A nitidez do fantasma
Souza foi um dos piores do Grêmio em mais uma derrota no Brasileirão (Lucas Uebel) |
O mais preocupante da derrota de ontem é a cara dela. Um rosto de tragédia, um gosto de decepção profunda após um bom primeiro tempo e uma segunda etapa onde o Grêmio se viu dominado, e poderia até ter perdido por maior diferença. E, claro, o gol no fim, com um a mais, em casa, no último minuto.
Renato faz questão de ver uma evolução no seu time. No primeiro tempo, sim. O Grêmio dominou a partida, marcou logo cedo. O time funcionava. Borges e Jonas estavam no jogo devido à ótima partida que fazia Douglas. Fábio Rochemback parecia o marcador de dez anos atrás, anulando Ganso com vigor. Quando, na base de sua imensa qualidade, o meia levava vantagem, lá estava Vilson, o estreante, barrando os dribles de Neymar. Por cima, salvo raras exceções, a zaga ganhava nas bolas aéreas defensivas.
No segundo tempo, tudo ruiu. Acuado na primeira etapa, o time paulista veio para cima na segunda. Dominou o jogo. Apartou o Grêmio em dois. Faltou conjunto ao Tricolor. Faltou físico. Faltou qualidade e organização para suportar a pressão. Só mesmo Victor, cada vez mais milagroso, pegou outro pênalti. Mas goleiro que se destaca quando o time perde é outro sintoma de que o tal fantasma, que estava adormecido desde 2005, pode estar voltando.
A situação é definitivamente emergencial, por mais que o elenco gremista não seja um dos quatro piores da Série A. Entretanto, o time vem sendo, sim, digno de cair. É preciso mobilização, regime de urgência. O complicado é que, ontem, tudo isso foi anunciado – e até posto em prática, pelo menos por 45 minutos. E nem assim o time voltou a vencer. Pior: perdeu, no último lance da partida.
Nas inevitáveis comparações com 2004, a grande vantagem de agora é que o elenco é muito superior ao daquele ano. O Grêmio tem de onde tirar qualidade suficiente para se livrar de uma terceira queda. O resto, tudo, se parece – ainda que num nível abaixo de seis anos atrás (indisciplina, por exemplo). Evidentemente, a situação do Inter contribui para tornar o ambiente ainda mais pesado. Naquela temporada, isso não existia.
Há tempo, há jogadores suficientes para evitar uma nova tragédia. Mas a água segue subindo, e a lama afundando. São 22 jogos para fazer, pelo menos, mais 26 pontos (o ideal seriam 30). E por mais que o discurso de brigar lá em cima tenha cessado, a realidade é que pontuar é preciso. Nem que seja de um em um ponto. O Grêmio precisa parar de perder, para depois começar a ganhar. Jogar-se para cima, no desespero, só levará a mais desespero. É um círculo vicioso – e derrotado.
Maturidade e novo esquema
Muito boa atuação do Internacional, que venceu o Avaí como se deve fazer num jogo fora de casa. Não teve medo de tomar a iniciativa, marcou seu gol cedo e administrou a vantagem sempre com a bola no pé, muitas vezes no campo inimigo, sem se fechar demais e abdicar de disputar a partida.
D’Alessandro, apesar de muitos erros de passe que geraram contra-golpes aos catarinenses, vive, visivelmente, grande fase. Prendeu a bola com maestria, ofereceu grandes passes e até arrematou em gol. Com a venda de Taison, assumirá papel ainda mais importante na criação do time. Antes, esta tarefa era dividida com o ponta esquerda. Agora, formará com Tinga um setor de articulação extremamente experiente.
Taison, aliás, foi muito bem vendido ao futebol ucraniano. O preço de R$ 17 milhões, sendo que R$ 13 milhões ficam com o Inter, é esplêndido. O momento do negócio foi perfeito: logo após o título da Libertadores, onde ele teve boa participação. Dificilmente se valorizará mais, e Carvalho e Piffero preferem não pagar para ver, dada sua irregularidade nestes dois anos como titular.
O fato é que o esquema muda, e Rafael Sobis entrará de vez no time. O Inter de Roth será um 4-4-2, e terá que se reinventar a partir da saída de sua grande novidade pós-Copa do Mundo: a reabilitação de Taison como meia-atacante aberto pela esquerda. Mudará o jeito de o time jogar, mas há jogadores e tempo suficientes para que tudo dê certo.
