A Era Muricy
Esteja aonde estiver, Telê Santana certamente está muito feliz. Um dos maiores técnicos da história do futebol brasileiro, depois de tentar duas vezes o título da Copa do Mundo no comando da seleção e não consegui-lo, está enxergando seu pupilo mais conceituado alcançar o posto que foi seu em 1982 e 1986. E num momento especial: o de formar a seleção para a Copa que aqui será realizada, daqui a quatro anos.
Muricy Ramalho muito aprendeu com Telê, ele próprio sempre faz questão de enfatizar. Foi seu auxiliar no período mais glorioso da história do São Paulo, no início dos anos 90, substituindo-o após sua saída, devido aos problemas de saúde que o vitimaram, definitivamente, em 2006. Mas há diferenças bem grandes entre o estilo dos dois treinadores, mestre e aprendiz.
Telê Santana privilegiava sem suas equipes o futebol bem jogado, o toque de bola característico brasileiro. Seus times eram extremamente disciplinados e organizados. Era um perfeccionista assumido. Formou uma seleção tecnicamente perfeita em 1982, mas que nunca corrigiu seus erros defensivos, e por isso saiu da Copa. Quatro anos depois, assumiu às pressas a nau verde-amarela, após os fracassos de Carlos Alberto Parreira e Evaristo de Macedo. A geração já não era tão brilhante, mas o time foi formado de modo coerente. Se não era possível jogar bonito de forma eficiente, organizou o sistema a partir da defesa. Sofreu um único gol em toda a campanha, mas parou no mesmo 5º lugar do Mundial anterior.
De Telê, Muricy herdou, primordialmente, a disciplina metodológica e a organização da equipe como pontos chaves. A exemplo do seu mestre, lança mão de jogadores jovens e aposta neles. Fez isso no Internacional, em 2003, e foi bem sucedido. Há grandes diferenças no modo de pensar o jogo, porém. Muricy é bem mais pragmático. Vencer é o principal; se der, joga-se bem; se não der, paciência (justamente o inverso de Telê). Muitas vezes é teimoso, demora a mexer na equipe e prende-se muito a esquemas táticos. Mas é um homem coerente, até demais; tem o pulso firme para comandar uma renovação; não cairá nos confetes sobre dar espetáculo acima de tudo; ao mesmo tempo em que não terá medo de promover a entrada de jovens valores na equipe, pode fazê-los render em prol do time, principalmente.
Foi uma boa escolha da CBF. E, poeticamente, uma terceira chance para que Telê Santana, mesmo que bem indiretamente, ganhe sua Copa do Mundo. Claro, Muricy é bem diferente de Telê, em algumas concepções representa o oposto. Não estamos entrando na III Era Telê, mas, simplesmente, na Era Muricy, um treinador que já tem luz própria há muito tempo, um recordista (único a ganhar três Brasileiros consecutivos), estudioso, grande profissional. Mas, certamente, Muricy lembrará dos ensinamentos e renderá as devidas homenagens a seu mestre caso chegue lá. Se não cometer os mesmos erros que Telê cometeu no passado, há boas chances de que tudo dê certo.
Comentários
É verdade, a grande desculpa do "carta e domingo" não vai mais existir.
Brincadeiras à parte, boa escolha. Sem ranço e dedicação, a vida não tem graça.
http://esportes.terra.com.br/futebol/brasil2014/noticias/0,,OI4582280-EI10545,00-Acho+impossivel+o+Flu+me+liberar+diz+Muricy.html
Será?