Boa morte
Nei salva de bicicleta um gol santista no primeiro tempo |
Só não foi bom para os dois times. Internacional e Santos proporcionaram um deleite para quem gosta de bom futebol. Jogo disputado em alto nível, lances de perigo, duelos particulares, todos os ingredientes. A partida encheu os olhos de quem a viu, mas o resultado só agradou a Fluminense, Corinthians e Cruzeiro, que estão na ponta de cima e dificilmente verão os dois campeões do primeiro semestre incomodar na reta final.
Uma das grandes dúvidas sobre o Inter era o posicionamento de Rafael Sobis. E mais uma vez, Celso Roth insiste em colocá-lo como meia. Um erro primário, no pensamento mágico de que repetirá Taison e as glórias de julho e agosto retornarão automaticamente. Sobis não tem a velocidade do antecessor, é um jogador de características opostas. Seu forte é proteger dos zagueiros no físico, preparar jogadas para o centroavante e concluir. É um segundo atacante, nunca um meia/ponta. É desolador vê-lo tão longe da área.
Mas mesmo que ele não tenha aparecido tanto na frente (perdeu um gol incrível na pequena área, apenas) e Alecsandro estivesse em jornada pouco inspirada, o Inter teve várias chances, pois apresentou volume de jogo. A movimentação de D’Alessandro é de enlouquecer qualquer volante ou lateral adversário. A postura colorada era boa: marcava bem os meias e Neymar, retomando a bola no campo de ataque. Entre 25 e 40 do primeiro tempo, houve grande pressão.
O Santos, que começou melhor, parou de obter contra-ataques. Quando obtinha, pecava pelo preciosismo. Foram inúmeras as vezes em que Neymar chutou em cima da marcação, por demorar demais a arrematar. Destaque obrigatório para o capitão Bolívar, melhor zagueiro da temporada no futebol brasileiro. Foi o homem do jogo, ao lado do goleiro Rafael, que evitou com que o Peixe saísse para o intervalo em desvantagem.
No segundo tempo, o Santos corrigiu a marcação e foi melhor. O Inter tinha ainda posse de bola ofensiva, mas era obrigado a apelar para os cruzamentos. Os contra-ataques paulistas eram cada vez mais perigosos. Roth tentou Edu e Andrezinho, sem sucesso. Martelotte, fisicamente idêntico a Caio Júnior, é o melhor interino de 2010. Substituiu Alan Patrick, sumidíssimo, corretamente por Marquinhos. Ganhou inteligência, visão de jogo e retenção de bola – embora o experiente meia não tenha tido uma atuação de encher os olhos, já colaborou bem mais.
O jogo era tão bom que não merecia mesmo o 0 a 0. Zé Eduardo, que cheguei a pensar que tivesse sido substituído de tão apagado que estava, mostrou a Neymar o que é um mínimo de objetividade, marcando um golaço e provocando os colorados. Leandro Damião empatou a seguir, retribuindo a “gentileza” simulando pescaria. Um temperinho a mais no jogo.
As chances de ambos chegaram a quase zero. O Inter ainda pode tentar uma vitória contra o Fluminense na quarta e sonhar com o milagre. Mas seria isso mesmo, um milagre, que daria o título a um time que já está priorizando o Mundial e que, acima de tudo, não vem jogando o suficiente para ser campeão brasileiro. O mesmo vale para o Santos, que até está em momento melhor, mas não terá fôlego de tirar 8 pontos em apenas 6 partidas. Para colorados e santistas, o título só virá com 100% de aproveitamento daqui para a frente, e todos os adversários de cima têm de fazer menos de 40%. É mais que difícil isso acontecer.
Em tempo:
- Será que Leandro Damião não vem merecendo a titularidade?
- Impossível saber se foi gol ou não. Grande salvada de Nei, a segunda neste campeonato, em mais uma falha lamentável de Renan. O péssimo árbitro, no entanto, marcou D’Alessandro claramente e ainda sonegou um pênalti de Kleber em Neymar, que poderia ter mudado a história do jogo. De todos os grandes jogos que vi ultimamente neste campeonato, talvez à exceção do Gre-Nal, todos contiveram erros graves da arbitragem.
Campeonato Brasileiro 2010 – 32ª rodada
30/outubro/2010
INTERNACIONAL 1 x SANTOS 1
Local: Beira-Rio, Porto Alegre (RS)
Árbitro: Paulo Henrique de Godoy Bezerra (SC)
Público: 29.565
Renda: R$ 459.005,00
Gols: Zé Eduardo 33 e Leandro Damião 36 do 2º
Cartão amarelo: D’Alessandro, Guiñazu, Rodriguinho e Zé Eduardo
INTERNACIONAL: Renan (5), Nei (6,5), Bolívar (7), Índio (6) e Kleber (5,5); Wilson Matias (5,5), Guiñazu (6), Rafael Sobis (5,5) (Edu, 19 do 2º - 5), Giuliano (5,5) (Andrezinho, 22 do 2º - 5) e D’Alessandro (7); Alecsandro (4,5) (Leandro Damião, 32 do 2º - 6,5). Técnico: Celso Roth (5,5)
SANTOS: Rafael (7), Pará (5,5), Edu Dracena (6), Durval (6) e Léo (5,5) (Alex Sandro, 17 do 2º - 6); Arouca (5,5) (Rodriguinho, 30 do 1º - 6), Roberto Brum (5,5), Danilo (6) e Alan Patrick (4) (Marquinhos, 14 do 2º - 5,5); Neymar (5,5) e Zé Eduardo (6). Técnico: Marcelo Martelotte (6)
Foto: Fábio Berriel/Gazeta Press.
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