Título brasileiro? Ainda é muito difícil, dada a distância de 12 pontos para o Fluminense e as atuações cada vez mais sólidas do time carioca. Mas o Corinthians já está a sete pontos, com um jogo a mais realizado. Pela ótima atuação da Ressacada, o Inter prova que vai, ao menos, incomodar na ponta de cima.
Comentários
Dá até pra chegar na Libertadores.
O Grêmio não pode entrar em desespero. Mas também não pode achar que os resultados virão naturalmente. Porque não virão. Só repetindo time e parando de perder é que as vitórias voltarão.
A comparação com o momento do Inter pesa muito também. Nunca a gangorra esteve tão vermelha.
Por outro lado, quando a fase é ruim, tudo dá errado. Ontem tava se desenhando uma vitória e desanda tudo no segundo tempo. Era pro Grêmio sair com uma vitória, ou até mesmo um empatezinho heróico pra dar moral, e leva aquele gol no final do jogo.
Na situação que estamos, aceitar um ponto é ainda é melhor que arriscar 3...
Fato é que o Renato correu o risco de perder se atirando para cima em busca dos 3 pontos, como de fato perdeu. E correr riscos, agora, é mesmo uma estratégia nada recomendável. Mas o ambiente estimulava a tentativa.
Para escaparmos da degola, temos que vencer em qualquer hipótese e em qualquer lugar, apenas: Ceará (e por isso o resultado e atuação doeram tanto), Avaí, CAP (2jj), Vitória, Guarani (2jj), Grêmio/SP, CAM, Goiás e ACG. Se fizermos 4 pontos contra CAP e Guarani, e vencermos os demais, terminamos o campeonato com, no mínimo, 44 pontos.
Mas fazer dois pênaltis no mesmo jogo, sendo o primeiro completamente desnecessário, é lamentável.
Depois do MERCHÃ, digo que concordo plenamente com o foco sugerido pelo Sancho. O Grêmio precisa entender que a sua briga é para fugir da degola e se concentrar ao máximo para essas partidas específicas. Vilson estreou bem, ao menos é um alento.
O time perdeu,
A torcida calou,
O sócio sumiu,
A Brigada espancou,
E agora, Duda?
E agora, nós?
Tu que tens bom nome,
Que tens convicções
Do teu jeito reverso,
Que não ouve protestos,
E agora, Duda?
Estás sem apoio,
Perdeste o discurso,
Estás sem carinho,
Já não podes comprar,
E nem mais dispensar,
Ordenar já não pode,
O futebol já marchou,
Eder Luís não veio,
Gilberto Silva não veio,
Roger Chinelinho não veio,
Não veio a conquista,
O Gauchão enganou,
O Silas ruiu,
Meira muito errou,
E agora, Duda?
E agora, Duda?
Tua mansa palavra,
O teu fraco entusiasmo,
As tuas crenças erradas,
O teu Grêmio,
O nosso Grêmio,
Teu telhado de vidro,
Tua fraca sapiência,
Tua fraqueza – e agora?
Sem o time na mão
A salvação é Renato,
Não existe milagre;
Não queres morrer na praia,
Mas a praia secou;
Queres apoio,
Apoio não há mais.
Duda, e agora?
Se tu vencesses,
Se os resultados viessem,
Se desculpas pedisses
A torcida voltaria,
Se com Bandeira aprendesses,
Se com Obino aprendesses,
Se com Koff aprendesses…
Mas tu não aprendes,
Tu és teimoso, Duda!
Dormindo acordado
Qual menino assustado,
Sem utopia,
Sem poder ir pra Punta,
Para descansar,
Sem garantir que nos salve
Do rebaixamento iminente,
Morremos em vida, Duda!
Duda, em vida…
Quem é o nosso poeta?
Mas ao contrário do que a comparação sugere, eu nem quero criticar o Duda. Justamente, um presidente legítimo, vencedor no Conselho e no associado, não pode estar sozinho, isolado, abandonado, como dizem estar.
O time é bom na minha opinião, pelo menos era. Tínhamos uma dupla de zaga no primeiro semestre, agora não temos nenhum zagueiro confiável em condições. Temos dois atacantes goleadores, eu botaria três volantes, liberava o Gabriel e apostaria em não levar gols primeiro.
Abs,
André Soares
Futebol Alegria e Debate
www.andressoares.com