Volta o cavalo encilhadinho
No mundo encantado do Campeonato Brasileiro 2009, existe um cavalinho solitário que anda muito, muito triste. Mansinho e dócil, o cavalo troteia pelos gramados do Brasil, todo encilhadinho, pronto para conduzir quem nele montar rumo ao título nacional. Mas, embora todos pareçam interessados em dar uma volta no cavalo, ninguém realmente aproveita a chance de subir na garupa do bichinho. Na noite de domingo, foi a vez do Flamengo ver o cavalo encilhado desfilar garbosamente no Maracanã, lotado com mais de 80 mil espectadores, elétrico com a vitória do Botafogo sobre o São Paulo ocorrida minutos antes. Vencendo o Goiás, o Flamengo seria líder isolado, e teria a taça ao alcance de suas mãos. Mas, como outros antes dele, os cariocas demoraram demais para montar no cavalinho, e agora vá saber se terão outra chance...
O clima era de festa no Maracanã, com direito a um belo mosaico de milhares de torcedores compondo a frase "a maior torcida do mundo faz a diferença". Mas logo nos primeiros minutos ficou claro que, se quisesse tirar o Goiás para dançar, o Flamengo ia ter que dar uma variada no seu repertório. Contido pela forte marcação, Petkovic tinha dificuldades para achar espaços. Adriano, isolado, tinha que voltar até o meio de campo para ver a cor da bola. Pouco criativo, o meio de campo flamenguista municiava mal os laterais, e os volantes Airton e Toró passavam pouca segurança atrás. O sistema defensivo do Goiás continha bem o dono da casa, mas as jogadas de ataque do esmeraldino eram centralizadas demais em Léo Lima, que estava em péssima jornada e errava quase tudo. Com isso, o primeiro tempo só podia ser o que foi: tenso, arrastado, sem maiores iniciativas ofensivas de parte a parte.
Lendo bem as dificuldades do jogo, Andrade puxou Willians mais para a direita, para criar mais dificuldades ao jovem e nervoso lateral goiano Douglas. Por ali, sozinho ou em triangulações com Léo Moura, Willians achou algumas das melhores infiltrações do Flamengo na primeira etapa. Mas a melhor chance flamenguista foi de bola parada: Petkovic, aos 21 minutos, cobrou com enorme categoria, e a bola caiu mansamente a centímetros da trave do goleiro Harlei. Mas a melhor jogada da primeira etapa foi goiana: aos 41, Fernandão e Iarley tabelam, Léo Lima fica livre e obriga Bruno a uma defesa difícil. Um final agourento para um primeiro tempo pouco animador dos donos da casa - e para o pobre cavalinho encilhado, que a essa altura já pastava desanimado prevendo seu destino.
O jogo ficou mais emocionante e movimentado no segundo tempo, mas não se pense que isso foi fruto de uma melhora técnica significativa. Pelo contrário: o Flamengo passou a trabalhar ainda menos as jogadas, o Goiás perdeu parte de sua consistência defensiva, e o resultado foi um jogo rápido, nervoso, mas sem que houvesse imposição técnica de nenhum dos lados. O Flamengo até deu jeito de quem ia pressionar no início, mas algumas boas defesas de Harlei foram suficiente para arrefecer os ânimos do rubro-negro. Willians, um dos nomes mais ativos do Flamengo, saiu aos 18 minutos para a entrada de Kleberson - pouco depois o sempre dedicado Petkovic dá lugar ao pouco produtivo Fierro. E aí sim o rubro-negro se perdeu. O lance mais agudo da segunda etapa, aos 22, resume bem o que virou o jogo: um entrevero maluco na área goiana, com direito a botinada na cara do goleiro, puxões de cabelo, unhadas e golpes de full contact, até que a bola espirrasse de algum modo para longe do gol. Muita vontade, pouca inspiração e nenhuma sorte - eis o retrato do Flamengo no domingo do Maracanã.
