"Um jogo de três anos e meio"
Assim Dunga definiu o jogo de hoje contra o Chile. De fato, a frase é muito feliz e válida em todos os sentidos. Não apenas por ter sido o sexto jogo dele contra os chilenos, e a sexta vitória por larga margem, mas também pelo próprio sentido em que Dunga a empregou. Foi a vitória de um time consolidado, respaldado por resultados sólidos obtidos nestes quase quatro anos do treinador à frente da seleção.
Felipe Melo e Elano foram os desfalques. O primeiro não fez falta: foi muito bem substituído por Ramires, que fez partida de grande intensidade, tanto na marcação como no apoio aos homens de frente. O golaço de Robinho foi quase todo dele, numa arrancada que lembrou os grandes tempos de Cruzeiro, onde nos acostumamos a vê-lo jogar. Estava, quem sabe, garantindo um lugar no time para enfrentar a Holanda. Mas uma cartão amarelo completamente tolo e desnecessário o retirou do jogaço de sexta, que deve promover a volta do antigo titular. Mesmo que Kleberson tenha entrado hoje, duvido que comece jogando. Está há tempos sem atuar. Até Josué tem mais chances, caso Dunga tenha desistido de Felipe.
Elano, ao contrário, segue titularíssimo. Daniel Alves teve duas chances no meio-campo e não confirmou, ao contrário do que eu esperava antes mesmo da Copa. Carrega muito a bola, não dá fluidez ao jogo como deveria. Não chegou a jogar mal, mas acrescenta ao time bem menos que o ex-meia do Santos. E não tem confirmado na bola parada, uma de suas evidentes e mais cantadas virtudes.
O jogo acabou sendo decidido em contra-ataques e bola parada, como se supunha. Bielsa é um grande técnico, mas simplesmente não sabe (ou não quer) armar um time que comece pela defesa. Tentou jogar de igual para igual com os canarinhos mais uma vez, e de novo se deu mal. Não foi uma atuação de todo ruim, porém. González fez um primeiro tempo apagado, é verdade, mas Valdívia entrou até bem no segundo. Suazo fez um par de grandes jogadas que mereciam o gol. O Chile foi aquilo que se esperava, tudo conforme o previsto: tinha time para passar de fase, mas pegar o Brasil deveria ser o fim da linha, como foi. Prevaleceu-se de seu muito bom ataque, mas pagou pelas fragilidades defensivas.
A goleada mostra o que parecia óbvio, mas que muitos não enxergam por exigirem sempre o máximo do Brasil em todos os jogos de Copas: o empate com Portugal foi completamente artificial, num jogo claramente disputado em marcha mais lenta. A seleção vem fazendo uma boa Copa do Mundo, está crescendo. Hoje goleou, com bela atuação, a melhor até agora, contra um time que foi batido pela Espanha por um golzinho só de diferença. Claro que há problemas. Quando enfrenta um adversário fechado, e não foi o caso de hoje, a equipe pena. Isto vem desde o início desta Era Dunga. Mas quando encaixa o contra-golpe e aproxima Kaká, Robinho e Luís Fabiano, o Brasil é mortal. E isto também vem desde 2006. Afinal, não foi mesmo uma vitória de três anos e meio?
A Holanda, de novo
Como em 1974, de muita pancadaria e lembranças de uma laranja azeda. Mas como 1994 e 1998, de gosto doce, de Branco, Romário, Ronaldo e Taffarel. É um clássico de Copas, dos melhores e mais atraentes.
A Holanda de 2010 é um time que tem tido muita posse de bola. Contra o Japão, beirou os 70%. Para um Brasil que contra-ataca, ótimo. E a seleção cresce contra gente grande. Mas é jogo de iguais, e não há como apontar favoritos. O fato é que o vencedor entra como favorito na semifinal, seja contra Uruguai ou Gana.
Alguns duelos já estão sendo previstos por muitos: Michel Bastos x Robben é o que mais preocupa. Eu teria mais receio de um Felipe Melo x Sneijder.
Pelo que mostraram na Copa até o momento, apostaria minhas fichas no Brasil. Mas repito, é duelo de iguais. A Holanda não tem empolgado – o Brasil teve atuações melhores – mas é tão eficiente quanto a seleção.
Em tempo:
- Outra boa partida de Gilberto Silva, um dos mais regulares jogadores brasileiros na África do Sul.
- Juan e Lúcio foram monstruosos. O capitão é o melhor jogador do Brasil neste Mundial até agora. É simplesmente impossível um companheiro não se envolver no jogo quando o vê arrancando lá de trás e disputando cada bola como se fosse a última. Mito.
- Michel Bastos hoje teve ótima atuação no apoio.
Foto: Luís Fabiano, Robinho e Kaká se entenderam muito bem na goleada contra o Chile, melhor atuação do Brasil na Copa (Reinaldo Marques/Terra).
Comentários
De resto, achei Juan ainda melhor que o Lúcio hoje. Além do gol, nada passava por ele. Ainda tá faltando a clássica EMBOCADURA pro Kaká, mas a coisa tá evoluindo.
Decisão por pênaltis na sexta não parece improvável...
Juan e Lúcio é a melhor dupla zaga do mundo no momento.
Acho que qualquer resultado sexta é possível, são times muito parelhos.
Achei q o Daniel Alves foi bem hoje, Professor.
E foi uma pena o cartão do Ramires...
mas não deu nem pro começo, pros chilenos. só golaço do brasil. agora o negócio é pra valer!
Michel Bastos, para o meu gosto, tá bem razoável durante a Copa de modo geral. Não encheu os olhos nunca, mas tem feito o seu serviço com dignidade. Hoje foi isso: bem no apoio, meia-boca na marcação, o mesmo de sempre e basicamente o que podemos esperar dele sempre.
Pelas peças que levou, o Bielsa nem poderia ter jogado muito diferente do que jogou. O Chile foi até onde poderia, dentro das possibilidades que seus jogadores ofereciam e da concepção de futebol do treinador. Tivesse peças para se posicionar com mais cautela (e um técnico disposto a usá-las com esse objetivo) poderia ter imposto maiores dificuldades.
Brasil tá forte, amigos. Não entremos no chororô que se vê por aí, nem na amargura dos que ainda acham que Dunga = retrancão. Brasil tá bem, jogando um futebol de qualidade, e vem forte para o título. Perderá na semifinal para o Uruguai, mas enfim =P
As coisas se inverteram: eu defendia ele antes da Copa, e o Prestes defendia o Elano. dshdsh
Mas hoje achei q o Daniel Alves foi mto bem por ali e já dá pra não sentir muita falta se o Elano não puder voltar.
Quem poderia virar titular seria o Ramires. Que quando jogava aqui era o melhor jogador em atividade no país, e é mto subestimado pela mídia que só quer estrelas na seleção.
Natusch disse tudo ali, não é retrancão. Se os dois últimos gols do Brasil não são futebol-arte, não sei o que é isso.