Foi por paixão, não pela grana

Reza a lenda que no século V antes de Cristo João Havelange jogou water pólo no Fluminense. Depois, o belga mudou de esporte e ajudou a transformar o futebol em espetáculo. Nos últimos anos finalmente descobrimos que, ardiloso, ele queria que o ludopédio se tornasse cada vez mais parecido com a atividade que praticava na piscina das Laranjeiras junto com Oscar Niemeyer.

Os exemplos recentes mostram que inexiste a possibilidade de um jogo ser transferido devido às chuvas. As empresas que lucram com o futebol crêem que pior que oferecer um espetáculo de péssima qualidade é fazer desfeita com relação ao horário do jogo.

Dessa forma, era uma partida horrível para os olhos de um amante do futebol, que os dois imortais assistiam no apartamento de Oscar, no Leblon. Havelange, dopado pelas drogas que o fazem ter vida eterna, se regozijava à frente da televisão. “Isso sim que é esporte”, vibrava. Niemeyer viajava em uma cobertura muito louca para o Beira-Rio.

Era evidente que os dois times não treinam para situações específicas como o gramado encharcado. A tática dos chutões e da bola parada era utilizada, mas com imperícia. Na verdade, é difícil precisar se com treinamento, o desempenho melhoraria muito ou se simplesmente era impossível até mesmo acertar os chutões em meio às poças.

Adriano era o único que conseguia oferecer alguma emoção à partida, embora sofrendo boa marcação de Índio e Fabiano Eller. “Que jogador”, dizia João. “O gol é um mero detalhe, o negócio é colocar final de Copa do Mundo ao meio-dia, no auge do verão, para transmitir as partidas em um horário bom para o mercado europeu”, explicava o dirigente ao arquiteto.

Oscar não responde, cara amarrada. “Ah, esqueci que tu és comunista. Mas veja, no caso desses jogos na chuva, faço por paixão, não por dinheiro”. Niemeyer dá de ombros. Vermelho que é, estava mesmo era preocupado em ter um treinador que acredita em Deus, e que não se dá conta de que apenas Sorondo como centro-avante poderia tirar o zero do placar.

Comentários

Vine disse…
Esse comportamento que tu cita do Havelange traduz bem o que a FIFA pensa sobre futebol: fonte de dinheiro, nada mais.