Eles acreditaram
Por Pedro Heberle*
Quando Argel Fucks, técnico do Caxias, disse na semana passada que o Internacional, seu rival na final da Taça Fábio Koff, era o melhor time do mundo, ele não contava com uma coisa: que o próprio Inter acreditasse.
Pois, ao que parece, foi isso que aconteceu.
A declaração do jovem treinador, com o claro intuito de transferir toda a responsabilidade para o Internacional e assim desestabilizá-lo, teve efeito contrário ao esperado. Suas palavras acabaram por assustar seus próprios jogadores.
O Internacional foi avassalador. O jogo começou com o Caxias tentando apresentar um esboço de pressão sobre o time da casa, insuficiente contra um Inter que ocupava com facilidade todos os espaços do campo. Logo aos seis minutos, após dois arremates defendidos pelo goleiro caxiense, o Internacional chegou ao seu primeiro gol. Após cobrar escanteio na ponta direita, D’Alessandro viu a bola rebater e voltar para seu pé esquerdo. Após driblar o zagueiro, cruzou com a perna direita, fugindo do clichê imposto àqueles desprovidos da habilidade de um ambidestro. Magrão, que decidira a Taça Fernando Carvalho, cabeceou consciente para começar a decidir também a Fábio Koff.
Aos quinze minutos, Kléber avançou pela esquerda e cruzou com a precisão de um neurocirurgião para Taison ampliar. Três minutos depois, Nilmar aproveitou bela jogada de Magrão e Bolívar para, quase sem ângulo, fazer o terceiro gol do Inter. A essa altura a torcida já gritava não apenas “É Campeão!” como também um sonoro “Olé!”, algo raramente ouvido aos 20 minutos de uma partida decisiva.
Nilmar, que no meio da semana chegou a figurar como dúvida para a partida, fez mais um após falha da atordoada zaga do Caxias. Era o seu 13º gol na competição, apenas dois a menos que o artilheiro Taison. Pouco depois, aos 28 minutos, o atacante sofreu pênalti não marcado por Leandro Vuaden.
O jogo se encaminhava de maneira tão positiva para o Inter que houve espaço até mesmo para Guiñazu fazer seu gol. E um belo gol. Aproveitando triangulação com Nilmar e D’Alessandro, o capitão colorado concluiu com precisão e fez o quinto do time da casa aos 32 minutos.
O Internacional treinava em campo. A pouco menos de dez minutos do fim do primeiro tempo, a equipe iniciou uma bela troca de passes no campo inteiro que culminou aos 39 minutos: na conclusão da jogada, Magrão ou errou um cruzamento, ou fez o gol mais bonito da partida. Da intermediária, o volante encobriu o goleiro Rafael Lopes e acertou o ângulo direito. Era o sexto.
Faltando dois minutos para o fim da primeira etapa, o Beira-Rio testemunhou uma cena de generosidade. Mesmo ameaçado por Nilmar na briga pela artilharia, Taison, ao entrar livre na área, retardou a jogada e passou a bola para D’Alessandro fazer o seu. “Isso é só a retribuição por todas as vezes que ele me passa a bola”, disse o atacante. Terminava o primeiro tempo, e no novo placar eletrônico do Beira-Rio lia-se: Internacional 7 x 0 Caxias.
Nesse momento, a tendência era que a goleada de 8 a 1, aplicada sobre o Juventude em 2008, fosse não apenas repetida, mas superada. Entretanto, o vestiário pareceu ter feito bem ao Caxias, que voltou mais sereno para campo. O Inter diminuiu consideravelmente o ritmo; parecia já estar pensando na decisão contra o Guarani de Campinas, na quarta-feira, pela Copa do Brasil. Aos 13 minutos, D’Alessandro foi substituído por Andrezinho e Nilmar, por Alecsandro. Esta última alteração definiu antecipadamente a artilharia do campeonato, pois era Nilmar o único que ameaçava Taison e seus 15 gols.
Aos 19 minutos entrou no Caxias o atacante colombiano Cristian Borja, primo de Rentería, um dos heróis na conquista colorada da Libertadores. E mesmo jogando contra o Internacional, fez por um momento a torcida lembrar do primo – em seu primeiro minuto em campo, driblou Índio, tabelou na área de Lauro e fez um golaço. Um legítimo “gol de honra”.
