Procuram-se articuladores
Passada a primeira fase, a tendência verificada nas últimas temporadas europeias se confirma nos gramados da África do Sul. Esta é a Copa do 4-5-1 que vira 4-3-3, dos laterais que sobem pouco e dos articuladores cada vez mais raros. Nada revolucionário, mas que mostra uma tendência de que o 4-4-2 desdobrável em 4-2-2-2 já não é preferência mundial como nas últimas décadas.
Há exceções, claro. Alguns atuam no 4-4-2 mais clássico (caso do Brasil), outros preferem encher o time com cinco zagueiros (Coreia do Norte), alguns poucos ainda adotam o esquema com três defensores (Nova Zelândia, Argélia). Mas a maioria vem utilizando o esquema híbrido, que funciona como 4-3-3 ou 4-5-1 dependendo da circunstância do jogo (normalmente, três avante quando ataca e apenas um quando defende), da qualidade técnica, da força do adversário, da estratégia de momento ou da característica dos jogadores disponíveis.
Abaixo, uma breve avaliação a respeito de como cada equipe tem jogado e variado de esquema ao longo dos jogos. Notem que apenas Alemanha, Holanda, Chile e Espanha possuem um camisa 10 autêntico, que dita o ritmo do time nas partidas.
URUGUAI
Começou num 3-5-2 com dois volantes, mas teve de mudar devido à pouca agressividade ofensiva. Forlán foi recuado do ataque para a meia e virou um meia-atacante valiosíssimo, aproximando-se dos dois homens de frente (Cavani e Suarez). Dos laterais, apenas Álvaro Pereira sobe, o que dá a Oscar Tabarez muitas alternativas: postá-lo como meia, como lateral-esquerdo típico (o que obrigaria segurar mais os volantes) ou ala, no caso da volta a um 3-5-2. Com Fucile do lado direito, alcançou o equilíbrio entre marcação e apoio.
MÉXICO
Atua num 4-3-3 clássico, com Giovanni dos Santos e Vela funcionando como pontas que ajudam a marcação, mas sempre com postura de atacantes. O equilíbrio defensivo é alcançado através de uma linha de quatro onde os laterais não avançam muito, Rafa Márquez como cão de guarda à frente da área e facilitado por outros dois volantes que sabem jogar como meias, pela excelente saída de bola (Guardado e Torrado). A questão é saber se Javier Aguirre manterá este modo ousado de atuar diante da Argentina.
ARGENTINA
Verón pode ser a figura que anda faltando neste Mundial: o meia que para, pensa o jogo, cadencia e lança, que citei no primeiro parágrafo. Mas a Argentina não joga para ele; joga para Messi, um meia-atacante que atua muito próximo de Higuaín e Tevez, com características diametralmente opostas a La Brujita.
Os problemas defensivos na Argentina ainda não foram resolvidos. Maradona começou a Copa com Di Maria ao lado de Verón e a frente de Mascherano, mas o time sofreu com a Nigéria. Com Maxi Rodríguez, aumenta a segurança. Os laterais Gutiérrez e Heinze atuam como zagueiros pelo lado da defesa, sem avançar. Mesmo assim, a defesa ainda vaza por erros individuais.
INGLATERRA
Lampard e Gerrard são excelentes meias, mas não têm atuado por ali. No primeiro jogo, foram volantes. Dado o fracasso de ambos por ali, Capello resolveu adiantá-los um pouco. Lampard tem atuado numa segunda linha do meio, ao lado do craque do Liverpool, mas nenhum dos dois tem feito uma boa Copa. Apesar do Campeonato Inglês ser o berço do 4-3-3 moderno, a seleção prefere um 4-4-2, com apoio dos laterais e contribuição de todos na marcação do meio.
ESTADOS UNIDOS
Atua num 4-4-2 com os volantes centralizados e os meias bem abertos: Donovan pela direita, Dempsey pela esquerda. Ambos contribuem muito na marcação, bem como os atacantes. Como o time se transforma quase num 4-2-4 quando contra-ataca, os laterais pouco sobem, em nome do equilíbrio defensivo. É um dos times mais bem treinados da Copa.
