Um chute na seriedade
Cheguei em casa há pouco e me deparei com a notícia. Estou até agora estupefato. A demissão de Dorival Júnior chega a beirar o inacreditável. Ao menos para mim, que acredito que o futebol brasileiro esteja cada vez mais perto da profissionalização, da seriedade – fora de campo, antes que digam que sou mal-humorado, que futebol não é para ser sério etc.
Sempre imaginei que Dorival Júnior era um dos principais culpados por todas as bizarrices extracampo que os jogadores do Santos cometiam, às quais, por sinal, recebiam vistas grossas de boa parte da opinião pública, pois os garotos deslumbravam dentro das quatro linhas. Hoje vi que estava sendo profundamente injusto. Dorival certamente teve que aguentar muita coisa a contragosto durante estes nove meses na Vila Belmiro.
É muito fácil apontar para o técnico e dizer que seu trabalho foi facilitado pela qualidade dos jogadores que dispunha. No entanto, Dorival Júnior tem um mérito inquestionável: o de montar um time extremamente jovem e ofensivo sem deixar de ser competitivo, com todos os craques jogando juntos, algo que eu duvidava que pudesse ocorrer. Mais: soube fazer deste punhado de futuros craques um time campeão paulista e da Copa do Brasil, por mais temperamentais e marrentos que fossem seus jogadores. É um técnico sério, artigo de luxo no mercado neste sentido. Não será fácil achar outro com esta capacidade de controlar a nau.
O presidente Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro chegou ao Santos garantindo que faria uma gestão diferente e revolucionária. Entretanto, acaba de jogar por água abaixo um trabalho vitorioso com a medida mais paternalista e retrógrada possível, típica dos piores momentos do futebol brasileiro: passa a mão na cabeça do jogador mimado e manda embora o técnico, que, por sinal, sempre esteve com a razão nesta história toda.
E Neymar? Terá aprendido? Certamente não. Não será recebendo a maior passada de mão na cabeça de sua curta vida que ele aprenderá o mínimo de valores que um desportista deve possuir: respeitar seus companheiros e seu comandante, pois trata-se de um esporte coletivo, e não individual. A demissão de Dorival representa, no fim das contas, a concordância da direção santista com todas as atitudes lamentáveis de Neymar no jogo com o Atlético/GO – fora tantos outros episódios já mais que conhecidos.
Fico pensando, por fim, no que a diretoria santista vai recomendar ao novo treinador antes de assinar o contrato. Imagino que será algo próximo do “aquele guri ali faz o que quiser, se não é RUA, meu amigo”. Se não for algo deste tipo, será pura hipocrisia.
Foto: Agência Estado.
Comentários
O presidente do Santos tem que saber que assumiu um baita compromisso. A partir de agora, ou ele consegue provar que esteve com razão ou joga pro alto a sua gestão.
Seja como for, perdeu a organização no futebol, prezou-se o individualismo e o egocentrismo de um projeto de craque.
Eu entendo que a direção discorde da ideia de deixar o Neymar de fora de outro jogo, por questões técnicas. Mas ninguém demitiria um técnico campeão dos dois torneios que disputou só por causa disso.
Exatamente. Como se quem discordasse de Neymar fosse automaticamente um BRUCUTU, amante dos volantes, e odeia o "futebol bonito".
Santos compromete mta coisa com essa medida...
E galo e são paulo que se matem pelo Dorival agora....
Renato podeficar no Olímpico como motivador e psicólogo. uhsuahsuhaus
Dorival é bom técnico, Faraon. Mas acho que Renato vem fazendo um bom trabalho, independente da parte psicológica e motivacional.
Felipe, acho que não é cagada não vender Neymar, embora eu reconheça que é muito arriscado. Foi uma aposta num jogador de alto potencial, que ainda pode dar certo. Claro que dificilmente haverá proposta maior financeiramente falando, mas talvez dentro de campo se justifique. Cagada MESMO é fazer o que fizeram agora, passando a mão na cabeça dele.
Senhores, temos um novo Denílson, um novo Adriano. Só que piorado...
Por isso talvez não tenha ficado tão surpresa com a notícia em si. Mas a burrice da direção é chocante, sem dúvida.
Abração!
Primeiro a defender o Santos. Talvez seja o único, já que o Armando Nogueira não está mais entre nós...