Goleada de futebol

Uma das melhores coisas que eu fiz nos últimos dias foi ter visto a este Manchester United x Liverpool que acabou há minutos atrás. Nunca me perdoarei por ter perdido os primeiros 20 minutos do duelo, mas mesmo assim a sensação de ter visto uma grande partida de futebol é realmente fantástica. Desnecessário dizer que sempre é recomendável tentar acompanhar a um duelo como este, um dos mais cheios de atrativos que podemos encontrar. Aliás, são tantos que merecerão parágrafo exclusivo.

É o maior clássico do futebol inglês, sendo que a Premier League, além de ser o mais forte torneio nacional europeu, é também o mais interessante e disputado. A rivalidade dos dois clubes atinge jogadores, dirigentes e, claro, torcedores. Há 45 anos um jogador de um dos dois clubes não se transfere diretamente para o outro. Fora do campo, dois grandes treinadores. Um estádio cheio, tradicional e moderno, gigantesco. Em campo, dois dos melhores times do mundo: há menos de uma semana, um deles bateu a Internazionale, o outro goleou o Real Madrid. Um excepcional árbitro, dois grandes goleiros, quatro excelentes zagueiros, dois dos melhores centroavantes do mundo (Torres é o melhor há algum tempo), o atual melhor jogador do mundo pela FIFA (Cristiano Ronaldo) e o mais técnico e, provavelmente, melhor jogador do mundo neste exato momento (Steven Gerrard). Para rebater, aos gremistas, Lucas e Anderson, as duas maiores revelações do clube nesta década.

Quando liguei a TV, o Manchester United abria o placar, com Cristiano Ronaldo batendo pênalti. E, então, começou a reação do Liverpool, com Fernando Torres deslocando Van der Sar com categoria ímpar. Depois, ele próprio se encarregou de servir Gerrard, que foi derrubado por Evra e sofreu pênalti, convertido pelo próprio meia. Os visitantes foram ao intervalo em vantagem, e de virada.

Para o segundo tempo, Ferguson preparou uma blitz para cima do time de Rafa Benítez. Por boa parte do tempo, o Liverpool não conseguia passar do meio-campo e encaixar um contra-golpe. Alguns duelos particulares chamavam a atenção: Mascherano x Tévez e Fábio Aurélio segurando Cristiano Ronaldo com maestria eram os dois melhores. Quando o jogo se encaminhava para o equilíbrio, Sir Alex colocou numa só tacada Giggs, Berbatov e Scholes. Desnecessário dizer que, como tem sido há dois anos, os grandes erros deste mito escocês foram escalar em Park como titular e insistir em colocar Anderson tão recuado a ponto de virar um Park com técnica.

Aí, o lance que mudou tudo. Gerrard escapa de Vidic, que o derruba. Expulsão e falta, convertida por Fábio Aurélio com precisão cirúrgica. Aliás, este é um jogador que merece chance na seleção de Dunga. Hoje anulou o jogador mais completo do futebol mundial, mostrando sua excelência na marcação. Nas poucas vezes que vai à frente, mostra sempre qualidade. Não é porque não passa o pé por cima da bola e não ginga insistentemente que não é ótimo lateral. Se Maicon e Kléber são convocados dezenas de vezes sem jogar metade disso com o manto canarinho, é uma incoerência deixar de fora Fábio Aurélio, que há anos vem fazendo boas temporadas pelo Liverpool.

O gol matou de vez o Manchester United. Até Cristiano Ronaldo errou dois lances bisonhos. O Liverpool estava muito mais perto da goleada que de sofrer o segundo gol. E o 4 a 1 veio num lançamento de Reina, o melhor goleiro em termos de reposição de bola do planeta. Num toque, deixou Dossena na cara de Van der Sar. O toquinho encobriu o gigante holandês e reabriu o Campeonato Inglês: a diferença entre os dois é de apenas quatro pontos, com o Chelsea incluído na parada.

Raras são as vezes em que se vê um jogo tão empolgante, com a técnica usada em favor do futebol, e não em prol de um espetáculo circense. Um jogo completo, que recomendo a todos que vejam, mesmo os que não são fãs de futebol europeu.

Foto: AFP

Comentários

Lique disse…
assisti ao jogo inteiro de pé, fantasiado de mímico, no meio de uma festa. heh.

gostei bastante do jogo e, por algum motivo, me vi torcendo pelo liverpool, mesmo que, oficialmente, não tenha preferência por nenhum dos 4 principais times da inglaterra. acho que o que me fez começar a torcer por eles foi o pênalti mal marcado em cima do park, afinal, a bola já estava quase fora quando houve o leve contato.

fernando torres tem sido realmente excepcional.

quanto aos gremista, mesmo tendo perdido o jogo, achei o ânderson bem melhor que o lucas. sempre fico constrangido quando tem jogador brasileiro participando desses jogos e não jogando bem, ainda mais por que andei lendo em fóruns de torcedores do liverpool que o lucas foi vaiado num jogo da semana passada e muitos ainda ali criticaram as atuações dele nessa temporada. ambos os volantes, pra mim, na maioria das vezes, quando não dão passes burocráticos, mandam a chamada BOLA LÔCA. mas o ânderson anda tentando uns lançamentos mais objetivos, apesar de ainda não ter me convencido de que ele é volante e não meia-atacante.

entre os brasileiros, quem se salvou mesmo foi o fábio aurélio, forte e consistente. na real, o jogo dele nem parece de brasileiro e sim de ITALIANO ou algo semelhante.
Vicente Fonseca disse…
O Lucas ficou muito preso à marcação, mas achei ele bem, dentro desta função de sair pouco para o jogo.

O Anderson não foi mal, mas é o que eu sempre digo: está sendo completamente desperdiçado jogando ali. Mas se ele diz que gosta de ficar por ali, impossível mudar.
Anônimo disse…
esse vidic adora ser expulso, né não?!
Anônimo disse…
Difícil pensar em um jogo mais interessante do que United e Liverpool, hoje em dia.