Eusébio (1966)

Quantos jogadores no mundo podem estufar o peito e dizer: “em duelos diretos com Pelé eu empatei”? Raríssimos. Eusébio da Silva Ferreira, português para o futebol, moçambicano de nascimento, é um deles. Contemporâneo do Rei, obteve, mesmo com tudo o que Pelé representava na época, o merecido destaque por seu majestoso futebol e sua incrível capacidade de marcar muitos gols.

Os números falam por si. Assim como Pelé, Eusébio marcou superou a marca dos mil gols. Entre 1957 e 1973, foram 1.137. Em 745 jogos oficiais, fez 733 gols, média de quase um por jogo, semelhante à do Rei. Foram tantos que a ligação dos gols de Eusébio com o futebol brasileiro também pode ser traçada fora de um paralelismo com Edson Arantes do Nascimento.

Primeiramente, óbvio, os duelos entre Santos x Benfica, pelo Mundial Interclubes de 1962, quando Pelé abriu vantagem na disputa direta entre os dois maiores gênios brasileiro e português de todos os tempos. A disputa nem teve graça. Mesmo atuando contra a base da grande seleção lusa que assombraria o mundo dali a quatro anos, o Santos venceu os dois jogos. No Maracanã, 3 a 2, com dois de Pelé e Eusébio passando em branco. Em Lisboa, 5 a 2 Peixe, com três do Rei e o Pantera Negra fazendo um dos gols de honra do time da casa. Eusébio voltaria ao Brasil em 1969, para o amistoso inaugural do Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre. O Internacional venceu o Benfica por 2 a 1. O gol dos portugueses foi marcado por ele.

Foi em 1966, na Inglaterra, que ocorreu o mais marcante duelo de Eusébio contra Pelé. Brasil e Portugal caíram no mesmo grupo naquela Copa. Os portugueses chegavam à última rodada praticamente classificados, com duas vitórias (3 a 1 na Hungria e 3 a 0 na Bulgária, com um gol do Pantera). Os brasileiros haviam vencido os búlgaros (2 a 0, um de Pelé) e sido derrotados pelos húngaros (3 a 1). Mesmo bagunçada, aquela seleção tinha, além do Rei, nomes como Gilmar, Djalma Santos, Jairzinho, Tostão, Gérson e Garrincha. No duelo direto, com Pelé caçado pelos adversários, Eusébio marcou duas vezes e Portugal derrotou o Brasil por 3 a 1 e eliminou os bicampeões do mundo na fase inicial, algo que os patrícios sonham ver de novo na África do Sul. Os gênios da língua de Camões estavam quites agora.


O grande jogo da vida de Eusébio, entretanto, viria na fase seguinte. A Coreia do Norte, que recém eliminara a Itália com um inesperado 1 a 0, entrava como azarã. Entretanto, em 24 minutos, abriam 3 a 0 sobre Portugal, reeditando a maior surpresa da história das Copas (seu triunfo contra a Azzurra) contra os lusitanos. Então, Eusébio resolveu reagir. Fez quatro gols. Portugal virou o jogo para 5 a 3 e chegou às semifinais, numa das maiores viradas da história dos Mundiais. Por sinal, este é outro confronto que se repetirá em 2010.


Extremamente desgastada pela partida anterior, a seleção lusitana não resistiu aos donos da casa nas semifinais. Eusébio marcou o gol de honra na derrota por 2 a 1. Na decisão do 3º lugar, contra a União Soviética, voltou a marcar mais um, chegando a nove gols e tornando-se artilheiro daquela Copa. Além destes, foram mais 32 por Portugal, somando 41 em 64 jogos. No Benfica, foram 301 em 317 partidas. Não à toa, há uma estátua sua na entrada do Estádio da Luz.

Considerado Patrimônio do Estado, Eusébio chegou a ser impedido pelo ditador Salazar de sair do País para defender as cores de clubes estrangeiros nos anos 60. Esteve perto de acertar com o São Paulo ainda juvenil, após ser observado pelo já ex-jogador Bauer, que integrou a seleção brasileira de 1950. O tricolor recusou, talvez por seu porte esguio (1,75 m, 73 kg).

Pelo Benfica, seu cartel inclui uma Liga dos Campeões, 11 campeonatos nacionais e cinco Taças de Portugal. Além da Copa, sua precisão e potência nos arremates o tornaram artilheiro de sete Campeonatos Portugueses (sendo cinco seguidos, um recorde, entre 1964 e 1968) e três Ligas dos Campeões da UEFA. Números dignos de um dos poucos homens no mundo que podem dizer que rivalizaram com Pelé de igual para igual.

Foto: Eusébio em seu auge, na Copa da Inglaterra (1966), aos 24 anos.

Comentários

Lourenço disse…
Grande jogador, grande escolha, grande nação. Tomara que o Brasil chegue com 6 pontos e o 1º lugar garantido e dê uma mão. Tá caindo de maduro um Portugal x Espanha nas oitavas!
Vicente Fonseca disse…
Na foto que ilustra o post, semelhança inequívoca com Douglas Costa.
Lourenço disse…
Ânderson Pico, eu diria.
Vicente Fonseca disse…
Pela aparência, o Douglas; pela bola, o Pico.
Lourenço disse…
Não tenho certeza se Eusébio era ambidestro.
Vicente Fonseca disse…
dshshdsdhsdhsdhsdh

Ok, me entrego.
Prestes disse…
Bah, cara, maravilha de texto!

Muitas informações, e assustadoras! Que monstro esse Eusébio!

Paulo Britto diria: como é bom esse Eusébio, heinho Batista?
Vicente Fonseca disse…
Opa, valeu mesmo Prestes! O homem era monstruoso, de fato.

Ando esquecendo de colocar a atração da semana que vem nos posts. Então lá vai: sexta que vem traremos as histórias de Just Fontaine, o francês que fez o número recorde de 13 gols num única Copa, em 1958.