O cavalo encilhado, antes de jogar a toalha e ir passear em outra freguesia, ainda viu o Flamengo perder algumas boas chances com Adriano e Ronaldo Angelim, o Goiás desperdiçar contra ataques com Felipe e Amaral, Léo Lima coroar sua má atuação aos 37 com um chute horrendo e o goleiro Bruno brincar de Marcos, tentando cabecear uma ou duas bolas alçadas por Léo Moura ao final do jogo. Mas a essa altura a partida já se arrastava rumo ao fim inevitável - e o silêncio de um Maracanã antes preparado para a festa era bastante revelador nesse sentido.
Nada está definitivamente perdido, pelo contrário. Bem ou mal, o empate sem gols diminuiu para um único ponto a distância para o líder São Paulo, e em duas rodadas tudo pode acontecer. Mas, terminada a partida, era indisfarçável a sensação de que o Flamengo tinha deixado passar a chance, titubeado na hora decisiva, ignorado o cavalinho encilhado no momento em que montá-lo era uma pura questão de iniciativa. E agora o time da Gávea terá que encarar Corinthians e Grêmio, torcendo por tropeços de seus adversários para conquistar a taça. Tarefa indigesta para um time cheio de qualidade, mas ao qual faltou tranquilidade e bom futebol na hora mais importante.
Em tempo:
- Destaques no Flamengo: Willians e Petkovic. Destaques no Goiás: Harlei, Leandro Euzébio e Ernando.
- Deplorável, mais uma vez, o uso pela TV das infames legendinhas nas canções entoadas pela torcida do Flamengo. A festa da torcida era linda, com certeza - mas futebol, mesmo que do RJ, não é desfile de escola de samba...
Campeonato Brasileiro 2009 - 36ª rodada
22/novembro/2009
FLAMENGO 0 X GOIÁS 0
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
Público: 83.489
Renda: R$ 1.470.905,00.
Cartões amarelos: Rithelly e Leandro Euzébio (Goiás).
FLAMENGO: Bruno; Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan; Airton, Toró, Willians (Kleberson) e Petkovic (Fierro); Zé Roberto (Bruno Mezenga) e Adriano. Técnico: Andrade.
GOIÁS: Harlei; Vitor, Rafael Tolói, Ernando e Leandro Euzébio; Douglas, Léo Lima, Rithelly (Amaral) e Fernando; Iarley e Fernandão (Felipe). Técnico: Hélio dos Anjos.
Foto: Adriano, muito marcado, não ajudou o Flamengo a assumir a liderança (Maurício Val/Terra Esportes).
O clima era de festa no Maracanã, com direito a um belo mosaico de milhares de torcedores compondo a frase "a maior torcida do mundo faz a diferença". Mas logo nos primeiros minutos ficou claro que, se quisesse tirar o Goiás para dançar, o Flamengo ia ter que dar uma variada no seu repertório. Contido pela forte marcação, Petkovic tinha dificuldades para achar espaços. Adriano, isolado, tinha que voltar até o meio de campo para ver a cor da bola. Pouco criativo, o meio de campo flamenguista municiava mal os laterais, e os volantes Airton e Toró passavam pouca segurança atrás. O sistema defensivo do Goiás continha bem o dono da casa, mas as jogadas de ataque do esmeraldino eram centralizadas demais em Léo Lima, que estava em péssima jornada e errava quase tudo. Com isso, o primeiro tempo só podia ser o que foi: tenso, arrastado, sem maiores iniciativas ofensivas de parte a parte.
Lendo bem as dificuldades do jogo, Andrade puxou Willians mais para a direita, para criar mais dificuldades ao jovem e nervoso lateral goiano Douglas. Por ali, sozinho ou em triangulações com Léo Moura, Willians achou algumas das melhores infiltrações do Flamengo na primeira etapa. Mas a melhor chance flamenguista foi de bola parada: Petkovic, aos 21 minutos, cobrou com enorme categoria, e a bola caiu mansamente a centímetros da trave do goleiro Harlei. Mas a melhor jogada da primeira etapa foi goiana: aos 41, Fernandão e Iarley tabelam, Léo Lima fica livre e obriga Bruno a uma defesa difícil. Um final agourento para um primeiro tempo pouco animador dos donos da casa - e para o pobre cavalinho encilhado, que a essa altura já pastava desanimado prevendo seu destino.
