Volta o cavalo encilhadinho

O clima era de festa no Maracanã, com direito a um belo mosaico de milhares de torcedores compondo a frase "a maior torcida do mundo faz a diferença". Mas logo nos primeiros minutos ficou claro que, se quisesse tirar o Goiás para dançar, o Flamengo ia ter que dar uma variada no seu repertório. Contido pela forte marcação, Petkovic tinha dificuldades para achar espaços. Adriano, isolado, tinha que voltar até o meio de campo para ver a cor da bola. Pouco criativo, o meio de campo flamenguista municiava mal os laterais, e os volantes Airton e Toró passavam pouca segurança atrás. O sistema defensivo do Goiás continha bem o dono da casa, mas as jogadas de ataque do esmeraldino eram centralizadas demais em Léo Lima, que estava em péssima jornada e errava quase tudo. Com isso, o primeiro tempo só podia ser o que foi: tenso, arrastado, sem maiores iniciativas ofensivas de parte a parte.
Lendo bem as dificuldades do jogo, Andrade puxou Willians mais para a direita, para criar mais dificuldades ao jovem e nervoso lateral goiano Douglas. Por ali, sozinho ou em triangulações com Léo Moura, Willians achou algumas das melhores infiltrações do Flamengo na primeira etapa. Mas a melhor chance flamenguista foi de bola parada: Petkovic, aos 21 minutos, cobrou com enorme categoria, e a bola caiu mansamente a centímetros da trave do goleiro Harlei. Mas a melhor jogada da primeira etapa foi goiana: aos 41, Fernandão e Iarley tabelam, Léo Lima fica livre e obriga Bruno a uma defesa difícil. Um final agourento para um primeiro tempo pouco animador dos donos da casa - e para o pobre cavalinho encilhado, que a essa altura já pastava desanimado prevendo seu destino.
O jogo ficou mais emocionante e movimentado no segundo tempo, mas não se pense que isso foi fruto de uma melhora técnica significativa. Pelo contrário: o Flamengo passou a trabalhar ainda menos as jogadas, o Goiás perdeu parte de sua consistência defensiva, e o resultado foi um jogo rápido, nervoso, mas sem que houvesse imposição técnica de nenhum dos lados. O Flamengo até deu jeito de quem ia pressionar no início, mas algumas boas defesas de Harlei foram suficiente para arrefecer os ânimos do rubro-negro. Willians, um dos nomes mais ativos do Flamengo, saiu aos 18 minutos para a entrada de Kleberson - pouco depois o sempre dedicado Petkovic dá lugar ao pouco produtivo Fierro. E aí sim o rubro-negro se perdeu. O lance mais agudo da segunda etapa, aos 22, resume bem o que virou o jogo: um entrevero maluco na área goiana, com direito a botinada na cara do goleiro, puxões de cabelo, unhadas e golpes de full contact, até que a bola espirrasse de algum modo para longe do gol. Muita vontade, pouca inspiração e nenhuma sorte - eis o retrato do Flamengo no domingo do Maracanã.
O cavalo encilhado, antes de jogar a toalha e ir passear em outra freguesia, ainda viu o Flamengo perder algumas boas chances com Adriano e Ronaldo Angelim, o Goiás desperdiçar contra ataques com Felipe e Amaral, Léo Lima coroar sua má atuação aos 37 com um chute horrendo e o goleiro Bruno brincar de Marcos, tentando cabecear uma ou duas bolas alçadas por Léo Moura ao final do jogo. Mas a essa altura a partida já se arrastava rumo ao fim inevitável - e o silêncio de um Maracanã antes preparado para a festa era bastante revelador nesse sentido.
Nada está definitivamente perdido, pelo contrário. Bem ou mal, o empate sem gols diminuiu para um único ponto a distância para o líder São Paulo, e em duas rodadas tudo pode acontecer. Mas, terminada a partida, era indisfarçável a sensação de que o Flamengo tinha deixado passar a chance, titubeado na hora decisiva, ignorado o cavalinho encilhado no momento em que montá-lo era uma pura questão de iniciativa. E agora o time da Gávea terá que encarar Corinthians e Grêmio, torcendo por tropeços de seus adversários para conquistar a taça. Tarefa indigesta para um time cheio de qualidade, mas ao qual faltou tranquilidade e bom futebol na hora mais importante.
Em tempo:
- Destaques no Flamengo: Willians e Petkovic. Destaques no Goiás: Harlei, Leandro Euzébio e Ernando.
- Deplorável, mais uma vez, o uso pela TV das infames legendinhas nas canções entoadas pela torcida do Flamengo. A festa da torcida era linda, com certeza - mas futebol, mesmo que do RJ, não é desfile de escola de samba...
Campeonato Brasileiro 2009 - 36ª rodada
22/novembro/2009
FLAMENGO 0 X GOIÁS 0
Local: Maracanã, Rio de Janeiro (RJ)
Árbitro: Leandro Vuaden (RS)
Público: 83.489
Renda: R$ 1.470.905,00.
Cartões amarelos: Rithelly e Leandro Euzébio (Goiás).
FLAMENGO: Bruno; Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan; Airton, Toró, Willians (Kleberson) e Petkovic (Fierro); Zé Roberto (Bruno Mezenga) e Adriano. Técnico: Andrade.
GOIÁS: Harlei; Vitor, Rafael Tolói, Ernando e Leandro Euzébio; Douglas, Léo Lima, Rithelly (Amaral) e Fernando; Iarley e Fernandão (Felipe). Técnico: Hélio dos Anjos.
Foto: Adriano, muito marcado, não ajudou o Flamengo a assumir a liderança (Maurício Val/Terra Esportes).
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RITHELLY.