Mas, no jogo inteiro, foi só o que o Caxias produziu. Passados 30 minutos do segundo tempo, quando Marcelo Cordeiro já havia entrado no lugar de Magrão, a torcida colorada começou a pedir “mais um!”. E levou. Aos 43, Kléber – que, mesmo apático, demonstra a cada toque porque merece estar na seleção brasileira – cruzou na medida para Álvaro fazer seu primeiro gol com a camisa colorada, fechar a goleada e sagrar o Inter Campeão Gaúcho de 2009 de maneira invicta.
Evidentemente, não foi a polêmica declaração de Argel que deu ao Internacional o título da Fábio Koff. A vitória, massacrante, coroou uma superioridade que, se contra o Grêmio era grande, diante dos times do interior é incomensurável. Desde o campeonato de 2007, quando o Grêmio goleou o Juventude por 4 x 0 na final, pode-se constatar uma triste realidade: o futebol gaúcho não é mais parâmetro para a dupla Gre-Nal. Nos últimos 50 anos, Inter e Grêmio ganharam todos os Gauchões (com as honrosas exceções de 1998 e 2000), mas nunca com a facilidade encontrada nos últimos três anos.
O Inter é o melhor time do mundo? Não. É o melhor time do Brasil? Talvez. Mas é preciso provar nas competições nacionais. Com o elenco disponível e as últimas atuações, as perspectivas são boas. Perguntado sobre o porquê do aproveitamento tão alto de seu time, o volante Magrão foi taxativo: “O Tite tem o time na mão”.
FICHA TÉCNICA
INTERNACIONAL 8 X 1 CAXIAS
Local: Estádio Beira-Rio (Porto Alegre, RS)
Data-hora: 19/04/2009 – 16h (horário de Brasília)
Árbitro: Leandro Vuaden
Auxiliares: Altemir Hausmann e Paulo Conceição
Cartão amarelo: D’Alessandro (I), Santin, Diogo Brito (C)
Gols: Magrão 6, Taison 12, Nilmar 18, Nilmar 22, Guiñazú 32, Magrão 40, D’Alessandro 43 do primeiro tempo; Cristian Borja (C) 20 e Álvaro 43 do segundo.
INTERNACIONAL: Lauro; Bolívar, Indio, Álvaro e Kleber; Sandro, Magrão (Marcelo Cordeiro 28/2T), Guiñazú e D’Alessandro (Andrezinho 13/2T); Taison e Nilmar (Alecsandro 13/2T). Técnico: Tite.
CAXIAS: Rafael Lopes; Edenílson, Vágner Garibaldi, Santín e Brida; Zacarias (Diogo Brito 33/1T), Roberto, Marielson e Guilherme (Vágner intervalo); Julio Madureira (Cristian Borja 19/2T) e Marcos Denner. Técnico: Argel Fucks.
* Pedro Heberle é estudante de Jornalismo na UFRGS e participante do Carta na Mesa desde novembro de 2008.
Quando Argel Fucks, técnico do Caxias, disse na semana passada que o Internacional, seu rival na final da Taça Fábio Koff, era o melhor time do mundo, ele não contava com uma coisa: que o próprio Inter acreditasse.
Pois, ao que parece, foi isso que aconteceu.
A declaração do jovem treinador, com o claro intuito de transferir toda a responsabilidade para o Internacional e assim desestabilizá-lo, teve efeito contrário ao esperado. Suas palavras acabaram por assustar seus próprios jogadores.
O Internacional foi avassalador. O jogo começou com o Caxias tentando apresentar um esboço de pressão sobre o time da casa, insuficiente contra um Inter que ocupava com facilidade todos os espaços do campo. Logo aos seis minutos, após dois arremates defendidos pelo goleiro caxiense, o Internacional chegou ao seu primeiro gol. Após cobrar escanteio na ponta direita, D’Alessandro viu a bola rebater e voltar para seu pé esquerdo. Após driblar o zagueiro, cruzou com a perna direita, fugindo do clichê imposto àqueles desprovidos da habilidade de um ambidestro. Magrão, que decidira a Taça Fernando Carvalho, cabeceou consciente para começar a decidir também a Fábio Koff.
