vi citarem a fundamental participação de André Lima nos dois gols: a parede pro primeiro gol do Mestre Jonas e a falta cavada para o gol da virada.
Nenhuma surpresa: há tempos que o que é feito dentro de campo fica num segundo plano.
PS.: Igor, no começo do teu texto, tu te referiste ao Gílson, mas escreveste Gabriel =]
PS.: Rochemback na cabeça-de-área e uma linha de três à sua frente: Maylson (direita), Douglas (meio) e Pessali (esquerda).
Seria uma boa alternativa para o jogo contra o Liverpool?
Acho que a "blindagem" sobre o Jonas também é indício de algo menos pontual. Não tenho a menor condição de dizer o seja, mas não foram (só) as vaias. Contudo, ao que parece, o Jonas estava mesmo irritado com a Social. Tanto que não xingou o outro lado (mesmo que não tenha comemorado o 2. gol) e chutou a bola em direção às Sociais.
Dito isso, as coisas no clube não estão 100%. Se é grave, não sei. Se não for, uma vez classificado sobre o Liverpool, tudo deve melhorar. Vem a fase grupos da Libertadores, as finais da Taça Piratini, não haverá embolamento de datas, o Gre-Nal já terá passado, etc. Se for algo mais pesado, aí, pode se repetir o que aconteceu no ano passado...
Abraço.
Acho bem possível que a reação vá além da mera irritação com as vaias. Mas 1) as vaias foram sim preponderantes (caso não fossem, Jonas não teria focado sua fúria em um só setor) e 2) entrar na especulação sobre dificuldades de renovar contrato é exatamente isso, especulação. Nunca vi um atleta ficar furioso com a torcida porque está no meio de uma negociação contratual. Possivelmente, há um acúmulo de stress sobre o jogador (talvez com problemas particulares, dos quais pouco ou nada sabemos) que explodiu por causa de uma vaia mais forte ou de algum xingamento específico que ele tenha ouvido. De qualquer modo, não é o fim do mundo - e não pode mascarar as fraquezas, momentâneas ou não, do plantel.
Nós sabíamos que, se Douglas se lesionasse, não teríamos um articulador reserva para substitui-lo. Enfiaríamos o Souza ali e jogaríamos nas mãos do destino. Quando Roca e Vilson estavam lesionados e foram jogar contra o Flu (Roca suspenso por causa do Gre-Nal), a dupla de volantes foi Souza e Adílson. Resultado: fracasso total.
Não sei se Gílson é essa naba que estão pintando. Nos jogos que ele entrou pra jogar com Lúcio, formou uma dupla muito mais interessante do que quando o Fábio Santos estava no time. Acredito que seja a falta do companheiro adequado para tabelar na frente, como era Lúcio. Mas concordo com os amigos, precisamos de um lateral esquerdo. Gílson está em fase de testes no Gauchão, é temerário apostar nele para jogar uma Libertadores inteira. E o Bruno Collaço... Bom, deixa pra lá.
Sancho levantou a bola, vou tentar complementar. Acho que o ano tricolor começou conturbado demais. Os dirigentes já sabiam que teriam pouco dinheiro em caixa, que até os salários poderiam ficar comprometidos. Daí, apostam numa parceria com a Traffic e numa injeção de ânimo no marketing com a contratação do Ronaldinho. Os Assis sacaneiam, a Traffic sacaneia, e ambas fracassam. As contratações que Odone e AVM tentam estão soçobrando no finzinho da concretização do negócio. Some-se isso ao fato de Renato estar precisando de reforços, de a equipe estar com pouco tempo pra treinar, preparo físico insuficiente e os resultados não estarem vindo. E temos a bomba prestes a explodir.
Acredito até mesmo que a parceria com a Traffic não vingará. Estivesse encaminhada, a ambição estaria maior, o Coates voltaria a ser tentado e até Rodolfo e Gilberto Silva estariam praticamente certos aqui. Mas nada disso está acontecendo, e decerto já estão temendo um possível fracasso contra o Liverpool, pois isso custará o primeiro semestre do clube, que só terá o Gauchão pra jogar e ficará sem a grana da Liber.
Acredito que, analisando isso, estaremos na ponta do iceberg. Daí, é cavocar.
É fato que boa parte da Social é corneteira, não é de hoje. Mais corneteira que a Social, só as cadeiras locadas. É chato? Muito. Insuportável? Boa parte das vezes. Quando não vou no jogo com o Vicente e vou com outra pessoa, geralmente me pedem pra ficar mais na lateral, porque o centro se concentra grande parte dos insuportáveis, que só de ouvir já dá raiva.
Não é de hoje, também, que um jogador se desentende com a Social. Lembre-se de Grêmio x Botafogo em 2006, quando o Léo Lima fez um lance firulento e a torcida começou a vaiar. Ele xingou a mesma no microfone, mostrou os pais-de-todos na entrada do vestiário e voltou vaiado. Mas fez a jogada pro segundo gol do Rômulo, sendo aclamado por todos os outros jogadores. Mano Menezes olhou pra Social e apontou pra cabeça, claramente pedindo um pouco de compreensão com o jogador.
