O gol dos títulos - ou, um brinde a Dunga
Ontem à tarde, durante o breve trajeto entre o estúdio de rádio da Fabico onde gravamos o Carta na Mesa e a redação do Sul21, fiquei pensando sobre qual seria o grande ponto de virada do Internacional. Em que momento foi encerrado o triste ciclo de derrotas, más campanhas e administrações picaretas e onde começou o Inter vencedor, focado no futuro e disposto a encher suas estantes de taças cada vez mais valiosas? Ou, dito de outro modo: onde os anos 90 acabaram para o colorado e os anos 2000 tiveram início? Pensei um pouco e cheguei a uma conclusão - uma conclusão de gremista, bem entendido, de forma que os leitores colorados têm toda a autoridade do mundo para discordar e acrescentarem na caixa de comentários suas opiniões a esse respeito. Mas quanto mais penso, mais me convenço que o dia 12 de novembro de 1999 foi o momento em que o Inter deu uma guinada em seu destino.
O gol de Dunga, meus amigos. Foi o gol de Dunga que começou a mudar tudo.
Convenhamos: aquele 1999 foi um ano de doer para o colorado. Eliminado da Copa do Brasil com um estrondoso 4 a 0, em casa, contra o a partir dali eterno desafeto Juventude. Derrotado na final do Gauchão com direito a balãozinho de Ronaldinho sobre Dunga. Campanha de eletrocardiograma no Brasileirão, oscilando da zona do rebaixamento para a linha dos classificados e dali de novo para o abismo da segundona. Dois treinadores demitidos em sequência (Paulo Autuori e Valmir Louruz) por causa direta ou indireta de derrotas em Gre-Nal. Uma série de erros, fracassos e oscilações, culminando com a derradeira rodada, Internacional x Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, e o colorado precisando de uma vitória para fugir da Série B sem depender de resultados paralelos.
Dunga, até ali, vinha esquentando banco graças aos conhecidíssimos chiliques de Emerson Leão. Sempre fiel à sua fobia patológica de craques, Leão arranjou um jeito de brigar com Dunga e tirá-lo do time, mantendo-o fora de algumas partidas e oferecendo o assento gelado da casamata em outros. Mas a coisa estava feia demais para encarar o Palmeiras com um plantel fragilizado e sem um líder capaz de dar tranquilidade ao jogadores dentro de campo. E então, sabe-se lá se por repentina lucidez, medo do fracasso total ou por pressão de dirigentes, Leão cedeu e permitiu, na última rodada, que Dunga voltasse ao time. Jogando em cima dele, mais uma vez em sua longa vida de atleta, a responsabilidade de resolver tudo sem uma segunda chance.
E ele resolveu. Foi uma partida dramática, com várias chances de gol de lado a lado, um típico teste cardíaco para o combalido torcedor colorado. Nenhum dos times tinha motivos para pegar leve - o Inter queria fugir da degola, o Palmeiras precisava vencer para se classificar às quartas de final. O primeiro tempo arrastou-se em direção ao segundo e nada de gol, nada de alívio, nenhum passo que indicasse a salvação final. O empate era uma sentença de morte, um rebaixamento que então igualaria as estatísticas negativas de Grêmio e Internacional e lançaria os colorados em uma crise de extensão e consequências imprevisíveis.
E foi aos 36mins da segunda etapa que Celso cobrou falta da direita de ataque, alçando a bola na entrada da pequena área palmeirense. Um levantamento pouco competente, uma bola destinada a dormir mansamente nos braços de Marcos. Mas Dunga surge do nada, predestinado como sempre foi, e cabeceia a bola de peixinho para o fundo das redes. O gol salvador não só de um ano, mas de um futuro brilhante que hoje todos conhecem - mas que não era nada óbvio naquele 12 de novembro, mais de uma década atrás.
