1954 - corajoso, raçudo, mas ainda sem título

Seleção brasileira na estreia contra o México. Em pé: Djalma Santos, Brandãozinho, Nilton Santos, Pinheiro, Mario Américo (massagista), Castilho e Bauer. Agachados: Julinho Botelho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues. No começo, era tudo silêncio. Um silêncio espesso, dolorido, de bocas abertas de espanto e olhos arregalados que se enchiam de lágrimas. Um silêncio que encheu o Maracanã de fantasmas. Um silêncio quebrado apenas pela quase tímida, embora justa, comemoração dos jogadores uruguaios, que naquele 16 de julho de 1950 haviam se recusado a perder e, por isso, venceram o Brasil por 2 a 1 e levaram consigo a Copa. Um silêncio que se manteve por algumas horas, enquanto os mais de duzentos mil torcedores saíram do salão de festas transformado em túmulo de um sonho nacional. Mas que aos poucos foi cedendo, transmudando-se em ruído, em um som cada vez mais volumoso, em um clamor cada vez mais uníssono. Mudança. O Brasil, depois de tamanha vergonha, exigia mudança – inadiável, intensa e em todos os setores. Se tudo deu errado, então tudo está errado – eis a lógica simplista, mas implacável, que passou a guiar nossos passos depois do terrível Maracanazo. Os jogadores envolvidos com o fracasso foram, salvo raras exceções, banidos da seleção nacional. Não que fosse uma expulsão propriamente dita – o fato é que não havia mais clima para a maioria dos nomes marcados pela derrota. Barbosa, por exemplo. Um dos mais talentosos goleiros de nossa história, ganhou a pecha de vilão graças a sua “falha” no gol de Ghiggia. A torcida, em especial a vascaína, continuou a amá-lo – tanto que Barbosa quebrou a perna em 1953, depois de um jogo contra o Botafogo, e longas filas se formaram na frente do hospital, com torcedores querendo visitá-lo. Mas o arqueiro só voltaria a ser titular em uma única partida da seleção – uma vitória de 2 a 0 contra o Equador, no Campeonato Sul Americano de 1953, na qual o titular Castilho não pode jogar. Para muitos, Barbosa seguia sendo o melhor goleiro do país. Mas a mudança era exigida, era exigente e era inevitável. E Barbosa seria apenas um dos tantos jogadores que nunca teria uma chance de se redimir, dentro do campo, daquela dolorida tragédia no Maracanã. Apenas seis atletas de 1950 seriam convocados para a Copa da Suíça. Além do goleiro Castilho, reserva de Barbosa naquele Mundial, foram mantidos o inconteste Nilton Santos, os meias Bauer e Ely e os atacantes Baltazar e Rodrigues. Desses, apenas Bauer entrou em campo na partida jamais esquecida; os demais assistiram o Maracanazo do banco de reservas. Na casamata, a escolha caiu sobre Zezé Moreira, que na época era também treinador do Fluminense. Profissional sério e pragmático, promoveu grandes mudanças no grupo de jogadores, desenvolveu um regime de grande franqueza no vestiário, e garantiu de vez sua posição ao conquistar o Campeonato Pan-Americano de Futebol disputado no Chile em 1952, o primeiro título internacional conquistado fora do território brasileiro. Taticamente, Moreira adotou um esquema muito próximo do 4-3-3 que se consolidaria internacionalmente logo depois, além de instituir o conceito de marcação por zona, praticamente inédito no futebol brasileiro até então. Uma renovação de ideias e conceitos que encaixava no clima de recomeçar do zero que tomava conta de nosso futebol. Além dessas modificações no plantel, era cada vez mais exigida de todos os atletas uma mudança anímica e de postura. Na época, foi feito um diagnóstico duro e quase cruel sobre 1950: era uma Copa praticamente ganha, desperdiçada pela falta de brio dos atletas brasileiros. O conceito de que faltou macheza aos nossos jogadores era generalizado – e não apenas entre os torcedores do povo, mas também entre as mais conhecidas cabeças pensantes de nosso futebol. Um time covarde não pode ser campeão, diziam. Ademar Pimenta, treinador da campanha bem-sucedida de 1938 e então comentarista de rádio, usava todas as chances possíveis para frisar: o Brasil fora um time frouxo, e havia sido vencido por um Uruguai corajoso e cheio de raça. A pressão sobre os jogadores convocados para que fossem homens, fossem corajosos e bravos e não tivessem medo de nada nem de ninguém, era próxima do insuportável. E teria seus efeitos – talvez positivos, mas sem dúvida também negativos, sobre a campanha que se daria na Copa da Suíça. Tamanha era a necessidade de fazer uma mudança generalizada que até o uniforme brasileiro foi totalmente repaginado. Desde suas primeiras partidas, nossa seleção havia adotado