Mario Kempes (1974/78/82)

Mário Kempes jogou três Copas do Mundo pela seleção argentina. Só marcou gols em uma destas edições. Pode parecer pouco para um centroavante, mas talvez tenha sido melhor assim. Raras vezes um jogador foi tão decisivo para uma conquista de sua seleção como o camisa 10 platino em 1978, copa disputada em plena Argentina, sob a égide de uma violenta ditadura militar que exigia o título a qualquer custo.

Por isso, Kempes é herói nacional. Não apenas por ter sido decisivo e marcado gols fundamentais, mas por ter sido o principal jogador a assumir esta bronca. Claro, havia outros grandes nomes. Assim como a Itália de 1934, Inglaterra de 1966 e a França de 1998, a Argentina de 1978 talvez não tivesse ganhado a Copa se não fosse em casa, mas que tinha um grande time, ah, tinha. Além de Kempes, havia Fillol, Passarella, Ardiles, Bertoni, Houseman, Luque. O cabeludo da camisa 10, entretanto, foi o símbolo da raça de um time que, mesmo com atuações e métodos questionáveis, chegou ao topo do mundo.



Em 1974, na Alemanha, envergou a camisa 13 da seleção, aos 20 anos. Atuou em todas as seis partidas, mas não se destacou nem marcou gols. A Argentina fez campanha modesta. Passou de fase, mas no quadrangular semifinal foi massacrada pela Holanda (4 a 0) e levou 2 a 1 do Brasil, maior rival. Ganhou apenas um jogo em toda a Copa, do pobre Haiti. Dias difíceis.

Então veio 1978. Ainda no Rosário Central, onde jogava desde 1973, Kempes mantinha-se como titular do ataque argentino. O grupo na primeira fase era dificílimo: Hungria, França e Itália eram as inimigas. Na estreia, no Monumental de Nuñez, vitória sobre os húngaros por 2 a 1. A seguir, novo 2 a 1, desta vez sobre os franceses, garantia a vaga, mas não a liderança da chave. Seria preciso vencer os italianos para evitar um confronto com o Brasil. Vendo Alemanha e Holanda do outro lado da chave, os argentinos perdem por 1 a 0. A única derrota da seleção naquele Mundial.



Foi no quadrangular semifinal que Kempes começou a fazer história. Posto como centroavante (tinha jogado mais recuado na primeira fase), brilhou. Já na primeira rodada, vitória de 2 a 0 sobre a Polônia, terceira em 1974, com dois gols dele. Após um nervoso 0 a 0 contra o Brasil, era preciso golear o Peru por 4 a 0 para se classificar à final. No polêmico e estranho jogo em Rosário, deu Argentina, 6 a 0. Kempes fez o primeiro e o terceiro gols.

Mas foi na decisão contra a Holanda que Kempes virou mito. Abriu o placar no finzinho no primeiro tempo, na raça, em seu estilo rompedor. Após o empate holandês, fez o gol possivelmente mais chorado da história das Copas, ou ao menos o mais célebre deles. O vídeo está abaixo. Notem o milagre praticado por Fillol quando o jogo estava em 0 a 0, a 1’35”. Argentina campeã do mundo. Com ditadura ou não, havia Mario Kempes.



Em 1982, detentora do título, a Argentina deu fiasco na Espanha. Logo na estreia, levou 1 a 0 da Bélgica. Classificou-se batendo Hungria e El Salvador, mas caiu diante de Itália e Brasil, num histórico triangular na segunda fase. Kempes jogou nas cinco partidas, totalizando 18 em 3 Copas, número expressivo. Em sua última participação nos Mundiais, já usava a camisa 11, para que um “certo” camisa 10 ficasse com seu antigo número.

Kempes, de rejeitado pelo Boca Juniors no começo de carreira, passou a ídolo no Rosário Central, Valencia, River Plate e no futebol austríaco – além, claro, da seleção argentina. Atualmente trabalha como comentarista esportivo.


Foto: Kempes comemora gol na final de 1978, contra a Holanda.

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Semana que vem: o último Diamante Negro da caixa de bombons: Leônidas da Silva.

Comentários

Prestes disse…
Em 78, o Kempes jogava como meia. O centro-avante era o Luque.

Nessa série da Espn assisti três jogos dessa Argentina. O time era fraco em comparação com outras seleções históricas campeãs mundiais.

Dificilmente ganharia fora de casa, mas a verdade é que era um dos melhores times. A Copa de 78 foi uma copa de ENTRESAFRA de boas seleções.

Se o Brasil tivesse com jogadores como Reinaldo e Zico em boas condições físicas e se o Falcão fosse convocado aí o Brasil poderia ser o melhor time disparado.

A própria Holanda era muito fraca em comparação com o time de 1974. Assisti a final e vi um time que só dava pau e jogava na base do chuveirinho.
Vicente Fonseca disse…
Importante relato. Não pude ainda assistir aos jogos da Argentina (o farei em brevíssimo), apenas a lances e ler histórias. O que li, e pelas escalações que obtive, é que o Kempes começou como meia e depois foi para o ataque na segunda fase.

A Holanda era mais fraca, e o Brasil desorganizado. Realmente, com Reinaldo e Zico a 100% e Falcão nos 22, a história poderia ser outra. Foi um ensaio para 1982, assim como a Itália, enquanto Holanda e Alemanha foram o final da geração de 1974.
luís felipe disse…
Mario Kempes que foi responsável por uma das maiores humilhações da história do Newell's Old Boys. Era motivo de piada na Argentina por continuar jogando aos 41 anos. Voltou ao Rosario Central para encerrar a carreira e...fez gol em clássico.

http://www.youtube.com/watch?v=HeZl_aqmq0s