Virada e título maiúsculo

Não foi a grande partida do jogo contra os próprios americanos na primeira fase, ou contra a Itália. Mas foi uma partida onde o Brasil superou seus próprios problemas do primeiro tempo, venceu o forte ferrolho armado pelos Estados Unidos e virou o jogo no fim, na base da transpiração, mostrando poder de reação, que era a única coisa que o time de Dunga não tinha mostrado ainda na Copa das Confederações, porque ainda não havia necessitado disso.

Os americanos saíram à frente e começavam a surpreender o mundo novamente. O Brasil fez um primeiro tempo sofrível. Tinha muito a bola, mas não soube usá-la. Tocava pelo meio, sem conseguir abrir uma fresta sequer na defesa adversária. O time não teve Ramires, que nunca se encontrou em campo. André Santos e Maicon nunca iam até a linha de fundo. Os Estados Unidos, pelo contrário, beiravam o cúmulo da eficiência. Maicon errou passe após escanteio e Donovan iniciou um contra-golpe simplesmente perfeito, que passou por Davies e chegou a Donovan, que limpou e marcou com categoria ímpar.

Era intervalo, e hora de ver como Dunga se sairia. É a hora do treinador: reabilitar o moral de uma equipe que não via soluções e estava sendo batida na final por um time tecnicamente inferior. Pois ele preferiu manter o time. A bronca no vestiário parece ter funcionado, tanto que eram 40 segundos e Luís Fabiano já descontava, belo giro em cima da zaga. Agora eram 45 minutos para marcar só um gol.

Não foi nada de espetacular o segundo tempo brasileiro em termos técnicos e coletivos. Nem havia como ser. O Brasil, antes de jogar bem, tinha é de pressionar. Fazia isso agora com maiores passagens dos laterais, e com Kaká finalmente entrando no jogo a valer. Ele fez o segundo gol, mas o árbitro e o bandeira não viram a bola entrar toda, apesar de ela ter entrado. As alterações, Elano e Daniel Alves nos lugares de Ramires e André Santos, não melhoraram substancialmente o time, mas representaram a saída de peças que não contribuíam como deveriam. Mas Kaká não se abalou com o gol não dado, e fez a jogada do gol de empate, em que Robinho errou mas Luís Fabiano fez.

A determinação impressionante foi a maior virtude do Brasil no segundo tempo. Tanto que, mesmo após conseguir o difícil empate, o time não quis baixar o ritmo, até porque uma prorrogação seria mais benéfica a quem teoricamente cansou menos, que foram os americanos. Então, Elano bateu escanteio e Lúcio, ninguém merece mais que ele, fez o gol do bicampeonato da Copa das Confederações.

Este torneio geralmente termina de encaminhar o time que vai à Copa. Neste caso, é possível dizer que o Brasil tem, além de um time, praticamente um grupo pronto para voltar à África do Sul ano que vem. Ganharam espaço André Santos e Ramires. Luís Fabiano é o centroavante, incontestavelmente. Daniel Alves segue sendo mais jogador que Maicon, e mesmo sem ser titular irá à Copa merecidamente. Robinho, que passou o jogo inteiro brincando de esconde-esconde, é um mistério como ainda tem espaço.

Grande campanha, grande vitória de virada. O Brasil firma uma ideia de time após sete vitórias consecutivas, duas nas Eliminatórias e os 100% de aproveitamento em seu irreparável campanha que terminou hoje. E Dunga conquista seu segundo título à frente da seleção. Nada mau para quem nunca havia treinado um time sequer.

Copa das Confederações 2009 - Final
28/junho/2009
ESTADOS UNIDOS 2 x BRASIL 3
Local: Ellis Park, Johannesburgo (AFS)
Árbitro: Martin Hansson (SUE)
Público: 52.291
Gols: Dempsey 9 e Donovan 26 do 1º; Luís Fabiano 40 segundos e 28 e Lúcio 38 do 2º
Cartão amarelo: Bocanegra, Felipe Melo, André Santos e Lúcio
ESTADOS UNIDOS: Howard (7), Spector (6), Onyewu (6), Demerit (6,5) e Bocanegra (5); Clark (5,5) (Casey, 43 do 2º - sem nota), Feilhaber (5,5) (Kljestan, 29 do 2º - 5), Dempsey (6) e Donovan (7,5); Altidore (5,5) (Bornstein, 29 do 2º - 5) e Davies (5,5). Técnico: Bob Bradley (6)
BRASIL: Júlio César (6), Maicon (5,5), Lúcio (7), Luisão (6) e André Santos (5) (Daniel Alves, 21 do 2º - 5); Gilberto Silva (5,5), Felipe Melo (5), Ramires (4) (Elano, 21 do 2º - 6) e Kaká (7); Robinho (4,5) e Luís Fabiano (7,5). Técnico: Dunga (7)

