Grupo F: três dúvidas e um saco de pancadas

Um olhar menos apurado ao Grupo F poderia levar a algumas certezas fáceis como achar que a Itália ponteará a chave com tranquilidade e que, contra as desconhecidas Nova Zelândia e Eslováquia, o Paraguai deve conseguir a segunda vaga. Entretanto, há algumas dúvidas para as quais só teremos resposta definitiva quando o certame começar, mas que tentarei abordar aqui. A começar pela Azzura. Veremos na Copa um time envelhecido ou renovado? A atual campeã irá se impor no grupo ou terá mais um tradicional início claudicante? E o Paraguai, como se comportará sem Cabañas? Vai conseguir manter o nível de atuação que tem desempenhado no seu continente, ou vai afinar como costumam fazer os países sul-americanos (que não Brasil e Argentina) em Copas do Mundo? Quanto à Eslováquia, será mais uma equipe europeia que segue o clichê do futebol sem criatividade e defensivo? A ver. Itália Muitos têm acusado Marcelo Lippi de levar para a África do Sul uma seleção envelhecida. O próprio técnico - que pode igualar o conterrâneo Vitorio Pozzo, único bicampeão de Copa do Mundo como treinador – admitiu que a experiência internacional foi um dos principais critérios para a convocação Mas se é verdade que Lippi convoca jogadores que já não estão no seu auge, como Cannavarro, Gattuso, Zambrotta e Pirlo, também é certo que entre os 28 convocados que treinam na Itália, apenas nove estiveram na Alemanha. E alguns dos principais protagonistas da conquista ficaram de fora da lista, como Totti, Del Piero e Fabio Grosso. Jogadores que eram jovens em 2006 devem ganhar mais destaque, como De Rossi e Gillardino. Deixando Totti, Del Piero, Cassano e Luca Toni de fora, a maior renovação deve se dar no ataque. Não propriamente pela idade dos jogadores, já que Iaquinta tem 30 anos e Di Natale, artilheiro do último campeonato italiano, 32. Segundo Eduardo Cecconi, estes dois podem compor o ataque pelos lados, com Gillardino centralizado. Pirlo e De Rossi jogariam como volantes, com um meia a sua frente, que pode ser Pepe, Cossu ou Palombo, formando um 4-3-3, ou um 4-2-3-1. Mas é difícil prever a escalação italiana. Grosso foi o lateral-esquerdo titular durante toda a fase eliminatória e acabou nem indo ao Mundial. A equipe também utilizou muito o 4-4-2, com Camoranesi no meio-campo ao lado de Pirlo, De Rossi e um meia mais ofensivo. O certo é que Iaquinta foi o atacante que mais vezes atuou nas Eliminatórias e é nome mais possível no ataque, e Palombo foi o meia de criação que mais apareceu. Confirmadíssimos no time estão Buffon no gol, Chielini e Cannavarro no miolo de zaga, De Rossi e Pirlo na meia-cancha. Zambrotta deve ser o lateral-direito. O resto são dúvidas. Lippi já tentou uma Itália faceira no período entre Copas, mas não acredito em uma Azzura jogando dessa forma em um Mundial. Também não espero ver uma Itália que se imponha facilmente contra Paraguai e Eslováquia. Vai ter vitória suada, provavelmente até algum empate - quiçá vitória magra diante da Nova Zelândia. Mas como Eduardo Menezes aponta em A Copa que Interessa, será tudo uma estratégia dos carcamanos para vencer o torneio sorrateiramente. Paraguai O retrospecto nos diz que as seleções médias da América do Sul, mesmo quando montam bons times, acabam se curvando diante da primeira potência que encontram nos mata-matas de Copa do Mundo. Nunca acreditei tanto que um time possa desmentir esse histórico quanto a Albirroja treinada por Gerardo Martino. Nos tempos de Gamarra e Arce se dizia que faltava ao Paraguai jogadores de mesmo nível do meio para a frente. Hoje, talvez não tenha nenhum jogador do mesmo nível destes dois, mas possui uma equipe bem mais equilibrada e conta com ótimos jogadores com capacidade para agredir os adversários, como o lateral e volante Vera, o também volante Riveros, o meia Santana e os atacantes Haedo e, vá lá, Roque Santa Cruz. A indefinição fica para a vaga deixada lamentavelmente por Salvador Cabañas. Para supri-la a federação paraguaia buscou um jogador de mesmo nível, naturalizando o excelente argentino Lucas Barrios, mas não sabemos como será seu entrosamento e aceitação dentro do grupo e no campo de jogo. Prefiro apostar no excelente Oscar Cardozo, artilheiro do último campeonato português com 26 gols, e campeão pelo Benfica. Resta saber se o elenco vai superar o estigma sofrido pelos sul-americanos, e a perda de Salvador Cabañas da forma trágica como aconteceu. Eslováquia A Eslováquia será pré-julgada por muitos como uma seleção cheia de branquelos com a cara rosada, quebradores de bola, que vão protagonizar os jogos mais chatos da Copa do Mundo. Mas alguns fatores podem desmentir o clichê. As Eliminatórias mostram uma equipe que liderou um grupo com República Tcheca, Polônia e Eslovênia, três seleções que tinham mais visibilidade internacional. E a campanha eslovaca teve sete vitórias, dois empates e apenas uma derrota. Vinte e dois gols feitos e dez sofridos. Moreno e sem bochechas rosadas, Marek Hamsik é o meia habilidoso que leva a equipe para o ataque. Destaque do Napoli, marcou 13 gols nesta temporada e está sendo visado pelo tal sheik do Manchester City. Com apenas 23 anos, é candidato a se consolidar como craque. Possui drible excelente, velocidade e um pé direito capaz de marcar golaços. Se a Eslováquia conseguir a classificação para a segunda fase, com certeza terá contado com grandes atuações de Hamsik. Acredito na classificação paraguaia – ao lado da Itália – porque os sul-americanos contam com mais jogadores de qualidade e experiência, mas a Albirroja não conta com nenhum jogador que tenha o toque diferenciado do jogador do Napoli. Outro nome de maior destaque da seleção eslovaca é o zagueiro Skrtel que demonstra segurança e uma truculência bem utilizada, atuando pelo Liverpool. Lamentavelmente para os eslovacos, o jogador se recuperou há pouco tempo de uma fratura no pé, e pode não estar com muita embocadura na Copa do Mundo. Nova Zelândia Para comentar o futebol desse país da Oceania só mesmo Eduardo Menezes salva: “Francamente, os neo-zelandeses contribuem tanto para o futebol quanto os Engenheiros do Hawaii para a formação intelectual de um adolescente”. Os All White devem provar nesta Copa que há, sim, bobo no futebol. Prova disso é que 12 dos 23 convocados atuam na liga de seu país, incluindo os três goleiros – é de se prever frangos, portanto. Outros dois atletas estão sem clube. Pra não dizer que não falei de flores. Há atletas atuando em clubes razoáveis da Inglaterra, como os atacantes Chris Killen e Chris Wood, que jogam no Middlesbrough e West Bromwich, respectivamente. É da Terra da Rainha que vem a inspiração para um 4-4-2 com duas rígidas linhas de quatro, bastante recuadas. Tendo alguns jogadores de experiência internacional, e muita aplicação tática, é de se pensar que os neo-zelandeses podem obter uma ou duas derrotas heróicas por um ou dois a zero, e certamente levarão uma goleada (no mínimo). Quem fizer pouco saldo pra cima dos All White pode acabar ficando de fora das oitavas-de-final. E uma vitória neo-zelandesa seria tão zebra, que os jogadores certamente se tornariam atrações de algum parque nacional sul-africano.