Equlíbrio pouco alvissareiro
Para uma partida se arrastar sem gols rumo às cobranças de pênalti, é evidente que algum tipo de equilíbrio - positivo ou negativo - se estabeleceu entre as equipes envolvidas. E não há dúvida de que o confronto entre Paraguai e Japão, que acabou classificando os paraguaios para uma inédita disputa de quartas de final em Copa do Mundo, foi um confronto dos mais equilibrados. Meio arrastado às vezes, relativamente pobre em soluções, mas ainda assim uma disputa marcada pela igualdade - e que só podia ser decidida como acabou sendo, onze metros de distância e a bola na marca da cal.
As duas equipes se anularam mutuamente durante todo o jogo, embora na verdade não tenham sido iguais. O Paraguai jogou muito mais com a bola no pé, explorando jogadas pelo meio, tentando abrir espaços para a força ofensiva de seus jogadores. A ideia de Gerardo Martino era robustecer o meio, garantindo um maior municiamento dos atacantes ao mesmo tempo que protegia melhor a própria zaga. Mas o Japão marcou bem, anulou as opções da albirroja, e foi relativamente mais eficiente quando tinha o domínio da bola. O time de Takeshi Okada chegou mais vezes ao gol do que o Paraguai, e com perigo consideravelmente maior. Aos 21mins do primeiro tempo, Matsui respondeu uma longa articulação ofensiva guarani, defendida por Kawashima, com um potente chute no travessão de Villar. Eis um bom resumo do primeiro tempo de jogo: o Paraguai mais insinuante, rondando a área adversária, mas os nipônicos jogando com força e criando situações mais concretas e perigosas.
No segundo tempo, porém, a coisa meio que degringolou. Os albirrojos voltaram mais cautelosos, sentindo que numa dessas o Japão podia acertar um chute kamikaze e liquidar a fatura. E os orientais exercitaram sua proverbial paciência e ficaram ali, quietinhos atrás da linha da bola, esperando e esperando e esperando sem parar. As chances de gol escassearam, resumidas a alguns balões e chuveirinhos paraguaios, neutralizados sem maiores apuros pela boa dupla de zaga japonesa. Dá para dizer sem medo de errar que o segundo tempo dessa partida entre Paraguai e Japão foi um dos mais modorrentos de toda a Copa - e certamente o mais chato de todas as oitavas, já que é ruim de acreditar que Espanha x Portugal seja capaz de alcançar tais níveis de sonolência improdutiva. O cochilo de Platini nas tribunas de honra foi totalmente compreensível, dadas as circunstâncias...
Foi a partir da prorrogação que a emoção resolveu dar de fato uma passada pelo Loftus Versfeld de Pretória. O Paraguai, já tendo retomado em definitivo seu tradicional esquema de 3 atacantes, veio com uma volúpia ofensiva renovada, e partiu para cima dos nipônicos em uma rápida sucessão de boas jogadas de ataque. O Japão, mais contido, insistia com paciência de monge em esperar espaços inexistentes de contra ataque, apostando vez que outra em algum levantamento ou bola parada para dar um suadouro em Villar. Apesar dessa sensível melhora anímica, nem nipônicos nem guaranis conseguiram balançar as redes, deixando a decisão para a eterna pseudo-loteria dos pênaltis.
E se os japas foram eficientes no exercício milenar da paciência, acabaram tropeçando na hora de resgatar outros aspectos importantes da sua cultura. Desconcentrado, Komano chutou forte, mas sem sabedoria e precisão. A bola explodiu no travessão, e esse acabou sendo o único erro de uma decisão de penalidades tão equilibrada quanto o jogo em si. A última cobrança, de Cardozo, selou a classificação paraguaia com um chute tranquilo, apostando muito mais no jeito do que na força ou na energia. Uma classificação justa, considerando a campanha dos guaranis, mas que veio em uma partida difícil e de pouco brilhantismo de lado a lado.
Seja como for, fica a impressão de que o Paraguai venceu, mas carece de fôlego para ir muito mais adiante. O Japão, que atuou muito bem na fase classificatória, optou por jogar de forma pragmática. o que somado a uma mudança tática meio fora de hora acabou manietando muito do potencial dos albirrojos. É uma seleção voluntariosa, dedicada, de bons valores individuais, certamente a melhor que o Paraguai já teve em sua história. Mas pareceu, julgando pelo que jogou hoje, que não vai ter fôlego para muito mais do que já conseguiu - que já não é pouca coisa, diga-se de passagem. A manutenção de Valdez no time, sacado para dar lugar ao apagado Benitez, pode ser um passo no sentido de retomar o potencial paraguaio em uma semifinal que promete ser das mais renhidas.
Aos japoneses, fica a dignidade de uma campanha respeitável, a melhoria visível de seu futebol e o potencial para um crescimento ainda maior nos próximos quatro anos. Para o espectador de hoje, de qualquer modo, a sensação é de que a partida podia ter rendido consideravelmente mais, e que tivemos que esperar literalmente um jogo inteiro para que se justificasse a audiência diante da TV.
Fotos: Komano mergulha em desespero e solidão ao errar pênalti decisivo (AFP); e a dividida entre Honda e Ortigoza mostra a pujança técnica que permeou toda a partida (Reuters).
