Prancheta gaudéria
A coisa mais fácil que existe é baixar o pau nos treinadores. Todo mundo cobra aquela substituição mal feita, a escalação de algum jogador que acabou indo mal, aponta os dedos nos protegidos do técnico, desmancha em palavra seu sistema tático.
Aqui em Porto Alegre não tem sido muito diferente nos primeiros meses de 2010. Silas sofre contestações em seu começo de carreira no Olímpico, principalmente após a derrota no Gre-Nal. Já Fossati, mesmo vencendo, já era criticado por seu esquema pouco ousado. As últimas atuações fracas e a derrota para o Novo Hamburgo que eliminou o colorado da Taça Fernando Carvalho desencadearam cobranças ainda mais fortes.
Em vez de simplesmente destroçar Silas e Fossati, proponho discutir quais as escalações e esquemas ideais de Grêmio e Internacional para o momento, tendo em vista o elenco e os resultados e desempenhos obtidos até aqui. Não levaremos em conta jogadores como Souza e Lúcio, que ficarão parados por muito tempo. Só para não dizerem depois que este blog não fez críticas construtivas - e para incitar o diálogo a respeito deste assunto, que é, sem dúvida, um dos mais deliciosos para quem gosta de futebol.
Grêmio
Muito se diz que o Grêmio tem ferido um dos princípios básicos do futebol atual, aquele que reza que o time em formação deve começar pela defesa. Neste início de temporada, o ataque funciona às mil maravilhas - e a criação no meio, após o ingresso de Douglas, também. O sistema defensivo, entretanto, é o que preocupa: são 14 gols sofridos em 11 jogos, e apenas uma destas partidas foi contra equipe de Série A. Não é difícil supor que a principal questão que se impõe ao pensarmos uma escalação mais eficaz para o tricolor é a defensiva.
Talvez a melhor defesa possível para o Grêmio no momento ainda não tenha estreado dois de seus membros: o lateral-direito Edilson e o central Rodrigo. Ainda penso que Mário Fernandes explora melhor o potencial de seu futebol como lateral, mas sua escalação na zaga, neste momento, é mais urgente e supriria uma carência momentânea importante da equipe. Tudo depende de como Edilson renderá. Dando certo, seria o jogador pela direita, com Fábio Santos mantendo o bom nível recente na esquerda (o tricolor não contratará outro jogador para a canhota porque deve investir na permanência de Lúcio, restando o correto Bruno Collaço como alternativa enquanto isso). Mário não será improvisação como zagueiro, e formará com Rodrigo uma dupla que se completa: o jovem e de boa saída de um lado, o firme, pesado e experiente de outro. Resta saber como está o ex-são-paulino. De qualquer modo, outro zagueiro deve vir ainda, e Paletta, do Boca Juniors, é o mais cogitado.
No meio, falta ainda alguém para assumir a cabeça-de-área. Este jogador pode ser Adílson ou até Willian Magrão, ambos superiores tecnicamente a Ferdinando e Túlio. Podem jogar juntos, seria o ideal. Ou então, um deles, mais Maylson e Fábio Rochemback. Este último vem rendendo bem mais à frente, mas tem marcado pouco. Ele e um primeiro volante é sobrecarga de marcação para o camisa 5. Adílson, Willian Magrão, Maylson (Rochemback) e Douglas, eis a formação ideal: marcação, dinâmica, velocidade e boa saída de jogo nas três primeiras funções, com o adicional de que tanto Magrão como Rochemback ainda chegam bem de trás para bater a gol.
E o ataque, que parece solucionado, também pode ser mexido. Não em Borges, melhor centroavante do Brasil neste começo de ano. Leandro, Hugo e Jonas disputam, na prática, uma posição. Jonas está se escalando pelos gols, mas como Silas não abre mão da voluntariedade de Leandro, escala-o no meio, deixa Hugo no banco e enfraquece a contenção lá atrás. É um cobertor curto. O ideal mesmo seria Leandro e Borges na frente, com Hugo podendo ocupar posição no meio em vez de Maylson ou Rochemback, no caso de uma tentativa de sistema mais ofensivo, e Jonas no banco, como opção para botar fogo no jogo no segundo tempo.