camisa branca com calções azuis – um conjunto sóbrio e discreto, mas que a falta de títulos e a terrível derrota para o Uruguai transformaram numa espécie de símbolo visual do nosso fracasso. Do roupeiro ao tesoureiro, do cortador de grama aos dirigentes máximos da CBD, todos concordavam: aquela camisa dava azar. E em 1953, depois de um concurso envolvendo cerca de duzentas propostas, o conjunto branco e azul foi aposentado, em troca de um novo conceito e uma nova combinação. O autor da ideia vencedora, Aldyr Garcia Schlee, tinha 19 anos, trabalhava com caricaturas em jornais de Pelotas (RS) e foi encorajado por colegas a participar do concurso promovido pelo Correio da Manhã, do Rio de Janeiro. Sua proposta simples, mantendo o azul do calção e combinando-o com uma camisa simples em amarelo, garantiu a ele uma cadeira perpétua no Maracanã, uma soma modesta em dinheiro e uma assinatura do jornal. Para o Brasil, porém, ela rendeu muito mais – uma imagem icônica e uma nova cara para os novos desafios da História. Em um momento cheio de novidades e renovações, não surpreende que 1954 tenha sido também a primeira vez que o Brasil disputou eliminatórias. Em anos anteriores, ou o Brasil havia sido convidado a jogar ou tinha se livrado de disputar vaga graças a desistências alheias. Entre os meses de fevereiro e março, enfrentamos as seleções do Paraguai e Chile, vencendo todos os quatro jogos disputados – o que não quer dizer que tenha sido tudo tranquilo, vale frisar. Na partida em Assuncão, os torcedores paraguaios receberam os brasileiros de maneira bem pouco amistosa. Pedras voavam sobre os visitantes desde antes da entrada no estádio, e o goleiro Veludo foi atingido por uma garrafa em pleno jogo, por pouco não sendo forçado a abandonar o gramado. Mesmo assim o Brasil venceria por 1 a 0, gol de Baltazar. Na partida de volta no Rio, os brasileiros resolveram mostrar que não eram frouxos – além de um massacrante 4 a 1, distribuíram pancadas durante o jogo todo, havendo inclusive relatos de jogadores paraguaios levados a hospitais da cidade após o jogo. Um time de machos, sim senhor – para o bem, e para o mal. A Copa de 1954 foi a primeira a contar com certas tecnologias e requintes de organização – o que se explica pelo fato de a Suíça ser a sede da FIFA, que na época completava cinquenta anos de existência e queria marcar a data com um grande evento. Por exemplo, foi a primeira vez que a seleção brasileira teve a chance de viajar até a Europa de avião, o que poupou toda a delegação de uma viagem extenuante Oceano Atlântico adentro. De modo mais destacado, foi a primeira vez que o Mundial foi transmitido pela televisão. Graças a isso, passa a ser possível daqui para frente uma análise mais concreta dos jogos em si, já que sobrevivem registros em filme e vídeo de boa parte deles. Foi pela primeira vez realizada também uma película oficial, com os gols e lances de boa parte das partidas da Copa. Países como Alemanha, Inglaterra, Itália e os anfitriões suíços assistiram boa parte dos jogos ao vivo pela televisão; no Brasil, as imagens chegariam apenas nos cinemas, cerca de dois meses depois do fim da competição. A grande estreia brasileira se deu no dia 16 de junho de 1954, em um Charmilles Stadium de Genebra praticamente lotado. Mais uma vez, nosso adversário seria o México, já impiedosamente patrolado na partida inaugural de 1950. A tabela, muito estranha ao ponto de ser quase inexplicável, envolvia a definição de dois cabeças-de-chave por grupo, ao invés de um só como costuma ser desde que o mundo é mundo e o futebol é futebol. Os cabeças-de-chave não se enfrentariam, jogando apenas contra os outros dois times sorteados – e esses dois times também não se cruzariam, encarando apenas os dois cabeças-de-chave. Os dois melhores de cada grupo se classificavam, ao invés de uma única seleção como em Copas anteriores. Ou seja, cada time jogava só dois jogos por grupo – uma confusão dos diabos, que teria reflexo logo adiante, como veremos em breve. Seja como for, entramos em campo naquele dia com Castilho;Djalma Santos, Brandãozinho, Nilton Santos e Pinheiro; Bauer (capitão do time), Julinho Botelho e Didi; Baltazar, Pinga e Rodrigues. Foi, uma vez mais, um massacre. Jogando um futebol veloz e incisivo, o Brasil empilhou buchas sobre os pobres atletas mexicanos, assinalando um feroz e categórico 5 a 0. Pinga marcaria duas vezes, contando com o auxílio de Baltazar, Pinga e Julinho para construir o dilatado placar. Abaixo, os gols da partida: Depois da primorosa estreia, o Brasil encararia a perigosa seleção da