Ninguém morrerá no Mineirão

Muito tem se falado em manual de sobrevivência, em cartilha para voltar vivo. As desconfianças que pairam sobre o Grêmio advêm das recentes atuações medianas, do fato de o time não ter enfrentado equipes realmente candidatas nesta Libertadores, do retrospecto diante do Cruzeiro no Mineirão e da força do time mineiro, que realmente é uma equipe qualificada e mais experiente que a do ano passado. Mas sabemos que tudo deriva dos Gre-Nais do começo do ano, é inegável, por mais longe que eles já estejam de nós agora.

O Cruzeiro se impôs com autoridade sobre o São Paulo. É uma boa credencial. Vem bem na Libertadores, tem mostrado bom futebol, mas nada de excepcional. Tem forças em Jonathan, o que certamente causará a escalação do mais comedido Fábio Santos em detrimento de Jadílson; em Wagner, o que justifica os dois volantes; e em Kléber, que prenderá Léo e Réver, que dificilmente terão liberdade para as arrancadas costumeiras (ainda que, no 4-4-2, raramente as tenham tentado). Faltam Ramires e Fernandinho, o que não é pouco.

Pois o tal manual de sobrevivência, invocado apenas aqui no Rio Grande, que sempre aparece com aquele exagero malicioso de que o Grêmio não é capaz de fazer frente ao Cruzeiro, inclui não levar gols cedo (foi assim em 1997 e no ano passado, aos 13 segundos) e fazer um gol fora de casa. Isto inclui não jogar recuado demais. Atuar no campo mineiro após segurar uma normal pressão inicial. Jogar muito atrás fora de casa inflama a torcida; não deixar o adversário pressionar a irrita, o que torna tudo mais ansioso e difícil. Estas são as principais tarefas de hoje à noite. Não cair nas provocações de Kléber também, mas o medo que se cria em torno dele tem lá sua dose de mito também.

O que seria morrer no Mineirão? Levar 3 a 0, ou mais. O 2 a 0 é passível de reversão no Olímpico, quem sabe nos pênaltis. Marcando gols, dificilmente o Grêmio "morre" em Minas Gerais. A diferença entre os times, se é que existe, não é tão visível a olho nu a ponto de alguém aplicar goleada naturalmente. Até porque o tricolor não perdeu fora de casa por diferença larga nenhuma vez este ano (Caxias e noves fora), e tampouco o Cruzeiro goleou, a não ser o Estudiantes, onde a diferença de escore engana a quem não viu aquela partida. Por isso, é remota a chance de goleada do Cruzeiro hoje, como será semana que vem do Grêmio, no Olímpico. Mas a desconfiança é boa, e a precaução é sempre bem-vinda.

Para o Grêmio, restam duas dúvidas na escalação, mais criadas por quem vê o jogo de fora que por Paulo Autuori: Thiego ou Ruy? Herrera ou Alex Mineiro? Os dois carequinhas levam vantagem na disputa, ainda que, para este jogo, os outros dois me pareçam mais adequados. Não é obrigatório que a escalação de um zagueiro na lateral-direita faça o time ficar recuado demais. No Maracanã, exemplo de boa atuação fora de casa, não foi assim. Aliás, aquele 0 a 0 não é grande resultado, mas serviria para classificar com vitória simples aqui.