De crime em crime se vai à Copa

Se o Brasil tivesse vencido o Equador como fazia até os 44 minutos do segundo tempo nesta tarde em Quito, teria sido um crime ainda maior que aqueles 2 a 1 sobre o Uruguai, lá no começo das Eliminatórias, no Morumbi. Porque naquele jogo a equipe de Dunga ao menos tentava jogar, tinha posse de bola, e por incompetência perdia sempre e dava à celeste a oportunidade de contra-golpear e aplicar o chocolate. Hoje, nem isso houve. Portou-se como time pequeno diante de um grande. Foi como se o Brasil estivesse com a camisa equatoriana e a Venezuela com a brasileira.

A postura brasileira foi errada desde o início, mas com Ronaldinho escalado no carteiraço isso já era de certa forma esperado. Na altitude, os jogadores estiveram longe um do outro e só tentavam lançamentos longos como forma de desafogo. O Brasil não foi um time de 11: foi uma equipe de 8 jogadores e outra de 3 isolados na frente. A seleção equatoriana partiu para cima desde o princípio. Ganhava no físico todas as divididas, marcava a saída de bola do time de Dunga e impedia que os três da frente entrassem no jogo. Kaká, obviamente, fez muita falta. Porque, em situações assim, ele recua para buscar o jogo, não fica olhando a coisa ficar preta de vez, como se não fosse problema dele. Aproximaria-se de Elano, faria Robinho e Luís Fabiano entrarem no jogo. Até os laterais, que não puderam subir pela volúpia dos adversários, poderiam sair mais.

Assim, o Equador pegava um adversário completamente recuado mas que, ao mesmo tempo, estava em desvantagem numérica, pois jogava mesmo com oito jogadores. Por isso, Mendez se desmarcava com grande facilidade, Guerrón e Benítez faziam o maior salseiro, Ayoví subia livre às costas de Maicon e, depois, de Daniel Alves. O Brasil não achou o Equador no primeiro tempo, e só não perdeu por defesas maravilhosas de Júlio César.

No segundo tempo o panorama pouco mudou. Faltava vigor físico ao meio-campo, e a entrada de Júlio Baptista se impunha. Mas Dunga preferiu Josué, franzino, e retirou Elano. Só fechou ainda mais o time e chamou os equatorianos de vez para a pressão. Somente aos 25 saiu Ronaldinho e entrou Júlio Baptista, alteração que não devia ter ocorrido: deveria ter iniciado a partida assim. Em 50 segundos, Júlio fez muito mais que Ronaldo em 70 minutos: em seu primeiro lance, saiu de trás, tabelou com Robinho e Luís Fabiano e concluiu marcando o criminoso gol brasileiro. Em suma: fez os atacantes jogarem e jogou, justamente aquilo que faltou no primeiro tempo inteiro e em metade do segundo.

O gol foi uma ducha fria no estádio e no time de Sixto Vizuete. Mas a postura muito fechada da seleção permaneceu a mesma. O Equador novamente foi crescendo no jogo. Quando Júlio César fazia mais um milagre, Noboa empatou, aos 44. Houve chances para a virada nos descontos. Seria merecido: os equatorianos começaram as Eliminatórias tentando uma renovação forçada que prejudicou a campanha da equipe, que chegou a ser lanterna. Hoje, com alguns dos bons nomes das últimas Copas no time principal, teve grande atuação e seria, não fosse a baixa pontuação, um dos mais sérios candidatos a comparecer à África do Sul. Mas há tempo, ainda.

Quanto ao Brasil, somando este jogo com o supracitado diante do Uruguai, são 4 pontos de lucro. Em situação normal, o time teria 14 e estaria, hoje, fora da Copa do Mundo. Mas Dunga tem tido sorte e estrela. Hoje, após ver seu time completamente dominado e colocado na roda, deve ter aprendido com Jorginho duas lições: 1) Ronaldinho não tem a menor condição de seguir sendo convocado; colocá-lo no time é o caminho mais curto para perder mais uma Copa, ainda mais se jogar ao lado de Kaká e dois atacantes; 2) Júlio Baptista não é quarto homem, mas tem lugar no time; pode jogar com um primeiro volante, Elano e Kaká, sem problemas; não é nenhum supercraque, mas tem vigor físico e qualidade ofensiva suficientes para jogar.

Em tempo:
- As laterais seguem como problema crônico do time brasileiro. Imagino a dor de Jorginho, grande lateral no passado, vendo as atuações pífias de seus comandados.

