Que seja para ficar
A Coreia do Sul foi o time que mais trabalho deu ao Uruguai nesta Copa do Mundo. Foi tinhosa, tem jogadores rápidos e habilidosos no avanço ao ataque. Mesmo assim, não foi suficiente para parar a melhor Celeste em Copas nos últimos 40 anos. A banda oriental, quando se propôs a jogar, foi sempre melhor. Poderia ter definido ainda no primeiro tempo o resultado, não fossem dois erros de arbitragem que lhe deceparam um gol certo de Suarez e um pênalti claro do zagueiro asiático.
Foi um excelente primeiro tempo do time de Tabarez. Apesar de os coreanos não fazerem má partida, o Uruguai era extremamente consciente e superior taticamente. Lugano e Godín foram simplesmente monstruosos e não perderem uma bola sequer, seja no combate direto por baixo ou nas bolas aéreas. Após o gol de Suarez, em falha terrível do goleiro, o time se defendia muito bem e ainda contra-atacava com perigo. O segundo gol estava desenhado, mas não veio – seja por culpa da arbitragem ou por erros dos próprios atacantes.
No segundo, sem Godín (um problema físico desta Copa), o Uruguai retraiu-se cedo demais. Na verdade, foram os coreanos que empurraram a Celeste para o campo de defesa, mas o fato é que a equipe de Tabarez aceitou muito fácil a pressão. Park Ji-sung era um verdadeiro demônio com arrancadas em alta velocidade, o atacante Park Chu-yong e o lateral Young-pyo repetiam os bons desempenhos das partidas anteriores. E o empate saiu no primeiro erro coletivo da defesa charrua em toda Copa , com Lugano e Muslera lembrando, ainda que de longe, Dida e Aldair em Atlanta’96.
Foi nos minutos seguintes ao gol coreano que se viu a força do Uruguai, tanto psicologicamente quanto na questão técnica. Em vez de se abater com o empate, a Celeste se impôs de novo e passou a ocupar o campo coreano. E Suarez, depois de perder dois gols em que o melhor seria servir um companheiro mais bem colocado, mostrou porque confia demais em seu arremate: marcou um dos golaços da Copa, com grande visão e categoria. Era a classificação às quartas, que não vinha desde 1970.
Antes da Copa, sabia-se que o Uruguai tinha um ataque com grande potencial e uma defesa razoavelmente segura. Faltava a meia-cancha. Pois não apenas a defesa tem sido a melhor deste Mundial como o ataque anda correspondendo às expectativas. E o meio, antigo problema, foi solucionado com muita destreza pelo seu treinador, que ao recuar Forlán tornou seu time muito mais agressivo, sem com isso perder em combatividade. Hoje , Pérez foi um leão na cabeça-de-área, enquanto Álvaro Pereira e Arévalo Rios voltaram a combater e subir ao ataque com dinamismo. Por isso, Tabarez é o melhor técnico desta Copa do Mundo até o momento. Fez do limão uruguaio uma limonada que está entre as oito melhores do planeta.
Há alguns anos tenho a ideia de que os resultados da seleção uruguaia são piores que a qualidade do seu time. A pior fase da história da Celeste, segunda metade dos anos 90, felizmente passou. As equipes de base costumam ir bem nos campeonatos da categoria, mas faltava a equipe principal voltar a fazer uma grande Copa do Mundo. Com um treinador que conseguiu fazer os bons jogadores virarem um ótimo time, vem finalmente realizando-a. A Coreia só valorizou a classificação. Vem crescendo muito o futebol no extremo oriente.
E para os mais novos, advirto: muito mais absurdo que ver o Uruguai chegar entre os oito melhores do mundo é vê-lo de fora desta condição nos últimos 40 anos. Felizmente, está de volta. E que seja para ficar.
Foto: Suarez, o homem que pôs o Uruguai de volta entre os oito melhores do mundo, 40 anos depois (AP).
Comentários
Muito boa a análise, o Tabarez acertou muito o time mesmo. Só achei a defesa meio claudicante hoje, atribuo ao nervosismo.
Também fiquei puto com os dois lances do Suarez, depois ele calou nossa boca mostrando pq é fominha.
Suárez, herói da partida.
Eu não gosto do Alvaro Pereira. Em compensaçao o Diego Perez jogou uma enormidade