Sem meias palavras, entendo que o time ideal do Grêmio no momento, com todas as opções disponíveis seria: Victor, Edilson, Rodrigo, Mário Fernandes e Fábio Santos; Adílson, Willian Magrão, Maylson e Douglas; Leandro e Borges. Rafael Marques é bom reserva para a zaga, Maylson disputa posição com Rochemback, Fernando briga com Adílson e Magrão, Hugo é opção para meia (pode jogar ao lado de Douglas,, pois tem características diferenciadas da do camisa 10) ou ataque e Jonas disputa vaga com Leandro. Portanto, há opções de reposição à altura, sim senhor. É só não querer aglomerar todo mundo no onze inicial.
Internacional
No caso do Inter, o problema é inverso: há cautela demais no esquema de Fossati, o que acaba fazendo o time depender demais da articulação e das subidas de Kleber. Como Sandro e Guiñazu não têm aquele mesmo poder de atacar que alguns volantes do Grêmio, por exemplo, o Inter deve ser escalado com dois meias e dois atacantes.
Ao contrário do que pensa o técnico uruguaio, não seria uma formatação frágil, já que Giuliano participa das ações defensivas. O Inter teria seis jogadores para atacar (laterais, meias e atacantes) e sete para defender (zaga, laterais, volantes e um meia), números mais que suficientes para não tornar o time desquilibrado, seja à frente ou atrás.
Para tanto, seria preciso desmanchar a grande convicção de Fossati, que é o trio de zagueiros. Pelo que vêm demonstrando, Bolívar e Sorondo seriam os dois titulares. Nei vem melhor que Bruno Silva, ainda que se equivalham. Como Wilson Mathias não demonstrou nada de especial, Sandro e Guiñazu permanecem como dupla de volantes.
Nas meias, muitas opções. Giuliano e Andrezinho vêm jogando mais que D'Alessandro, mas o treinador dificilmente abrirá mão dele no time. Pode, inclusive, sacar Giuliano para seu ingresso, como sinalizado mais de uma vez na pré-temporada. Com Andrezinho, porém, o time ganharia um pouco mais de combatividade no meio, algo que o argentino não tem. Ambos articulam bem e batem forte a gol, o que é importante.
No ataque, Alecsandro é titular incontestável, e talvez Walter, que fez bela assistência para ele ontem, possa jogar junto o camisa 9. Não sei como anda o desprestigiado Marquinhos, mas para mim ele seria o parceiro ideal, para dar uma velocidade extra a um ataque que ontem se mostrou lento. Pelas boas atuações de 2009, merecia estar à frente de Taison, por exemplo, que está num migué interminável desde a final da Copa do Brasil. Como Kléber Pereira está fora de forma e Edu não empolga, eis o ataque de momento. Leandro Damião é um bom reserva da camisa 9. Não o colocaria para jogar junto com Alecsandro.
Portanto, escalaria o Inter com Lauro, Nei, Bolívar, Sorondo e Kleber; Sandro, Guiñazu, Andrezinho e Giuliano; Marquinhos e Alecsandro. Sei que Marquinhos está fora dos planos da Libertadores, mas penso ser o melhor parceiro para o centroavante. Como opções, Índio, Fabiano Eller, Bruno Silva, Wilson Mathias, D'Alessandro, Thiago Humberto, Walter, Edu e Leandro Damião. A forma de jogar do time pode mudar ao gosto do técnico com tantos jogadores diferentes e variados.
Ah, eu manteria Lauro. Ainda estou pagando para ver Abbondanzieri voltar a jogar em alto nível.
Comentários
Também sou a favor de Magrão e Adílson na volância, com Fernando sendo o Alec Baldwin (vulgo O SOMBRA) deles. Rochemback no meio, com Maylson assombrando-o, e Douglas na frente.
A primeira linha de 4 é essa que você citou, sem tirar nem por.
Se Silas armar esse time aí e ele se entrosar, aí sim, acreditarei razoavelmente em algum título de expressão pra esse ano.
Comento sobre o Itner depois.
Abraço.
E tu vê que interessante, a dupla têm times qualificadíssimos e com muitas opções. Vai ser legal de ver o desempenho no brasileirão, se o Fossati fuçar bastante até achar um esquema ideal para o time, coisa que o Silas já faz.
