Brasileiros descobrem o Brasil

O “fico” de Neymar, mesmo que possa durar mais alguns meses apenas, é um marco. Um retrato de uma nova realidade do futebol brasileiro, onde promessas de 18 anos de idade, caso do atacante santista, ficam por mais tempo em seus clubes de origem. Desde o início das agora frustradas negociações com o Chelsea, o guri deixou claro que queria ficar. Felizmente, ficou.

Se Neymar confirmar o grande futebol que dele se espera (e que já jogou nos primeiros meses do ano), tanto ele como o Santos só tendem a ganhar. O passe pode valorizar ainda mais, o clube ganhará em marketing e tecnicamente, claro, que é e deve ser sempre o foco principal. Neymar provou que tem imenso potencial, mas ainda está claramente despreparado para jogar na Europa. Não é um jogador maduro, tem muito o que aprender. É bem mais fácil que isso aconteça no Brasil que num país completamente diferente, como a Inglaterra.

Parece evidente que o jogador teria dificuldades de adaptação. Se Robinho, que saiu do Santos na hora certa, com mais de três anos de profissional, nunca se firmou fora do Brasil, não seria Neymar, que é bem mais “verde”, que conseguiria. Certamente, em questão de poucos meses ele pediria para voltar. Na melhor das hipóteses, teria atrasado sua carreira. Na pior, pararia em um time ucraniano ou bielorrusso.

Depois de alguns anos onde os clubes pareciam perdidos com a Lei Pelé, e eram obrigados a se desfazer de suas promessas com cinco ou seis meses de profissional, a manutenção de Neymar é, sem dúvida, uma bela notícia. Dentro de campo, o Campeonato Brasileiro sempre foi de primeiro mundo. É ótimo que os jogadores, clubes e empresários tenham, enfim, percebido isso.

Gabriel

Não há no futebol brasileiro um lateral direito melhor que ele atualmente. Tem imensa qualidade técnica, é goleador, cruza bem e bate em gol. Não é um marcador. Tampouco é um jogador de fácil comportamento, mas conhece Renato Portaluppi. Já foi jogador dele no Fluminense vice-campeão da Libertadores em 2008. E quer vir, o que é importantíssimo.

Mas não foi naquele ano que Gabriel mais se destacou. Foi em 2005, quando realizou um maravilhoso Brasileirão pelo mesmo Fluminense, à época comandado por Abel Braga. Marcou 16 gols, um recorde até hoje não igualado por um lateral na maior competição do país. Aos 29 anos, Gabriel é outro jogador de alto nível que volta ao Brasil longe do ocaso da carreira. Prova de que nosso futebol anda bem, como eu dizia.

O Grêmio resolve um problema crônico de seu time. Mário Fernandes foi o melhor lateral direito do Tricolor desde Ânderson Lima, mas é um zagueiro de origem. Como está lesionado e Edilson nunca confirmou, o time da Azenha vai direto ao ponto e resolve sua deficiência. Contratações, de fato, só devem ser feitas como investimento em jovens ou para nível de titularidade, como Gabriel. O resto se acha na base, e muitas vezes é daí que saem as soluções.