ALEMANHA
Um dos esquemas mais ousados da Copa, apesar de ter apenas um atacante de ofício, Klose. São 3 meias (Podolski pela esquerda, Özil centralizado e Müller pela direita) de forte chegada ao ataque e movimentação. Dos dois volantes, um é quase um ponta de origem, Schweinsteiger, que mesmo assim tem ido muito bem. Não bastasse isso, Lahm é um lateral que apoia com imensa qualidade, além de defender muito bem. A figura de Özil é a do meia que dita o ritmo do jogo, fator que fez a diferença para os alemães nas vitórias contra Austrália e Gana.
GANA
Faz justamente o contrário do que se espera do futebol africano: defende-se muito e ataca se der. Apenas Gyan é atacante, embora Tagoe e Andre Ayew cheguem fortes em contra-golpes. Os dois laterais quase não sobem. Essien, lesionado, faz muita falta. Era uma saída de jogo qualificadíssima, além de um imenso poder de marcação. Com ele, haveria possibilidade de ousar mais, optando por jogadores mais ofensivos.
HOLANDA
Não tão faceira como em outras Copas , a Holanda opta por um 4-3-3 com dois volantes, Sneijder centralizando todo o jogo e dois pontas que participam demais da marcação, especialmente Kuyt, pela direita. Os laterais também são bastante conservadores. Com a entrada de Robben, a opção deve ser pela saída de Van der Vaart, substituição já efetuada na vitória contra Camarões, com a manutenção do esquema tático.
ITÁLIA
O maior fiasco da história italiana em Copas se deu, coincidência ou não, no momento em que a Azurra abandonou suas convicções defensivas. Apostou num 4-3-3 torto, muitas vezes com dois centroavantes, um deles improvisado na ponta. Foi a tentativa de melhorar a pobre produção ofensiva – o que não só acabou não ocorrendo como ainda comprometeu lá atrás.
PARAGUAI
Uma das seleções mais abertas da Copa. Joga com três atacantes natos, um volante fixo e dois meias que marcam muito – Riveros e Vera. Os laterais não sobem muito, somente esporadicamente Morel Rodríguez se arrisca pela esquerda. Mesmo assim, sofreu apenas um gol na primeira fase.
BRASIL
Aposta no clássico 4-4-2 com dois volantes, um meia que participa da marcação, um meia colado no ataque e dois atacantes. Robinho auxilia na marcação à saída de bola adversária, condição necessária para que os laterais, especialmente Maicon, possam subir bastante. É o time com maior participação ofensiva dos laterais, como manda a escola nacional. Opções como Júlio Baptista, Daniel Alves e Ramires podem mudar o jeito de jogar da equipe.
CHILE
Um dos raros times que possui dois articuladores (Fernández e Valdívia), mas eles nem sempre atuam juntos. O ex-camisa 10 do Palmeiras costuma entrar no decorrer dos jogos para auxiliar a criação, o que causa a saída de um dos pontas, Beausejour ou Sánchez, mantendo o centroavante Suazo no ataque. Apesar da ofensividade, garantida também pelo apoio dos laterais, tem uma das melhores defesas da Copa até agora.
ESPANHA
Xavi é o centro de tudo no meio-campo. Atrás dele atuam Fabregas, que volta aos poucos ao ritmo de jogo e ajuda o ataque, e Xabi Alonso, excelente marcador. Iniesta, seu lado, é um meia-atacante de forte conclusão. Como Sérgio Ramos e Capdevila apoiam muito, o time é muito ofensivo. Há, ainda, Pedro, Silva e Navas como opções, além dos titularíssimos Torres e Villa. Assusta pelo ataque, mas a zaga falha. A proteção dos volantes é fundamental, e tem sido bem feita nos últimos anos, o que garante os grandes resultados desta seleção.
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