Depois do gol, a partida virou patifaria. As luzes se apagaram, numa aparente tentativa de acabar o jogo ali mesmo, e durante 20mins o Beira-Rio ficou às escuras. Antes e depois do apagão, os gandulas deram sumiço nas bolas, fazendo com que cada cobrança de lateral durasse cinco minutos para acontecer. A tensão seguia: um gol de empate seria suficiente para desabar o Inter no abismo da segundona. Já nos descontos, o atacante palmeirense Pena perde um dos gols mais feitos que minha memória afetiva consegue imaginar, sozinho com o gol à sua mercê - lembro até que cheguei a gritar "gol" na frente da TV, jovem secador que era nos meus dezenove anos de idade. Mas a bola não entrou e o Inter se safou do lodaçal, às custas de alguns cardíacos e graças ao gol heróico do ídolo Dunga. Mais um que, como tantos na história colorada, saem do banco de reservas para entrar para a história.
Menos de uma semana depois do bicampeonato da Libertadores, enquanto o Inter ainda sorri e faz brindes ao título glorioso, me parece justa a lembrança de um lance que não apenas evitou o pior, mas também abriu caminho para algo melhor. Naquele gol de Dunga decretou-se não apenas a permanência colorada na primeira divisão, como também gerou-se um sinal de alerta que, para o bem do Inter, não mais foi esquecido. Claro que não foi um processo retilíneo e uniforme, como diriam as aulas de matemática - mas foi a partir desse gol que o Inter passou a pensar com seriedade em seu futuro, em construir no presente o caminho das glórias do futuro. Caminho que se mostra acertado, como a nova e reluzente taça colorada não teria dúvidas em confirmar. Na festa da vitória, façam um brinde a Dunga, amigos colorados. Ele merece.
Foto: Dunga, o homem que mudou a trajetória do Internacional (blog Camiseta Colorada)
O gol de Dunga, meus amigos. Foi o gol de Dunga que começou a mudar tudo.
Convenhamos: aquele 1999 foi um ano de doer para o colorado. Eliminado da Copa do Brasil com um estrondoso 4 a 0, em casa, contra o a partir dali eterno desafeto Juventude. Derrotado na final do Gauchão com direito a balãozinho de Ronaldinho sobre Dunga. Campanha de eletrocardiograma no Brasileirão, oscilando da zona do rebaixamento para a linha dos classificados e dali de novo para o abismo da segundona. Dois treinadores demitidos em sequência (Paulo Autuori e Valmir Louruz) por causa direta ou indireta de derrotas em Gre-Nal. Uma série de erros, fracassos e oscilações, culminando com a derradeira rodada, Internacional x Palmeiras de Luiz Felipe Scolari, e o colorado precisando de uma vitória para fugir da Série B sem depender de resultados paralelos.
Dunga, até ali, vinha esquentando banco graças aos conhecidíssimos chiliques de Emerson Leão. Sempre fiel à sua fobia patológica de craques, Leão arranjou um jeito de brigar com Dunga e tirá-lo do time, mantendo-o fora de algumas partidas e oferecendo o assento gelado da casamata em outros. Mas a coisa estava feia demais para encarar o Palmeiras com um plantel fragilizado e sem um líder capaz de dar tranquilidade ao jogadores dentro de campo. E então, sabe-se lá se por repentina lucidez, medo do fracasso total ou por pressão de dirigentes, Leão cedeu e permitiu, na última rodada, que Dunga voltasse ao time. Jogando em cima dele, mais uma vez em sua longa vida de atleta, a responsabilidade de resolver tudo sem uma segunda chance.
E ele resolveu. Foi uma partida dramática, com várias chances de gol de lado a lado, um típico teste cardíaco para o combalido torcedor colorado. Nenhum dos times tinha motivos para pegar leve - o Inter queria fugir da degola, o Palmeiras precisava vencer para se classificar às quartas de final. O primeiro tempo arrastou-se em direção ao segundo e nada de gol, nada de alívio, nenhum passo que indicasse a salvação final. O empate era uma sentença de morte, um rebaixamento que então igualaria as estatísticas negativas de Grêmio e Internacional e lançaria os colorados em uma crise de extensão e consequências imprevisíveis.