Eliminatórias da Copa do Mundo 2010 - América do Sul - 11ª rodada
29/março/2009
EQUADOR 1 x BRASIL 1
Local: Olímpico Atahualpa, Quito (EQU)
Árbitro: Carlos Chandía (CHI)
Público: não divulgado
Gols: Júlio Baptista 26 e Noboa 44 do 2º
Cartão amarelo: Ayoví, Elano, Gilberto Silva, Marcelo e Daniel Alves
EQUADOR: Cevallos (5,5), Reasco (5,5), Hurtado (5,5), Espinoza (6,5) e Ayoví (6,5); Castillo (6), Valencia (6), Guerrón (5,5) (Noboa, 29 do 2º - 6) e Mendez (7); Benítez (6,5) e Caicedo (6) (Palacios, 46 do 2º - sem nota). Técnico: Sixto Vizuete (7)
BRASIL: Júlio César (8), Maicon (5) (Daniel Alves, 23 do 1º - 4,5), Lúcio (4,5), Luisão (5) e Marcelo (5); Gilberto Silva (5,5), Felipe Melo (4,5), Elano (4,5) (Josué, 16 do 2º - 5) e Ronaldinho (3,5) (Júlio Baptista, 25 do 2º - 6); Robinho (5) e Luís Fabiano (5,5). Técnico: Dunga (4,5)

Foto: AP

Comentários

Saulo disse…
Acho que foi o pior jogo da seleção que já vi.
Não jogou como time pequeno e sim como time de roça.
Esse empate foi uma goleada para o Brasil.
Temos que dá os parabéns para o craque Júlio César.
Se não fosse ele o Brasil ia levar uma cacetada histórica.
Lourenço disse…
Atuação horrorosa mesmo. Não acho que o Brasil jogar mais esperando o adversário seja sempre um crime, como deu a entender a equipe da Globo. O brabo não é jogar mais defensivamente. O brabo é jogar mais defensivamente e, mesmo assim, levar 15 chances de gol claras. Se jogasse fechadinho e especulando numa boa, até vai.
Vicente Fonseca disse…
Não é problema jogar fechado fora de casa, desde que se saiba como fazê-lo. Ficar oito atrás da linha da bola e três olhando, sem puxar um único contra-ataque decente, é um absurdo.
Alguém ainda acha que assistir jogos da seleção é assistir futebol? Só vi o segundo tempo desse cotejo, e acho que ainda foi muito.
Lourenço disse…
Fred, depois de todos os jogos do Gauchão e de Grêmio x Aurora, fiquei bem menos rigoroso no conceito de "assistir futebol"
Vicente Fonseca disse…
Brasil x Itália foi um bom jogo e uma bela partida da seleção.
Mesmo assim, Vicente, tá virando rotina ver a seleção como eletrocardiograma. Não adianta destruir um jogo contra a Itália ou contra a Venezuela fora de casa, chegar no Maracanã ou no Engenhão e voltar o futebol ruim. Esse é o retrato da seleção do Dunga. Se é culpa dele ou não, se as convocações são condicionadas por outras pessoas, como foi a do Afonso Alves ou a do Ronaldinho Gaúcho, é outra história.

Agora, em 3 anos, isso virou rotina. E não quero isso pro Brasil, ainda mais às vésperas de uma Copa do Mundo. Virou uma chatice assistir a maioria dos jogos da Seleção.
Vicente Fonseca disse…
Ah sim. A irregularidade tem sido a marca da campanha do Dunga na seleção, desde o começo. Alterna belos jogos com partidas bizarras. Aquela de fazer 3 a 0 no Chile em Santiago e três dias depois empatar com a Bolívia no Rio foi o cúmulo.
natusch disse…
Alguém aí viu o Galvão dizendo que o Julio Baptista é "quase centroavante" na Europa?... Quase tive um aneurisma cerebral ao ouvir essa colossal asneira. Me digam que ouviram também, para não achar que estou louco!