Aos quinze minutos, Kléber avançou pela esquerda e cruzou com a precisão de um neurocirurgião para Taison ampliar. Três minutos depois, Nilmar aproveitou bela jogada de Magrão e Bolívar para, quase sem ângulo, fazer o terceiro gol do Inter. A essa altura a torcida já gritava não apenas “É Campeão!” como também um sonoro “Olé!”, algo raramente ouvido aos 20 minutos de uma partida decisiva.
Nilmar, que no meio da semana chegou a figurar como dúvida para a partida, fez mais um após falha da atordoada zaga do Caxias. Era o seu 13º gol na competição, apenas dois a menos que o artilheiro Taison. Pouco depois, aos 28 minutos, o atacante sofreu pênalti não marcado por Leandro Vuaden.
O jogo se encaminhava de maneira tão positiva para o Inter que houve espaço até mesmo para Guiñazu fazer seu gol. E um belo gol. Aproveitando triangulação com Nilmar e D’Alessandro, o capitão colorado concluiu com precisão e fez o quinto do time da casa aos 32 minutos.
O Internacional treinava em campo. A pouco menos de dez minutos do fim do primeiro tempo, a equipe iniciou uma bela troca de passes no campo inteiro que culminou aos 39 minutos: na conclusão da jogada, Magrão ou errou um cruzamento, ou fez o gol mais bonito da partida. Da intermediária, o volante encobriu o goleiro Rafael Lopes e acertou o ângulo direito. Era o sexto.
Faltando dois minutos para o fim da primeira etapa, o Beira-Rio testemunhou uma cena de generosidade. Mesmo ameaçado por Nilmar na briga pela artilharia, Taison, ao entrar livre na área, retardou a jogada e passou a bola para D’Alessandro fazer o seu. “Isso é só a retribuição por todas as vezes que ele me passa a bola”, disse o atacante. Terminava o primeiro tempo, e no novo placar eletrônico do Beira-Rio lia-se: Internacional 7 x 0 Caxias.
Nesse momento, a tendência era que a goleada de 8 a 1, aplicada sobre o Juventude em 2008, fosse não apenas repetida, mas superada. Entretanto, o vestiário pareceu ter feito bem ao Caxias, que voltou mais sereno para campo. O Inter diminuiu consideravelmente o ritmo; parecia já estar pensando na decisão contra o Guarani de Campinas, na quarta-feira, pela Copa do Brasil. Aos 13 minutos, D’Alessandro foi substituído por Andrezinho e Nilmar, por Alecsandro. Esta última alteração definiu antecipadamente a artilharia do campeonato, pois era Nilmar o único que ameaçava Taison e seus 15 gols.
Aos 19 minutos entrou no Caxias o atacante colombiano Cristian Borja, primo de Rentería, um dos heróis na conquista colorada da Libertadores. E mesmo jogando contra o Internacional, fez por um momento a torcida lembrar do primo – em seu primeiro minuto em campo, driblou Índio, tabelou na área de Lauro e fez um golaço. Um legítimo “gol de honra”.
Mas, no jogo inteiro, foi só o que o Caxias produziu. Passados 30 minutos do segundo tempo, quando Marcelo Cordeiro já havia entrado no lugar de Magrão, a torcida colorada começou a pedir “mais um!”. E levou. Aos 43, Kléber – que, mesmo apático, demonstra a cada toque porque merece estar na seleção brasileira – cruzou na medida para Álvaro fazer seu primeiro gol com a camisa colorada, fechar a goleada e sagrar o Inter Campeão Gaúcho de 2009 de maneira invicta.
Evidentemente, não foi a polêmica declaração de Argel que deu ao Internacional o título da Fábio Koff. A vitória, massacrante, coroou uma superioridade que, se contra o Grêmio era grande, diante dos times do interior é incomensurável. Desde o campeonato de 2007, quando o Grêmio goleou o Juventude por 4 x 0 na final, pode-se constatar uma triste realidade: o futebol gaúcho não é mais parâmetro para a dupla Gre-Nal. Nos últimos 50 anos, Inter e Grêmio ganharam todos os Gauchões (com as honrosas exceções de 1998 e 2000), mas nunca com a facilidade encontrada nos últimos três anos.
