Um pênalti para entrar para a história
Penso sinceramente que não há muita coisa que se possa acrescentar ao sensacional post de nosso bom amigo Vicente Fonseca sobre o título da Libertadores conquistado pelo Grêmio em 1995. Basta usar a barra lateral e descer um pouquinho a página para se deleitar com um panorama jogo a jogo da maior conquista gremista nas últimas duas décadas. Mesmo assim, e mesmo sabendo que poderia estar chovendo no molhado, achei que seria interessante dar a minha humilde contribuição na comemoração dessa data tão importante para o imaginário gremista. Em um ponto que nos lembra inclusive das conquistas recentes do Internacional.
Afinal, se o colorado teve os seus heróis quase constrangidos, como nosso chapa Gabiru não se furtará de confirmar, o Imortal tem também as suas figuras de trajetória pouco lembrada, mas que brilharam forte nas duas vezes em que conquistamos a América. Em 1983 foi César. Em 1995, Alexandre Xoxó.
Lembro que aquela noite de 30 de agosto de 1995 foi bastante tensa para mim. Como quase todo o time que conquista a América, o Grêmio pode até ter feito uma boa campanha, mas esteve longe de encher os olhos naquela partida decisiva contra o Nacional de Medellín. O gol de Aristizábal saiu muito cedo, a defesa estava nervosa, o time demorava a encontrar equilíbrio emocional. Conseguíamos segurar os colombianos, mas era sempre na base do nervosismo - e eu, moleque de 15 anos recém feitos, tremia nas bases cada vez que o time de verde entrava área gremista adentro.
Menos de três anos antes, eu tive que aturar meu amado Grêmio chutando cachorro morto na Série B do brasileirão - e agora estava prestes a ver o meu time levantar a taça da América, coisa que antes eu só tinha visto pelos teipes na TV. Isso não podia escapar de nós de jeito nenhum. Simplesmente não podia. Nosso chapa Alexandre Gaúcho entrou na segunda etapa, no lugar do diabo loiro Paulo Nunes. E o reserva repetiu sua atuação decisiva em jogo contra o El Nacional (EQU), na primeira fase: entrou correndo na área colombiana, ofereceu a canela para o adversário e cavou o pênalti histórico e decisivo. OK, foi Dinho quem chutou a bola para a rede - mas foi Alexandre Xoxó quem achou o caminho em uma partida que se previa dramática até o apito final. Foi ele quem assegurou o lance capital que garantiu o título gremista. Mais um que saiu do banco de reservas para entrar para a história.
Alexandre de Ávila Vieira (meu parente distante, dado o sobrenome) surgiu para o futebol em 1990, jogando pelo Pelotas. Poucos lembram, mas levantou taça também pelo Internacional, no caso o gauchão de 1994. Mas foi como reserva do Grêmio que nosso chapa Xoxó (que aliás detestava o apelido) conquistou o grande título de sua carreira. Era uma espécie de carta na manga (perdão pelo trocadilho) de nosso professor Luiz Felipe Scolari: um cara sem tanto talento, mas bastante rápido e capaz de confundir a defesa adversária com algumas movimentações bastante surpreendentes. Foi assim que garantiu o pênalti que Arce cobrou e nos deu a primeira vitória na Libertadores de 1995, contra o El Nacional. E foi assim que se tornou herói eterno tricolor, sofrendo a penalidade e garantindo o empate em 1 a 1, mais que suficiente para o Grêmio reconquistar a América.
Hoje em dia, claro, muito mudou. O Grêmio chegou a disputar novamente a final da Liber em 2007, perdendo para o Boca Juniors, mas acabou vitimado por uma longa série de más administrações, teve que jogar segundona de novo e hoje tropeça nas próprias pernas no brasileirão. O Inter sim, que ganhou a América duas vezes - a última há menos de um mês. Nosso chapa Alexandre Xoxó saiu do Grêmio para jogar no Guarani, chegou a ganhar a Copa dos Campeões com o Flamengo em 2001, mas decaiu e sumiu do mapa de vez. Chegou a posar para a G Magazine em 2005 (essa vocês tinham esquecido, certo?) e tive a chance de vê-lo esses dias em uma partida de showbol via Sportv. Mas a imagem daquela arrancada segue firme e inesquecível na minha memória. E nesse momento de festa, onde Jardéis, Danrleis e Dinhos são lembrados com músicas e faixas pela torcida, me parece muito justo dizer: obrigado, Xoxó.
Foto: Alexandre (dir) comemora com seus companheiros a conquista da América (blog Imortal Sonho).
Comentários
inclusive, da boca dele saiu a frase histórica: "mulher de amigo meu é que nem homem: só como o c* "
por sinal, gostaria de saber alguns salários do grêmio na época. quanto ganhava dinho? arce? jardel? felipão? qual era a folha do grêmio em 1995? imagino que não passasse de 1 milhão
"... Chegou a posar para a G Magazine em 2005 (essa vocês tinham esquecido, certo?) e tive a chance de vê-lo..."
Marcelo, valeu mesmo. Fiquei muito honrado com o convite, uma grande iniciativa. Foi um grande prazer debater em alto nível com pessoas de vários lugares do País, podendo trocar informações e conhecimentos. Sempre que puder, me farei presente. Grande abraço!