Uma discussão inadiável
Menos mal que Joseph Blatter, presidente da FIFA, é um homem de juízo, ainda que tardio. Depois da desastrada coletiva de segunda-feira, quando o porta-voz Nicolas Maingot só aumentou a polêmica com suas tentativas de fugir do assunto, eis que o homem forte do futebol mundial sentiu o cutuco e manifestou-se publicamente sobre os polêmicos erros de arbitragem em Alemanha x Inglaterra e México x Argentina, jogos do último domingo. Disse ter pedido pessoalmente desculpas aos chefes de delegação de México e Inglaterra, os times prejudicados da vez, e prometeu reconsiderar a até aqui polêmica postura da FIFA quanto ao uso de tecnologia para esclarecer lances difíceis em partidas decisivas.
Faz muito bem, nosso chapa Blatter. Independente de nos posicionarmos contra ou a favor do uso de meios eletrônicos para auxiliar a arbitragem, o fato é que simplesmente não dá para fazer de conta que o problema não existe, ou vestir a proverbial máscara de madeira e dizer "estamos acima disso tudo", "o futebol é um esporte diferenciado" e outras coisas do tipo. O acontecido no último jogo de domingo, em especial, tornou extremamente urgente a retomada dessa discussão. Enquanto o telão se "enganava" e mostrava a reprise do lance onde Tevez estava claramente impedido, o árbitro Roberto Rossini e o auxiliar Stefano Ayroldi viam-se diante de um inusitado dilema: voltar atrás, fazendo justiça ao lance, ou ignorar solenemente o próprio e agora evidente equívoco, errando de novo em nome das recomendações da FIFA? Escolheram a segunda opção, e confirmaram o primeiro gol argentino. Uma decisão que pode ter sido correta em termos institucionais, mas que provocou justa e inevitável revolta não apenas aos mexicanos, mas também no mundo inteiro.
Muitos argumentos podem ser usados contra a adoção de recursos eletrônicos em decisões de arbitragem no futebol. Inclusive, é muito justo dizer que ambos os erros cometidos no domingo são mais individuais do que exatamente pela dificuldade dos lances - afinal, deu para ver na hora que o chute de Lampard tinha entrado, do mesmo modo que era muito clara a situação de impedimento de Tevez no gol da Argentina. A FIFA fez uma opção por árbitros consagrados ao invés de simplesmente chamar os melhores apitadores, e os erros cometidos testemunham o equívoco desta conservadora decisão. Da mesma forma, estaria condenado ao ridículo um esporte no qual o mais importante dos árbitros seria o quarto, sentado do lado do monitor de TV, bipando incessantemente os juízes de campo com avisos do tipo essa bola não chegou a sair ou fulano deu um tapinha nas nádegas de beltrano. Um esporte de multidões como o futebol não pode ficar refém de câmeras e sensores eletrônicos, e nisso creio que todos concordamos.
Dito isso, creio que a discussão de alternativas é inevitável. Não dá para simplesmente ignorar o momento em que vivemos - e a verdade é que a própria FIFA sabe disso, já que tem projetos do tipo dormindo há meses nas mesas dos figurões da entidade. É difícil compreender a lógica que permite esportes como basquete e tênis adotarem aos poucos o uso de chips na bola de jogo, detectando quando ela ultrapassa os limites do campo de jogo, e não ter sequer previsão de usar algo semelhante no futebol. Uma coisa do tipo teria confirmado de forma rápida e indolor o gol de Lampard, por exemplo - e sem nenhuma polêmica. A ideia defendida por alguns de um uso limitado do replay, permitindo aos técnicos solicitá-lo em no máximo dois lances por tempo de jogo, é outra medida que não precisa necessariamente ser adotada, mas cuja discussão não pode mais esperar. Sob pena de nos tornarmos, como bem apontou um jornalista inglês na infeliz coletiva de Nicolas Maingot, "a piada do esporte mundial".
Foto: Joseph Blatter é forçado a voltar atrás e discutir recursos eletrônicos nas arbitragens (Divulgação/Fifa).