O Inter é o melhor time do mundo? Não. É o melhor time do Brasil? Talvez. Mas é preciso provar nas competições nacionais. Com o elenco disponível e as últimas atuações, as perspectivas são boas. Perguntado sobre o porquê do aproveitamento tão alto de seu time, o volante Magrão foi taxativo: “O Tite tem o time na mão”.
FICHA TÉCNICA
INTERNACIONAL 8 X 1 CAXIAS
Local: Estádio Beira-Rio (Porto Alegre, RS)
Data-hora: 19/04/2009 – 16h (horário de Brasília)
Árbitro: Leandro Vuaden
Auxiliares: Altemir Hausmann e Paulo Conceição
Cartão amarelo: D’Alessandro (I), Santin, Diogo Brito (C)
Gols: Magrão 6, Taison 12, Nilmar 18, Nilmar 22, Guiñazú 32, Magrão 40, D’Alessandro 43 do primeiro tempo; Cristian Borja (C) 20 e Álvaro 43 do segundo.
INTERNACIONAL: Lauro; Bolívar, Indio, Álvaro e Kleber; Sandro, Magrão (Marcelo Cordeiro 28/2T), Guiñazú e D’Alessandro (Andrezinho 13/2T); Taison e Nilmar (Alecsandro 13/2T). Técnico: Tite.
CAXIAS: Rafael Lopes; Edenílson, Vágner Garibaldi, Santín e Brida; Zacarias (Diogo Brito 33/1T), Roberto, Marielson e Guilherme (Vágner intervalo); Julio Madureira (Cristian Borja 19/2T) e Marcos Denner. Técnico: Argel Fucks.
* Pedro Heberle é estudante de Jornalismo na UFRGS e participante do Carta na Mesa desde novembro de 2008.
Comentários
Este Inter de 2009, a meu ver, pode ser comparado ao Palmeiras de 1996. Não é um time tão incrível e caro como aquele, que beirava uma seleção brasileira, mas passou o rodo no Estadual e firma-se como o melhor futebol do Brasil nos primeiros meses do ano. Assim como aquele Palmeiras, ganhou os clássicos, fez um número de gols impressionante no ano (102 a 71) e entra como um dos candidatos no Brasileiro, ainda mais com a vacina de 2008.
E obrigado ao Pedro por atender meu pedido. Não queria perder a chance de assistir a um São Paulo x Corinthians em favor de uma partida na qual eu já sabia o que aconteceria. Ainda mais outro 8 a 1. Valeu, Pedrão!
mas méritos ao Inter que levou a partida mto a sério e passou por cima do adversário, com uma seriedade que impressionou.
Pelos meus cálculos, Ulbra e Veranópolis, cada um com 28 pontos, foram os dois melhores depois de Inter e Grêmio. O Ypiranga e o Juventude fizeram 26 e o Caxias foi só o sétimo, com 25.
Ironias ferinas à parte, não vi o jogo, mas pelo placar elástico e o 7 a 0 no intervalo não dá para deduzir outra coisa que não um retumbante massacre, digno do time que foi mesmo o melhor do campeonato o tempo todo. Falta ao Inter agora fazer o que não soube fazer ano passado, quando também passou o rodo na final do Gauchão: fazer esse desempenho se reproduzir nas demais competições nacionais do ano. Potencial tem muito, e só cego ou louco para não ver.
Não serve de parâmetro para quase nada, mas não é um título para se desprezar, da forma como foi conquistado. Sei que o adversário era o Caxias, e provavelmente os que "estavam de folga" ontem vão berrar, mas com essa marcação na saída de bola, a troca de passes curtos e a rotação dos jogadores do meio pra frente, o Inter está se tornando no mais argentino dos times brasileiros.
Se começar a jogar assim fora de casa, a decepção por não estar na Libertadores vai ser logo esquecida.
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Mas eu ainda quero a Dupla fora do Gauchão. Volta Sul-Minas.
Tô ouvindo o Carta na Mesa da semana passada e ele DECRETOU que seria novo 8 a 1.
Pior é que o guri não teve culpa, ao menos analisando objetivamente.
Ao menos analisando objetivamente. [2]
imagina se ele leva 7 gols no primeiro tempo, o que não estaria sendo especulado agora.