E foi aos 36mins da segunda etapa que Celso cobrou falta da direita de ataque, alçando a bola na entrada da pequena área palmeirense. Um levantamento pouco competente, uma bola destinada a dormir mansamente nos braços de Marcos. Mas Dunga surge do nada, predestinado como sempre foi, e cabeceia a bola de peixinho para o fundo das redes. O gol salvador não só de um ano, mas de um futuro brilhante que hoje todos conhecem - mas que não era nada óbvio naquele 12 de novembro, mais de uma década atrás.
Depois do gol, a partida virou patifaria. As luzes se apagaram, numa aparente tentativa de acabar o jogo ali mesmo, e durante 20mins o Beira-Rio ficou às escuras. Antes e depois do apagão, os gandulas deram sumiço nas bolas, fazendo com que cada cobrança de lateral durasse cinco minutos para acontecer. A tensão seguia: um gol de empate seria suficiente para desabar o Inter no abismo da segundona. Já nos descontos, o atacante palmeirense Pena perde um dos gols mais feitos que minha memória afetiva consegue imaginar, sozinho com o gol à sua mercê - lembro até que cheguei a gritar "gol" na frente da TV, jovem secador que era nos meus dezenove anos de idade. Mas a bola não entrou e o Inter se safou do lodaçal, às custas de alguns cardíacos e graças ao gol heróico do ídolo Dunga. Mais um que, como tantos na história colorada, saem do banco de reservas para entrar para a história.
Menos de uma semana depois do bicampeonato da Libertadores, enquanto o Inter ainda sorri e faz brindes ao título glorioso, me parece justa a lembrança de um lance que não apenas evitou o pior, mas também abriu caminho para algo melhor. Naquele gol de Dunga decretou-se não apenas a permanência colorada na primeira divisão, como também gerou-se um sinal de alerta que, para o bem do Inter, não mais foi esquecido. Claro que não foi um processo retilíneo e uniforme, como diriam as aulas de matemática - mas foi a partir desse gol que o Inter passou a pensar com seriedade em seu futuro, em construir no presente o caminho das glórias do futuro. Caminho que se mostra acertado, como a nova e reluzente taça colorada não teria dúvidas em confirmar. Na festa da vitória, façam um brinde a Dunga, amigos colorados. Ele merece.
Foto: Dunga, o homem que mudou a trajetória do Internacional (blog Camiseta Colorada)
Comentários
P.S.: Ainda assim, em 2002, no primeiro ano de Carvalho, o clube novamente quase caiu. Salvo pela soberba gremista, ao menos, conquistou o campeonato gaúcho.
talvez um turning point importante tenham sido os jogos contra o boca em 2005, em especial o momento qndo, após ganhar por 1x0 no beira-rio, o inter empata com rafael sóbis na bombonera aos 25min do segundo tempo (e depois leva 4x1). ali, naquele momento, parecia que o inter via um "opa, é possível ganhar" em sua frente.
DINGU (VdP) seria um apelido meigo para Dunga?
Entretanto, o Klück tem razão: a gangorra só virou mesmo naquele chute de fora da área do Daniel Carvalho, que até hoje eu xingo o Polga por não ter ido firme no lance. E foi um crime, porque o primeiro tempo, como ele bem lembrou, foi um massacre.
A saber, senti mais o não rebaixamento de 2002 que o de 1999. dshshdsd
Contratou um treinador de currículo como há muito o Colorado não tinha (Autuori), e jogadores como Dunga, Elivelton, João Santos - que era destaque do camp. bras. anterior.
E, o principal, lançou o programa de sócios que é um dos grandes fatores de crescimento do Inter.
Tudo vinha dando certo, até os 4 a 0 contra o Juventude.
Que bois, o quê?! Na verdade, ele SE colocou na frente da escavadeira!
:-D
P.S.: Os grandes momentos da virada do Internacional foram o contrato com a ISL e a eleição do Obino...