Iugoslávia. Com um gol de Miloš Milutinović, os iugoslavos haviam vencido a seleção francesa, num resultado surpreendente que encaminhou a vaga para a próxima fase. Bastaria o empate entre Brasil e Iugoslávia para que os dois selecionados seguissem rumo às quartas. A delegação brasileira, no entanto, demorou mais do que o adequado para entender as particularidades da bizarra fórmula de disputa daquela Copa, e entrou em campo no dia 19 de junho com a convicção de que só a vitória garantiria sua classificação. Os iugoslavos, ao contrário, sabiam muito bem que um placar sem vencedores era suficiente para encaminhar ambos para a próxima fase. Os cerca de quarenta mil presentes ao Stade Olympique de la Pontaise, em Lausanne, devem ter assistido um jogo dos mais insólitos e divertidos. Depois de um primeiro tempo renhido, os iugoslavos abriram o placar com Zebec – e a partir daí o Brasil foi definitivamente para cima. A simples ideia de ficar de fora das quartas, quatro anos depois do maior fiasco da história de nosso futebol, era plenamente inaceitável para aqueles jogadores. Na base do mais puro ímpeto ofensivo, o Brasil empatou com um gol de Didi – e, acreditando que a virada era imprescindível para evitar um jogo de desempate, continuou atacando, com a volúpia dos que acreditam não terem nada a perder. Os iugoslavos, atônitos, tentavam avisar que o 1 a 1 servia aos dois; os brasileiros, surdos para a língua estrangeira e para a razão distorcida daquela fórmula, seguiam atacando com urgência e desespero. E saíram de campo desolados ao final da prorrogação, carregando nas costas o peso do que julgavam ser mais um fracasso. O treinador Zezé Moreira, com o rosto vincado de preocupação, discutia com a comissão técnica (e com seu filho Wilson, que era atacante reserva no Botafogo e viajou com a curiosa função de “participar dos treinos”) qual seria a melhor escalação para a partida extra quando finalmente alguém olhou a tabela com mais cuidado e entendeu que o Brasil já estava nas quartas de final... A preocupação com um jogo extra encerrou-se ali – mas acabou substituída logo depois por outra, muito mais séria. O adversário brasileiro na próxima fase seria nada menos que o pior possível: a perigosíssima Hungria, sensação mundial e considerada a maior favorita para a conquista do título. Era de fato um timaço, o húngaro. Controlado diretamente pelo Estado comunista, era uma seleção de enorme preparo e força física, que aliava essa força com uma das mais talentosas gerações que aquela área do globo jamais viu. Na preparação para a Copa, a seleção empilhou resultados dilatados durante quase quatro anos de invencibilidade, com o requinte de meter impactantes 7 a 1 na badalada seleção da Inglaterra. Na primeira fase do Mundial propriamente dito, humilhou Coréia e Alemanha Ocidental, com sonoros 9 a 0 e 8 a 3, respectivamente. Para animar seus atletas nas disputas da primeira fase, os dirigentes brasileiros elogiavam a pujança e a raça dos jogadores húngaros – tática que se mostrou equivocada, tão logo o sorteio dos confrontos colocou essa mesma seleção no caminho dos brasileiros. E que ficou ainda pior quando nossos jogadores assistiram um treino húngaro contra um selecionado de funcionários de uma fábrica de relógios local. Não ficou registrado o placar final do coletivo, mas deve ter sido uma cena assustadora, já que fotos e relatos de jornalistas nos contam do terror estampado nos rostos de toda nossa delegação com o arrepiante espetáculo. A notícia de que Puskas não jogaria, vitimado por uma lesão, serviu como um pequeno alívio – mas, se ele não entraria em campo, ainda haveria a ameaça terrível de Kocsis, Boszik, Hidegtuki, Czibor e muitos outros. Mais do que a final antecipada anunciada pelos veículos de imprensa de todo o mundo, aquela partida era para os brasileiros a apavorante perspectiva de uma prematura eliminação. O boato de que o chefe da delegação, João Lira Filho, teria já adquirido as passagens de avião para a volta ao Brasil, não serviu nem um pouco para acalmar o ambiente. Tozzi fumou dois maços de cigarros na madrugada anterior ao jogo; Veludo e Pinheiro saíram naquela noite e demoraram tanto a voltar que chegou-se a suspeitar que tinham fugido. Baltazar e Pinga, ao acordarem no dia do jogo, descobriram-se tragicamente (ou milagrosamente) contundidos. E toda essa pressão, unida à cobrança sempre presente por raça e coragem, certamente teve seus efeitos no momento decisivo. Boa parte da partida ainda está preservada em vídeo, e com alguma procura pode ser encontrada para download em fóruns de