Faz muito bem, nosso chapa Blatter. Independente de nos posicionarmos contra ou a favor do uso de meios eletrônicos para auxiliar a arbitragem, o fato é que simplesmente não dá para fazer de conta que o problema não existe, ou vestir a proverbial máscara de madeira e dizer "estamos acima disso tudo", "o futebol é um esporte diferenciado" e outras coisas do tipo. O acontecido no último jogo de domingo, em especial, tornou extremamente urgente a retomada dessa discussão. Enquanto o telão se "enganava" e mostrava a reprise do lance onde Tevez estava claramente impedido, o árbitro Roberto Rossini e o auxiliar Stefano Ayroldi viam-se diante de um inusitado dilema: voltar atrás, fazendo justiça ao lance, ou ignorar solenemente o próprio e agora evidente equívoco, errando de novo em nome das recomendações da FIFA? Escolheram a segunda opção, e confirmaram o primeiro gol argentino. Uma decisão que pode ter sido correta em termos institucionais, mas que provocou justa e inevitável revolta não apenas aos mexicanos, mas também no mundo inteiro.
Muitos argumentos podem ser usados contra a adoção de recursos eletrônicos em decisões de arbitragem no futebol. Inclusive, é muito justo dizer que ambos os erros cometidos no domingo são mais individuais do que exatamente pela dificuldade dos lances - afinal, deu para ver na hora que o chute de Lampard tinha entrado, do mesmo modo que era muito clara a situação de impedimento de Tevez no gol da Argentina. A FIFA fez uma opção por árbitros consagrados ao invés de simplesmente chamar os melhores apitadores, e os erros cometidos testemunham o equívoco desta conservadora decisão. Da mesma forma, estaria condenado ao ridículo um esporte no qual o mais importante dos árbitros seria o quarto, sentado do lado do monitor de TV, bipando incessantemente os juízes de campo com avisos do tipo essa bola não chegou a sair ou fulano deu um tapinha nas nádegas de beltrano. Um esporte de multidões como o futebol não pode ficar refém de câmeras e sensores eletrônicos, e nisso creio que todos concordamos.
Dito isso, creio que a discussão de alternativas é inevitável. Não dá para simplesmente ignorar o momento em que vivemos - e a verdade é que a própria FIFA sabe disso, já que tem projetos do tipo dormindo há meses nas mesas dos figurões da entidade. É difícil compreender a lógica que permite esportes como basquete e tênis adotarem aos poucos o uso de chips na bola de jogo, detectando quando ela ultrapassa os limites do campo de jogo, e não ter sequer previsão de usar algo semelhante no futebol. Uma coisa do tipo teria confirmado de forma rápida e indolor o gol de Lampard, por exemplo - e sem nenhuma polêmica. A ideia defendida por alguns de um uso limitado do replay, permitindo aos técnicos solicitá-lo em no máximo dois lances por tempo de jogo, é outra medida que não precisa necessariamente ser adotada, mas cuja discussão não pode mais esperar. Sob pena de nos tornarmos, como bem apontou um jornalista inglês na infeliz coletiva de Nicolas Maingot, "a piada do esporte mundial".
Foto: Joseph Blatter é forçado a voltar atrás e discutir recursos eletrônicos nas arbitragens (Divulgação/Fifa).
Comentários
Pra impedimento é impossível. Ficar esperando juizes olharem um televisor para comemorar ou não um gol mataria o futebol.
Imaginem só a cena, o atacante estufa a rede e o estádio permanece calado. Aí o árbitro dá o veredicto o estádio explode em emoção (?).
Quanto a impedimentos, fecho com o Prestes. Parar o jogo para ver replay a toda hora simplesmente não dá, futebol é um esporte contínuo, não fragmentado. Inclusive, é muitas vezes impossível determinar se foi ou não impedimento mesmo com câmera congelando e tudo mais. Fora que se o cara pega um milésimo de segundo depois do passe já pode alterar a posição ou não de impedimento de seu companheiro. Complica muito.
Independentemente do que os entendidos acham ou não correto, temo que a FIFA e seus principais MEMBROS, entendidos e adoradores de futebol que só eles, criem regras estúpidas e um tanto inconvenientes.
Veremos como vai se resolver...
PS: Villa, na foto do gol contra Portugal, parece a máscara do filme Pânico!