O favorito passou, sim

Se os torcedores de clubes brasileiros que participam da Copa Sul-Americana pensam que foi bom negócio a eliminação do Boca Juniors logo nesta fase preliminar, é bom que saibam que a avaliação está equivocada. Não apenas porque os xeneizes andam mal das pernas, mas porque seu adversário de hoje comprovou, dentro de campo, ser muito mais time e potencial candidato na luta pelo título do segundo torneio continental da América do Sul.

Mesmo jogando com a vantagem de poder empatar sem gols, o Vélez Sarsfield demonstrou porque, afinal, é o atual campeão argentino. Muito mais organizado, o time de Ricardo Gareca impôs desde o início sua maior qualidade coletiva à equipe treinada por Alfio Basile. Salvo por qunze minutos, entre 15 e os 30 da etapa inicial, onde houve equilíbrio, o jogo foi inteiramente dominado pela esquadra de Liniers. A maior qualidade estrutural do Vélez permitiu que várias de suas individualidades aparecessem: Cubero, o capitão, marca como volante e apoia no fator surpresa como um meia de bom passe; o fogoso Cristaldo, autor do gol da vitória, afobou-se por vezes, mas é sempre um perigo pela velocidade e chute forte; isso sem falar em Moralez, baixinho de grande técnica e capacidade de organização ofensiva.

O Boca repetiu a apatia que tem ficado famosa em 2009. Amordaçado por um Vélez que marcava ofensivamente, não encontrou saídas. Riquelme pouco pôde fazer, ainda mais que Insúa foi uma completa nulidade. Palermo, pouco abastecido, sofreu diante da zaga, contestada na seleção, mas eficiente no Fortín. Ibarra e Morel Rodríguez eram obrigados a vigiar homens como Martínez, Cristaldo, Zapata e Moralez, que revezavam-se coordenadamente em cair pelos lados. Nenhum movimento tático do Vélez era em falso, todos tinham um sentido objetivo. O Boca não foi páreo.

A partir do gol de Cristaldo, aos 15 do segundo tempo, só deu Vélez. O placar mínimo não traduz a imensa superioridade do time da casa que, mesmo perdendo muitas chances, nunca chegou a assustar sua torcida com o "quem não faz, leva". Afinal, Basile não conseguiu reabilitar sua equipe dentro do jogo de forma que os xeneizes pudessem ao menos esboçar uma tentativa de empate. A expulsão grosseira de Palermo foi a pá de cal. Isso que vários dos jogadores multicampeões desta década estavam em campo. Não falta qualidade individual de um modo geral, mas há uma depressão evidente na Bombonera.

O Vélez passa bem por um adversário tradicional. Os placares apertados enganam os desavisados. Em princípio, a equipe do Fortín de Liniers é a mais séria inimiga dos clubes brasileiros que estão disputando a Sul-Americana. Diante dos estádios vazios que vimos hoje no Rio e em Goiânia, que de certa forma refletem o quanto os clubes daqui dão de importância ao torneio, não é exagero dizer que, hoje, o time de Ricardo Gareca é o que desponta com algum favoritismo para levantar a taça no fim do ano. Claro que ainda faltam três meses, e a situação até dezembro dentro do Brasileirão e do Apertura podem mudar os rumos e prioridades. Mas é bom que todos estejam avisados desde já a respeito do Vélez Sarsfield.

Copa Sul-Americana 2009 - Fase Preliminar - Jogo de volta
16/setembro/2009
VÉLEZ SARSFIELD 1 x BOCA JUNIORS 0
Local: Fortín, Buenos Aires (ARG)
Árbitro: Saúl Laverni (ARG)
Público: 26.000
Gol: Cristaldo 15 do 2º
Cartão amarelo: Cubero, Insúa e Battaglia
Expulsão: Palermo 38 do 2º
VÉLEZ SARSFIELD: Montoya (5,5), Ponce (6), Sebá Domínguez (5,5), Otamendi (6) e Papa (5,5); Cubero (7), Razzotti (5,5), Zapata (6) e Moralez (7) (Cabral, 36 do 2º - sem nota); Martínez (5,5) (Cristaldo, 34 do 1º - 6,5) e López (6) (Caruso, 40 do 2º - sem nota). Técnico: Ricardo Gareca (7)
BOCA JUNIORS: Abbondanzieri (6,5), Ibarra (5,5), Cáceres (5), Paletta (4) e Morel Rodríguez (5); Medel (5,5) (Marino, 22 do 2º - 4,5), Battaglia (4,5), Insúa (4) (Viatri, 22 do 2º - 5) e Riquelme (5); Noir (4,5) (Gaitán, 35 do 2º - sem nota) e Palermo (3,5). Técnico: Alfio Basile (4,5)

Foto: Otamendi leva vantagem sobre Medel no duelo de argentinos (AFP)