O Inter, por sua vez, está DE NOVO com o mesmo problema: tem um plantel de muito boa qualidade, mas muito mal escalado e distribuído. Eu acho que Walter seria um bom companheiro do Alecsandro - Taison é um migué em duas pernas, Edu não tem jogado nada, Marquinhos sobrou até na lista da Liber e Kleber Pereira veio para SUGAR as finanças do clube, duvido que acabe fazendo muito mais que isso. No mais, o Inter que eu JAMAIS quero ver em campo é esse aí, Vicente - aí sim, seria um time forte capaz de ir pela Liber e criar problemas para todo mundo. Que o Fossati siga com 3 zagueiros...
No Inter esse é o meu time ideal, mas com o Pato no gol. Após a contratação dele, o Lauro não pode mais ser titular. Ao lado do Alecsandro, é difícil.
Com relação ao inter, me parece que esse é o melhor time desde o ano passado, porém não dão a chance desse meio-campo ter uma sequência de jogos, o que, acredito eu, fatalmente renderia alguma conquista ao colorado.
então proponho uma análise mais profunda, observando as características dos jogadores, em especial da meia cancha.
1ª função - Adilson, Fernando, Ferdinando e Túlio.
Adilson parece levar vantagem por maior experiência que Fernando e melhor qualidade que Ferdinando e Túlio. Porém, é importante que jogue curto. Desarma e passa para o companheiro. Não deve ser dele a responsabilidade de lançamentos e infiltrações.
2ª função - Adilson, WM, Maylson e Rochemback.
Adilson é jogador de raciocínio lento, não serve para esta função. Rochemback, já está provado, não marca ninguém. Ficamos então com WM e Maylson. WM já sabemos de seu potencial. Passadas longas, bom chute a gol e visão de jogo. Maylson me parece carregar demais a bola e não ter tanto cacoete defensivo. Pra mim, ele é nosso Giuliano - o meia que marca. Iria de WM.
3ª função - Douglas, Hugo, Leandro, Mithyuê, Maylson e Rochemback.
Aqui é onde se pode dar uma cara pro time. Este jogador vai definir se o Grêmio será mais ofensivo (Douglas, Mithyuê e Hugo), se vai reter mais a posse de bola (Maylson, Hugo, Leandro) ou trabalhar com lançamentos (Douglas e Rochemback).
Velocidade no ataque é algo que o time não pode abrir mão, por isso eu iria de Douglas ou Rochemback. Ambos fazem belos lançamentos e distribuem o jogo sem carregar demais a bola, característica essencial pra essa transição defesa-ataque. Fico com Rochemback pelas inversões de jogo.
4ª função - Douglas, Hugo, Mithyuê.
O pifador, o chutador e o driblador. Sem a responsabilidade de marcar que as outras funções exigem, eu iria de Douglas, o maestro do time, jogando centralizado. Assim pode recuar pra fazer passes em profundidade para os laterais e os dois volantes e avançar para bater em gol e "pifar" os atacantes. Acho Hugo um jogador pouco comprometido e que funciona melhor quando infiltra na área para ser pifado ou receber passes da parede do centroavante. Mithyuê precisa de confiança e feijão com arroz ainda.
Ataque: Borges e Jonas. Infelizmente não temos um atacante velocista, o que seria o ideal para lançamentos e infiltrações. Vamos então com os dois mais efetivos.
Victor; Edilson, Mário, Rodrigo, F.Santos; Adilson, WM, Rochemback e Douglas; Jonas e Borges, com o meio em losango.
É um time que carece de jogadores de velocidade para se tornar mortal. Lúcio e um atacante veloz (Carlos Eduardo?) fariam a festa.
Em termos de dinâmica de jogo, apostaria em avanços alternados dos laterais e aproximações dos volantes, com Jonas "flutuando" ao redor de Borges, buscando espaços tanto na direita quanto na esquerda.
Para mudar o jogo, entram Maylson e e Hugo nos lugares de Rochemback e Jonas. Douglas viria mais para trás, com Maylson atuando mais a frente que Rochemback, assim empurrando o adversário pro seu campo. Hugo seria uma opção de chute forte e infiltrações pela esquerda.
Isso tudo pra dizer: ser treinador é muito mais que colocar 11 em campo, e até agora Silas pouco mostrou mecânica de jogo.