A empáfia na roda

Uma tarde que era para ser marcada pela dualidade e equilíbrio, foi absolutamente do Barcelona. Só sua torcida cantou; só seus jogadores jogaram. O Barça foi o protagonista absoluto da noite romana, que viu a equipe de Josep Guardiola praticar um futebol completo, maravilhoso, irreparável, e lavantar a Europa pela terceira vez em sua história, baixando a crista de superioridade dos então atuais campeões.

No duelo particular entre Cristiano Ronaldo e Messi, brilharam Xavi e Iniesta. Ambos fizeram de tudo no Stadio Olimpico: desarmaram, driblaram, acharam espaços que pareciam não existir, cavaram faltas, deram assistências, concluíram. Só não fizeram gols. Mas construíram a jogada de ambos, tanto o de Eto'o quando o de Messi. Até o primeiro gol, porém, era o Manchester United quem dominava. Cristiano Ronaldo tinha liberdade e já criara ao menos duas chances claras de fazer o primeiro gol do jogo. Messi estava sumido, pelo outro lado. Foi aí que os dois gênios da meia-cancha catalã começaram a entrar no jogo: Iniesta lançou Eto'o, que driblou Carrick e fez de bico o 1 a 0. Eram 9 minutos.

Foi um balde de água fria no time de Ferguson, que não esperava sair em desvantagem tão cedo. Tomar um gol nesta altura do jogo deste Barcelona é terrível, pois é uma equipe que explora os contra-golpes como poucas. Carrick e Anderson não sabiam se marcavam Xavi e Iniesta ou os três atacantes. Havia um buraco enorme para os quatro homens de frente da equipe inglesa. Só Cristiano Ronaldo jogava, diante de Rooney, Park e Giggs absolutamente apáticos. O Barcelona, por outro lado, estava senhor do jogo. O meio trocava passes com serenidade, a defesa foi muito firme (Piqué e Busquets foram absolutamente implacáveis). Havia espaços que ambos os laterais aproveitavam, tanto Sylvinho quanto Puyol.

O segundo tempo só ampliou a superioridade catalã. Ferguson tirou Anderson em favor de Tévez, mais um erro. Empilhar atacantes não era a solução, mas sim por alguém no meio que fizesse o vaivém para abastecer os homens de frente. Este alguém era Scholes, que inexplicavelmente aguardava no banco enquanto Park fazia partida patética. Os primeiros 10 minutos foram todos do Barça, que poderia ter ampliado. Quando o jogo se encaminhava de novo para o equilíbrio (com controle total do Barcelona, diga-se), foi a vez de Xavi desequilibrar: levantou na cabeça de Messi, que subiu mais que Ferdinand e, com estilo, decretou o título de cabeça. Xavi e Iniesta, Iniesta e Xavi: quem olhar só para o placar e a ficha técnica do jogo talvez se esqueça que estes foram os grandes nomes da final de hoje.

No fim, um totó constrangedor que culminou com o título dos catalães. O Barcelona voltará ao Mundial Interclubes certamente concentradíssimo para evitar uma terceira derrota na final. Apesar da maior consistência da campanha do Manchester United, é impossível dizer que o melhor não ganhou hoje, diante da superioridade gritante apresentada em campo pelo time de Guardiola. Uma equipe que fez 157 gols em 61 jogos na temporada, que marcou como time pequeno (mesmo com a defesa absolutamente desfalcada) e definiu como time grande. A Europa tem, sem sombra de dúvida, um grande campeão. E Ferguson, ao contrário de Guardiola, errou tudo hoje. Escalou errado, trocou errado e na hora errada. Com atuações técnicas do nível que o Barça teve é difícil colocar na conta dos técnicos o resultado, mas a diferença entre a atuação dos dois times foi refletida também pela diferença na atuação de seus comandantes.

Copa dos Campeões da Europa 2008/09 - Final
27/maio/2009
BARCELONA 2 x MANCHESTER UNITED 0
Local: Olimpico, Roma (ITA)
Árbitro: Massimo Busacca (SUI)
Público: 72.700
Gols: Eto'o 9 do 1º; Messi 24 do 2º
Cartão amarelo: Piqué, Cristiano Ronaldo, Scholes e Vidic
BARCELONA: Valdés (6), Puyol (7), Yaya Touré (7), Piqué (7,5) e Sylvinho (5,5); Busquets (6,5), Xavi (8) e Iniesta (8,5) (Pedrito, 45 do 2º - sem nota); Messi (7), Eto'o (6,5) e Henry (5,5) (Keita, 26 do 2º - 5,5). Técnico: Josep Guardiola (9,5)
MANCHESTER UNITED: Van der Sar (7), O'Shea (4,5), Ferdinand (4,5), Vidic (5) e Evra (4,5); Carrick (4,5), Anderson (4,5) (Tévez, intervalo - 5), Park (4) (Berbatov, 20 do 2º - 5) e Giggs (4,5) (Scholes, 29 do 2º - 4); Cristiano Ronaldo (5) e Rooney (4,5). Técnico: Alex Ferguson (2)

Comentários

Little Potato disse…
Os Chélseos jogaram 180 minutos retrancados, e os Deuses do futebol levaram a bola chutada por Iniesta nos descontos até o ângulo de Cech.
Era a lição que os ingleses precisavam. Mas não ! O Cristiano Ronaldo continuou fazendo as sobrancelhas, e o coreano (COREANO!!!) seguiu jogando, enquanto Anderson ia para o banco, onde o Tévez ficou os primeiros 45 minutos.
Não deu outra. O castigo veio. Merecido.
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A diferença entre C.Ronaldo e Messi ? Um deles joga para o time.
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A diferença entre Berbatov, Nilmar e Kléber Gladiador ? Dois jogam no Brasil, e nunca jogaram num time de ponta europeu. E são muito melhores que o outro.
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Por fim: - Grande jogo, Puyol ! A nação vermelha jamais te esquecerá !
André Kruse disse…
Ninguém do Manchester jogou bem.

Ferguson fez uma grande confusão.

C.Ronaldo não é centro-avante e jogou como tal. Rooney (que é centro-avante) não é ponta e jogou como tal. Giggs (que é ponta) jogou como meia.Anderson (que é meia) jogou como volante. Park não é jogador de futebol, e Scholes jamais pode ser banco.

Achei meio baixa a nota que tu deu para o Sylvinhp e para o Rooney.
Vicente Fonseca disse…
O Sylvinho fez bom primeiro tempo, mas no segundo levou umas bolas nas costas. Já o Rooney foi o contrário: acho que fez um segundo tempo até digno, mas não existiu no primeiro.
Luís Felipe disse…
prevejo muitos estudos no final do ano dizendo que esse Barcelona é o melhor de todos os tempos, melhor apenas que o Hamburgo de 1983.
Lourenço disse…
Luís, eu noto justamente um esforço para desqualificar aquele Hamburgo. Se a discussão é grenal, nunca ouvi gremista dizer que o time do Hamburgo era uma máquina lendária, exageros assim. Já ouvi muitos colorados, no entanto, ironizarem o Hamburgo, sem contar a lenda de que não foi verdadeiramente campeão da Europa em 1983.

Sobre os Barcelonas, eu acho muito parelho mesmo, dois grandes times. Talvez ficasse com o de 2006, parecia-me um time com um pouco mais de consistência, justamente por ser o terceiro ano de uma mesma base.
Lourenço disse…
Eu entendi que é ironia, mas acho que não se justifica...enfim
Prestes disse…
Bah, o cara não escalar o jogador mais experiente, e mais representativo do clube na final da Champions League não tem explicação.