As duas equipes se anularam mutuamente durante todo o jogo, embora na verdade não tenham sido iguais. O Paraguai jogou muito mais com a bola no pé, explorando jogadas pelo meio, tentando abrir espaços para a força ofensiva de seus jogadores. A ideia de Gerardo Martino era robustecer o meio, garantindo um maior municiamento dos atacantes ao mesmo tempo que protegia melhor a própria zaga. Mas o Japão marcou bem, anulou as opções da albirroja, e foi relativamente mais eficiente quando tinha o domínio da bola. O time de Takeshi Okada chegou mais vezes ao gol do que o Paraguai, e com perigo consideravelmente maior. Aos 21mins do primeiro tempo, Matsui respondeu uma longa articulação ofensiva guarani, defendida por Kawashima, com um potente chute no travessão de Villar. Eis um bom resumo do primeiro tempo de jogo: o Paraguai mais insinuante, rondando a área adversária, mas os nipônicos jogando com força e criando situações mais concretas e perigosas.
No segundo tempo, porém, a coisa meio que degringolou. Os albirrojos voltaram mais cautelosos, sentindo que numa dessas o Japão podia acertar um chute kamikaze e liquidar a fatura. E os orientais exercitaram sua proverbial paciência e ficaram ali, quietinhos atrás da linha da bola, esperando e esperando e esperando sem parar. As chances de gol escassearam, resumidas a alguns balões e chuveirinhos paraguaios, neutralizados sem maiores apuros pela boa dupla de zaga japonesa. Dá para dizer sem medo de errar que o segundo tempo dessa partida entre Paraguai e Japão foi um dos mais modorrentos de toda a Copa - e certamente o mais chato de todas as oitavas, já que é ruim de acreditar que Espanha x Portugal seja capaz de alcançar tais níveis de sonolência improdutiva. O cochilo de Platini nas tribunas de honra foi totalmente compreensível, dadas as circunstâncias...
Foi a partir da prorrogação que a emoção resolveu dar de fato uma passada pelo Loftus Versfeld de Pretória. O Paraguai, já tendo retomado em definitivo seu tradicional esquema de 3 atacantes, veio com uma volúpia ofensiva renovada, e partiu para cima dos nipônicos em uma rápida sucessão de boas jogadas de ataque. O Japão, mais contido, insistia com paciência de monge em esperar espaços inexistentes de contra ataque, apostando vez que outra em algum levantamento ou bola parada para dar um suadouro em Villar. Apesar dessa sensível melhora anímica, nem nipônicos nem guaranis conseguiram balançar as redes, deixando a decisão para a eterna pseudo-loteria dos pênaltis.
E se os japas foram eficientes no exercício milenar da paciência, acabaram tropeçando na hora de resgatar outros aspectos importantes da sua cultura. Desconcentrado, Komano chutou forte, mas sem sabedoria e precisão. A bola explodiu no travessão, e esse acabou sendo o único erro de uma decisão de penalidades tão equilibrada quanto o jogo em si. A última cobrança, de Cardozo, selou a classificação paraguaia com um chute tranquilo, apostando muito mais no jeito do que na força ou na energia. Uma classificação justa, considerando a campanha dos guaranis, mas que veio em uma partida difícil e de pouco brilhantismo de lado a lado.
Seja como for, fica a impressão de que o Paraguai venceu, mas carece de fôlego para ir muito mais adiante. O Japão, que atuou muito bem na fase classificatória, optou por jogar de forma pragmática. o que somado a uma mudança tática meio fora de hora acabou manietando muito do potencial dos albirrojos. É uma seleção voluntariosa, dedicada, de bons valores individuais, certamente a melhor que o Paraguai já teve em sua história. Mas pareceu, julgando pelo que jogou hoje, que não vai ter fôlego para muito mais do que já conseguiu - que já não é pouca coisa, diga-se de passagem. A manutenção de Valdez no time, sacado para dar lugar ao apagado Benitez, pode ser um passo no sentido de retomar o potencial paraguaio em uma semifinal que promete ser das mais renhidas.
Aos japoneses, fica a dignidade de uma campanha respeitável, a melhoria visível de seu futebol e o potencial para um crescimento ainda maior nos próximos quatro anos. Para o espectador de hoje, de qualquer modo, a sensação é de que a partida podia ter rendido consideravelmente mais, e que tivemos que esperar literalmente um jogo inteiro para que se justificasse a audiência diante da TV.
Fotos: Komano mergulha em desespero e solidão ao errar pênalti decisivo (AFP); e a dividida entre Honda e Ortigoza mostra a pujança técnica que permeou toda a partida (Reuters).
Comentários
Sério, agora. Concordo: acho que quem passasse cairia diante de Portugal ou Espanha. No caso, nossos vizinhos paraguaios, que já fizeram em 2010 sua melhor Copa de todas.
O time guarani carece muito de técnica para jogar em espaço reduzido como o que lhe oferecia o Japão. O Paraguai é um time de força, velocidade, chutes de fora, cabeçadas.
Aliás, técnica não faltava aos japoneses. Acho q também é o melhor Japão da história.
Juntasse os pontos fortes de Japão e Paraguai daria um timaço.
Contra a Espanha evidentemente o favoritismo é espanhol. Contra Portugal acho extremamente parelho, favoritismo leve lusitano.