Não sei se foi no caso de ontem. Talvez tenha sido algo pessoal do Jonas que pesou, talvez ele tenha ouvido algo que não gostou em campo, talvez seja algo que esteja acumulando. Sempre gostei dele como jogador, tanto que, quando veio em 2007, achei que Pelaipe fizera uma bela jogada ao contratá-lo. Mas tem gente que só gosta do futebol que ele apresentou no segundo semestre do ano passado, e o classifica como um jogador burro e limitado. Ou prefere lembrar daquele gol que ele perdeu contra o Boyacá Chicó.
Pra mim, essas críticas todas pesam pro jogador, que trabalha para provar seu potencial. E não dá pra dizer, hoje, que ele não tenha: foi artilheiro do Brasileirão passado, seria em 2009 se não tivesse se lesionado. Tem um bom chute, sabe passar, é perigoso. Pra entrar numa partida de Gauchão, onde o time tá com dificuldades de furar um ferrolho, e ouvir uma vaia ou um xingamento pra mãe?
Verdade que a reação pode ter sido exagerada. Mas acho que dá, sim, pra compreender a reação dele. A gente já se irrita, quando trabalha sob pressão, por qualquer coisinha mesmo dando o melhor de si, no serviço. Imagina o jogador, que tem 90 minutos pra definir uma partida, sob o olhar de 50 mil presentes.
Isso o exime da reação? Não. Mas dá pra compreendê-lo. Perfeitamente.
P.S.: Li alguns depoimentos, e vários deles deram conta que as vaias partiram de todos os setores do estádio. Não foi uma exclusividade da Social, que é a que tem a fama.
Não tem como afirmar que a vaia aconteceu só na social/cadeiras locadas. Mas o grosso das vaias foram de lá, afirmo isso com tranquilidade.
Tem uma coisa que é fato. Jonas marcou os dois gols da virada. Quem vaiou no primeiro gol deveria ter ficado quieto no segundo gol, e ter aplaudido no final do jogo. Mas não foi isso que aconeceu.
A torcida do Grêmio anda muito nervosa, nem sempre de maneira justificada
(Vale ressaltar aqui que eu não vaio, meu protesto é o silêncio)
Quando fez o primeiro gol, toda social COMEMOROU - isso até o momento em que ele se dirigiu ao local e fez todas suas provocações (xingamentos, gestos...). Um breve momento de incredulidade foi seguido por vaias. Acredito que os demais locais do estádio nem conseguiram entender direito o que ocorria (vou bastante a jogos na arquibancada e não se consegue perceber o que ocorre quando o jogador corre pra comemorar com a social), por isso não se juntaram à revolta.
Já pensei e repensei várias coisas sobre o acontecidom e acho que a conclusão do Igor tá na linha adequada: todos erraram, bola pra frente. Mas ressalto que, se eu ganhasse mais de 100 mil por mês e estivesse prestes a renovar um contrato por quase 300 mil mensais, suportaria uma certa pressão.
Ah, vale sublinhar a adequação da entrevista do Renato no pós-jogo: tranquilo, não absolveu torcida nem jogador. Isso da imprensa querer uma entrevista do Jonas logo é seu papel: faturar em cima do fato.
E o Maylson? Algum defensor por aqui? Achei que o Dener, quando ficou de lateral, foi bem... e é impressão minha ou aquele Lins fez umas boas jogadas pela ponta-esquerda?
ps: Vicente, tu que já ressaltou o coloradismo do André Silva da Gaúcha, viu ele tomando uma ruim do famigerado Fernandão (segurança tricolor)? Bonito de se ver...
- Gílson ainda não se firmou como titular. Quando ele foi contratado, liguei pra jornalistas do Paraná e todos me falaram bem dele. Até agora, não vi nada.
Tchê, o cara jogou DUAS partidas nesse ano, com menos de 20 dias de temporada, com time incompleto e já estão colocando o cara na cruz?
Depois...
- O Grêmio tem 3 laterais-esquerdos ofensivos: Lúcio, Gílson e Collaço.
Desde quando o Collaço é um lateral ofensivo? O guri mal passa do meio-campo.
Além de que esse amor de parte da imprensa gaúcha pelo Chiquinho - e do amor desse por um pó branco - é algo que não consigo entender.
Acho que a corneta está bem além de alguns setores do Estádio
O que me preocupa no Grêmio é a falta de contratações. As atuações nem tanto. O time é o mesmo do ano passado, sabemos que pode render muito bem. Falta ritmo de jogo.
Achei o Dener bem na sexta e hoje, com o Canoas. Já tinha gostado dele no Brasileiro Sub-20 de 2009. Me parece uma aposta razoável de se fazer. E o Collaço, pelo pouquíssimo que vi em 2011, anda merecendo mais que o Gilson. Mas é MUITO CEDO pra fazer qualquer consideração. Estamos em JANEIRO.
Mário, defendi o Maylson quinta. Foi péssimo contra o Zequinha.
O problema é que o jogo com o Liverpool é em janeiro, ainda. O Grêmio vai ter que jogar minimamente bem para vencer o time uruguaio - e, a se crer nas amostras até aqui, tudo indica que teremos uma partida meio encrespada, digamos assim.