O jogo ficou mais emocionante e movimentado no segundo tempo, mas não se pense que isso foi fruto de uma melhora técnica significativa. Pelo contrário: o Flamengo passou a trabalhar ainda menos as jogadas, o Goiás perdeu parte de sua consistência defensiva, e o resultado foi um jogo rápido, nervoso, mas sem que houvesse imposição técnica de nenhum dos lados. O Flamengo até deu jeito de quem ia pressionar no início, mas algumas boas defesas de Harlei foram suficiente para arrefecer os ânimos do rubro-negro. Willians, um dos nomes mais ativos do Flamengo, saiu aos 18 minutos para a entrada de Kleberson - pouco depois o sempre dedicado Petkovic dá lugar ao pouco produtivo Fierro. E aí sim o rubro-negro se perdeu. O lance mais agudo da segunda etapa, aos 22, resume bem o que virou o jogo: um entrevero maluco na área goiana, com direito a botinada na cara do goleiro, puxões de cabelo, unhadas e golpes de full contact, até que a bola espirrasse de algum modo para longe do gol. Muita vontade, pouca inspiração e nenhuma sorte - eis o retrato do Flamengo no domingo do Maracanã.
O cavalo encilhado, antes de jogar a toalha e ir passear em outra freguesia, ainda viu o Flamengo perder algumas boas chances com Adriano e Ronaldo Angelim, o Goiás desperdiçar contra ataques com Felipe e Amaral, Léo Lima coroar sua má atuação aos 37 com um chute horrendo e o goleiro Bruno brincar de Marcos, tentando cabecear uma ou duas bolas alçadas por Léo Moura ao final do jogo. Mas a essa altura a partida já se arrastava rumo ao fim inevitável - e o silêncio de um Maracanã antes preparado para a festa era bastante revelador nesse sentido.
Nada está definitivamente perdido, pelo contrário. Bem ou mal, o empate sem gols diminuiu para um único ponto a distância para o líder São Paulo, e em duas rodadas tudo pode acontecer. Mas, terminada a partida, era indisfarçável a sensação de que o Flamengo tinha deixado passar a chance, titubeado na hora decisiva, ignorado o cavalinho encilhado no momento em que montá-lo era uma pura questão de iniciativa. E agora o time da Gávea terá que encarar Corinthians e Grêmio, torcendo por tropeços de seus adversários para conquistar a taça. Tarefa indigesta para um time cheio de qualidade, mas ao qual faltou tranquilidade e bom futebol na hora mais importante.
Em tempo:
- Destaques no Flamengo: Willians e Petkovic. Destaques no Goiás: Harlei, Leandro Euzébio e Ernando.
- Deplorável, mais uma vez, o uso pela TV das infames legendinhas nas canções entoadas pela torcida do Flamengo. A festa da torcida era linda, com certeza - mas futebol, mesmo que do RJ, não é desfile de escola de samba...
Campeonato Brasileiro 2009 - 36ª rodada
22/novembro/2009
FLAMENGO 0 X GOIÁS 0
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
Público: 83.489
Renda: R$ 1.470.905,00.
Cartões amarelos: Rithelly e Leandro Euzébio (Goiás).
FLAMENGO: Bruno; Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan; Airton, Toró, Willians (Kleberson) e Petkovic (Fierro); Zé Roberto (Bruno Mezenga) e Adriano. Técnico: Andrade.
GOIÁS: Harlei; Vitor, Rafael Tolói, Ernando e Leandro Euzébio; Douglas, Léo Lima, Rithelly (Amaral) e Fernando; Iarley e Fernandão (Felipe). Técnico: Hélio dos Anjos.
Foto: Adriano, muito marcado, não ajudou o Flamengo a assumir a liderança (Maurício Val/Terra Esportes).
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RITHELLY.