Antes tarde do que nunca

Dorival Júnior ameaçou sair do Santos ontem. Tudo porque a diretoria resolveu multar Neymar em 30% de seu salário, punição considerada branda demais pelo técnico, que queria vê-lo suspenso por 15 dias. Atitude firme? Técnico disciplinador? Talvez não seja o caso.

Júnior só chegou a este ponto porque beirou a irresponsabilidade em momentos anteriores. No auge da fantasia que o Santos do primeiro semestre destilava em gramados nacionais, justificava-se tudo. Os brilhantes Neymar e Ganso, e os medianos Madson, Zé Eduardo e Felipe cometeram todos os atos de insubordinação possíveis. Robinho, 26 anos, o maduro da turma, chegou a trocar agressões com Wesley, a ponto de quebrarem o carro um do outro, num espetáculo dantesco.

Mas tudo se justificava porque o Santos dava show. E dava mesmo. Não é questão de cerceá-los de praticar seu futebol espetacular. Isso foi um mérito de Dorival Júnior: soube montar um time cheio de jogadores brilhantes e temperamentais e ganhar títulos incontestáveis com eles. Não se pode criticar a forma como o treinador os conduziu dentro de campo. Dorival calou a boca de muita gente, inclusive a minha, quando dizíamos que o Santos era um time muito faceiro e não chegaria a lugar algum sem um pouco mais de cautela defensiva. Fez toda essa gurizada jogar o que sabe, algo que Mancini e Luxemburgo não conseguiram em 2009.

Entretanto, a cada ato de insubordinação, vinha ele constrangedoramente dizer aos microfones que estava tudo bem, que não via mal em nada daquilo, atirando no ralo sua autoridade de técnico e perdendo, aos poucos, o respeito deles próprios. Foram os xingamentos de Ganso após ter sido substituído, foram os vários pênaltis perdidos por Neymar por querer fazer golaço em vez de ser um pouco mais sério, foi o episódio Robinho x Wesley, foi o caso da webcam, foi na última quarta-feira. A avalanche crescia.

E nossa mídia, que tem razão em elogiar jovens talentos, despejava editoriais achando que nada disso era problema, que era coisa de gente mal humorada reclamar – uma “opção forçada” medíocre e patética. Não viam que a diferença de temperamento  entre Neymar e Felipe Melo (frise-se, de temperamento, antes que alguém diga que sou amante dos “brucutus” – outro termo carregado de preconceito), o vilão nacional da vez, é basicamente a idade. E que, por isso, Neymar tem conserto, pois é jovem para o futebol, enquanto Felipe Melo já jogou fora sua chance de se consagrar na seleção.

Não será mimando e aplaudindo todas as besteiras que Neymar faz fora de campo que se conserta os problemas extracampo que ele tem. Pelo contrário. Mostrar-lhe o que é certo, que é preciso ter respeito com seu comandante e com seus companheiros, é preservá-lo, no longo prazo.

Antes tarde do que nunca. Finalmente, Dorival Júnior, o Santos e a quase unanimidade da opinião pública esportiva brasileira viram o quanto estavam errados em defender os desmandos dos jovens santistas. O quanto era maléfico para eles próprios tudo isso. Ainda bem que abriram os olhos para o grave erro que cometiam. Neymar tem só 18 anos, pelo menos mais 15 de carreira para aprender e amadurecer e não virar o “monstro” que anda se dizendo por aí. O Brasil não merece que dois de seus principais jogadores para a próxima Copa do Mundo acabem sucumbindo por aplausos à suas imaturidades típicas da juventude. A culpa, se isso acontecer, seria muito mais dos que são coniventes com esta falta de postura (os quais não hesitariam em apontar para eles em 2014, em caso de fracasso) do que dos próprios garotos.

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