Foto: Luís Fabiano e Kaká, dois dos melhores em campo hoje (Globo Esporte)

Comentários

Prestes disse…
Não achei sofrível o primeiro tempo do Brasil. Teve algumas chances, como um chute cruzado do Maicon, um do André Santos, um do Robinho pegando de primeira, e um arremate de fora da área do Felipe Mello. Os EUA sim, davam show de eficiência com contra-ataques muito bem armados. E o Howard jogava muito naquele momento.
Prestes disse…
O grupo realmente vai se formando. Felipe Mello e Luis Fabiano se adonaram de suas posições. Em aberto temos a lateral-esquerda e uma vaga no meio. Ramires não garantiu ainda. O Gilberto Silva e o Robinho deveriam balançar, mas acoh muito difícil q isso aconteça.

O André Santos mostrou uma maior capacidade de chamar o jogo que o Kléber, mas não passa de um reserva em uma Copa. Quem mais se fortaleceu na esquerda foi o Marcelo, do Real Madrid, uhuhuhuhuhuhuhasudh
Vicente Fonseca disse…
Qualifiquei o primeiro tempo como sofrível pelo fato de o Brasil ter jogado errado o tempo inteiro. Tentando atuar pelo meio, onde estava congestionado.

Acho que o Ramires vai garantindo lugar no grupo, não no time ainda.
natusch disse…
Esse foi o ponto mais lamentável do Brasil no primeiro tempo: a insistência quase doentia em ir SEMPRE pelo meio, mesmo quando as laterais estavam livres e com opções para serem acionadas - e isso aconteceu várias vezes na primeira etapa.

O segundo tempo não foi de grande futebol, como o Vicente bem colocou. Mas gostei muito de ver um time com vontade de reagir, de buscar um resultado, e que fez por merecer a vitória ainda no tempo normal.

Insisto: Brasil é um dos grandes favoritos na Copa. Tem um grupo de jogadores qualificado, algumas ótimas opções de banco, um esquema que está funcionando e, talvez o mais importante de tudo: encara as coisas de forma SÉRIA, sem palhaçada, buscando os resultados e com o mínimo de badalação. Basta ver o carnaval que era o Brasil 2006 e comparar com agora...
Lique disse…
o contra ataque americano foi lindo, a bola chegou do momento do erro do passe á rede do brasil em, no maximo, cinco toques. sensacional. mas o brasil provou que é forte e tem estrela, meteu a pressão e chegou no resultado. a comemoração do lúcio foi comovente. incrível mesmo o bayern não querer mais o jogador.
Vicente Fonseca disse…
Foi um dos contra-ataques mais geniais que já na vida. O Donovan tem qualidade, tem estilo. Deu um drible maravilhoso no Ramires antes de concluir.

Não entendi como o Bayern não quer o Lúcio, um dos melhores zagueiros que já vi jogar.
Little Potato disse…
Quem não quer o Lúcio é o Louis Van Gaal, novo técnico do Bayern, que nunca gostou de jogadores brasileiros. Explica muita coisa.
De resto, é bom ver a Seleção jogando como time, e não como a "seleção dos melhores", cheia de quadrados e losangos mágicos... Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum. :P
Umas três trocas pontuais, e a Copa do Mundo vai ser um passeio.
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Lá pelas tantas, percebemos que toda vez que o Robinho aparecia na tela, o vizinho gritava:" - Vai à m***@, seu I-N-Ú-T-I-L !!!"
Nós adotamos e virou mantra. Robinho na tela, e os gritos de "INÚTIL" ecoavam pela sala.
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Muito melhor que xingar o Galvão, eu admito.
Prestes disse…
"Acho que o Ramires vai garantindo lugar no grupo, não no time ainda."

Exato. Também achei um dos contra-ataques mais sensacionais já vistos.