discussão relacionados a futebol. Visivelmente nervosos, os brasileiros entraram no Wankdorf Stadium de Berna com muito, muito medo de serem covardes diante dos tranquilos e determinados húngaros. E tanta vontade de demonstrar coragem acabou travando a equipe brasileira no começo da partida. Com menos de dez minutos, a Hungria já fazia 2 a 0 – gols de Hidegtuki e Kocsis, ambos em bobeiras de nosso sistema defensivo. Apavorado, o Brasil batia cabeça, e a Hungria vinha para cima em busca de mais uma goleada. Mas quando o árbitro Arthur Ellis assinalou pênalti para o Brasil, convertido por Djalma Santos aos 18mins, a coisa mudou de figura. Aos poucos, percebemos que o bicho não era tão feio assim, e passamos a jogar um futebol muito mais determinado e ofensivo. No início do segundo tempo, o quadro era inverso ao do começo de jogo: o Brasil pressionando pelo empate, a Hungria retraída e segurando o resultado. O gol de Lantos, em cobrança de pênalti, construiu um 3 a 1 que não mais refletia o verdadeiro estado da partida. Cinco minutos depois, Julinho Botelho fazia o 3 a 2, um golaço, e o empate parecia questão de tempo. No finalzinho, Didi concluiu na trave uma bela jogada que poderia ter sido a nossa salvação naquele difícil desafio. Infelizmente para nós, a defesa húngara segurou o resultado – e o segundo gol de Kocsis, já no apagar das luzes, acabou legando para a história um 4 a 2 impactante, mas que pouco refletia do que o jogo foi de fato. Esse foi o lado futebolístico, a batalha justa e digna dentro da esfera esportiva. Infelizmente, Brasil e Hungria guerrearam também num sentido menos figurado – e foi ele que rendeu ao jogo a alcunha Batalha de Berna, até hoje citada por estudiosos e apreciadores do futebol. Desde antes do gol de pênalti de Djalma Santos a partida havia se transformado numa espécie de pancadaria a céu aberto, com uma série de faltas violentas e nada menos que 42 infrações assinaladas durante o jogo. Logo após o 3 a 2, Boszik e Nilton Santos resolveram apelar para um troca de ideias não-verbal, e acabaram ambos expulsos. Humberto Tozzi preferiu usar os pés; aplicou um chute preciso na canela do húngaro Buzanski – e mesmo pedindo de joelhos não recebeu a clemência do juiz, que aplicou resoluto o cartão vermelho. Estávamos perdendo, mas não éramos covardes – uma macheza pouco útil, mas de qualquer modo reflexo de anos de cobrança nesse sentido. Terminada a partida, a coisa definitivamente fugiu de controle. A batalha tornou-se franca, tomou conta do gramado e desceu para os vestiários com a fúria de várias legiões. Indignados, todos os brasileiros envolvidos, desde atletas e dirigentes até cozinheiros e fotógrafos, partiram sem medo para a dialética do olho roxo. Os relatos nesse sentido são muitos. Zezé Moreira, supostamente o maior responsável por tranquilizar seus transtornados atletas, arremessou um par de chuteiras em cima do Ministro de Esportes da Hungria. Maurinho agrediu Czibor a socos. Pinheiro sofreu um corte profundo na cabeça, causado por um golpe de garrafa – atribuído durante anos a ninguém menos que Ferenc Puskas, que teria arremessado o vasilhame na cabeça do exaltado brasileiro. E Paulo Buarque não poupou nem mesmo os sempre cordiais (e naquele momento atônitos) guardas suíços, aplicando uma pouco cortês rasteira em um deles. Alucinados, os brasileiros quebraram as lâmpadas que conduziam ao vestiário húngaro, e cercaram os adversários no que virou uma verdadeira refrega à meia luz. O resultado do conflito foi uma série de feridos – entre eles o ‘manager’ húngaro Gusztáv Sebes, que precisou de quatro pontos após ser ferido com os estilhaços de uma garrafa. Atendendo o clamor de uma nação, o Brasil havia sido representado por uma seleção de machões – pena que isso não nos deu taça alguma, e sim o papel de protagonistas em mais um tremendo fiasco. Para fechar a palhaçada com chave de chumbo, tivemos a participação equilibradíssima de Mário Viana, árbitro brasileiro presente na delegação brasileira daquele jogo. Totalmente descontrolado, o homem soltou impropérios para Deus e o mundo – segundo ele, a comissão de arbitragem da FIFA era uma “camarilha de ladrões” e o árbitro Arthur Ellis, além de ser filho de mãe pouco virtuosa, era comprometido com a Internacional, ou seja, um tremendo comuna de marca maior. Não contente, tirou do peito o distintivo da FIFA e, em um gesto de teatralidade quase patética, tacou fogo no objeto, diante de todos os brasileiros ali presentes. Não surpreende que, depois desse gesto, o homem tenha sido banido do quadro de árbitros da entidade...

Enfim. Era uma Copa que poderia, sem dúvida, ter rendido mais. O time era bom, e não fosse pela casualidade de enfrentar uma seleção poderosíssima já nas quartas, quem sabe até onde poderíamos ter ido? Mas a breve campanha acabou sendo importante para consolidar um conceito de trabalho, além de descarregar um pouco da tensão de 1950, mesmo que na forma de pancadaria bizarra e sem sentido. Pelo menos estava provado que aqueles jogadores não eram covardes ou bundões – esse trauma, dentre tantos, estava superado. O negócio, agora, era jogar futebol. E isso começaríamos a resolver em 1958. Mas aí já é terreno para outra história...

Fotos: escrete - finalmente - canarinho (Brazil in the World Cups); Julinho Botelho com a camisa do Palmeiras (Palestrina); Puskas, o húngaro mais temido do mundo (Football-hooligans.com); Bauer, ao centro, divide sem medo contra a Hungria (Copa 2014); e o futebol brasileiro encerra a Copa na base da baixaria (wikipedia).

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Na próxima terça (30/03): o Brasil, depois de muito ensaio, finalmente coloca a mão na taça

Comentários

Vicente Fonseca disse…
Seleção mui digna.

Esse Julinho Botelho jogava bola, hein? Dizem que, não fosse contemporâneo de Garrincha, seria o maior ponta direita da história do futebol brasileiro.

Parece que naquela época era muito comum técnicos se dividirem entre a seleção e seus clubes, certo?
Igor Natusch disse…
Eu citei no artigo o belo gol do Julinho Botelho contra a Hungria, mas o que ele faz contra o México é ainda mais bonito: dribles desconcertantes, sempre em direção ao gol, e um chute cruzado preciso e mortal. Coisa de craque da bola, sem dúvida.

Realmente, era muito comum nessa época os treinadores da seleção estarem diretamente envolvidos com algum clube específico também. Mesmo porque o ritmo de jogos era totalmente diferente - a seleção era convocada quase sempre às vésperas de competições, e os amistosos eram poucos. Não tinha essa coisa que tem hoje, de uma seleção jogar mais de 20 vezes no mesmo ano, então não havia tanta necessidade de um treinador exclusivo.

Não incluí no texto por não ter relação direta com o assunto, mas sugiro que procurem no YouTube vídeos da decisão de 1954, Hungria contra Alemanha Ocidental. É realmente incrível a coragem e o brio dos alemães, prestes a tomar uma goleada estrondosa e que reagem rumo a uma conquista histórica para uma neção devastada pelo nazismo e pela guerra. Os húngaros ficam visivelmente ATÔNITOS em alguns momentos, é incrível. Mesmo com algumas injustiças aqui e ali - o gol de empate alemão, por ex, é claramente irregular - é uma conquista emocionante, tanto quanto a dos uruguaios na Copa de 1950.