Aliás, como todo mundo viu que o Brasil foi ridículo, que Ronaldinho não pode ser titular nem do Passaquatro jogando com esse desinteresse todo e que o Equador merecia ter metido uns 3 na nossa seleção, vou atalhar o assunto e contar uma breve historinha. Estou aqui em Sampacity, assistindo o match em companhia do dono da casa e alguns visitantes - entre eles, um cara mala e metido a besta, que por uma incompreensível brincadeira do destino é namorado de uma das filhas de um dos ramos da gigantesca família, moça que merece coisa bem melhor, se é que me entendem. Pois bem, o cidadão sentou e só falou merda - por ex, xingava em todos os lances o Gilberto Silva, que foi o único lampejo de lucidez no claudicante sistema defensivo brasileiro, fora o Júlio César, claro. E sempre com o ar professoral típico dos imbecis que julgam fazer um favor ao mundo emitindo seus conceitos (sim, notem que não simpatizei MESMO com o cidadão). Bom, sou agregado, moro na senzala, então fiquei quietinho e não falei nada durante a maior parte do cotejo. Determinado momento, o indivíduo solta que "Júlio Baptista tem que entrar no lugar do Ronaldinho" (convenhamos, o óbvio ululante) e completa: "se entrar, o Brasil ganha o jogo". Imaginem a dor que se apossou de minh'alma quando o homem fez o gol, e a vontade que senti de ser fulminado por um raio quando nosso Trajano de araque sentiu o sabor da glória, a confirmação de sua sapiência eterna e passou a exigir que todos lambessem suas botas e aplaudissem de pé sua clarividência. Foram momentos de indizível dor existencial, e faltou pouco para eu soltar um impropério qualquer e ir parar na rua da amargura vrs São Paulo. Então, delirando nas emanações melífluas de seu triunfo, o sábio solta a frase: "AGORA O EQUADOR NÃO EMPATA MAIS!". Em silêncio, passei a torcer desesperadamente para que os donos da casa fizessem justiça no placar - tanto que acho que estranharam por aqui meu desconsolo em uma ou duas chances perdidas. Por fim, eis que o Equador REASH (obrigado, VdeP), o Mendez faz (mais uma) jogadaça, Noboa mete para a rede e eu, tomado pela glória da desforra contra o Armando Nogueira do Alto da Lapa, levanto de um salto da cadeira, fecho os punhos e chego a encher o pulmão para soltar gritos e palavrões de alegre triunfo. Sorte que Jesus olhou por mim, iluminou minha mente de súbita sapiência e, diante dos olhares surpresos de todos os presentes ao me verem de pé, me fez soltar apenas um "puta que o pariu" entre dentes, salvando-me de virar um sem-teto na metrópole. Mas estamos entre amigos, então aqui posso dizer: CHUPA MALA FDP DO CARALHO, SE FUDEEEEEEEEEEU!!!!!!!!

Por hoje é só, amigos. Abraços saudosos a todos =D
Vicente Fonseca disse…
jhfdsujdfsjlkfdsjklfdskjlfdsjkl

Depoimento absolutamente histórico. Começam os contos natuschenses paulistanos.
Vicente Fonseca disse…
Bah, costumo dizer que o pior corneteiro que tem é aquele metido a inteligente. Caso desse cara aí, pelo jeito.
Lourenço disse…
Que relato sensacional do Igor
Lique disse…
http://kibeloco.com.br/kibeloco/2009/03/30/sauna-mista/
Gustavo disse…
Equador merecia golear. Benitez e Guerrón fizeram festa.

Deixar o Ronaldinho como titular da seleção só pode ser vingança pelos dribles que deu no agora mandatário da casamata canarinha.

E Dunga visivelmente anda tomando lições com Juarez. Só pode.
Anônimo disse…
Me digam uma coisa: sou só eu, ou tem mais alguém por aí que não aguenta mais esse papo de "JOGAR COM ALEGRIA" ?

Pótaqueospariu!
É sempre a mesma balela: O Ronaldinho está mal, não está sorrindo (argh!), e "não está jogando com alegria",; o Robinho não consegue mostrar seu "futebol alegre", e nem o Dunga tem usado mais as suas "camisas alegres".
Ô coisa irritante. Desde quando o futebol é "alegre", pelamordedeus ! Aliás, existe algum esporte alegre, exceção feita ao frescobol ? Não me lembro de Tyson ou Holyfield lutando "com alegria", ou Senna e Prost "correndo com alegria", ou quem sabe a Maurren Maggi "pulando triplamente com alegria".
Nem o Ricky joga com "alegria" quando atua pelo São Paulo (PELO SÃO PAULO!!!).
Chega dessa história. Pra ganhar, é preciso jogar sério. Muito sério.
Essas bichinhas de trancinhas nos cabelos deviam reservar a "alegria" para as suas festinhas privadas com travestis.
Volta Afonsão. Que se não jogava nada, pelo menos não era alegre.
E tenho dito.
André Kruse disse…
Seria insuportavel assistir um jogo da seleção sem o Galvão Bueno.

Julio Cesar jogou bem sim, mas o puxasaquismo dele extrapolou todos os limites
Vicente Fonseca disse…
Sei que é o anônimo é o Batatinha pelo discurso igualzinho proferido hoje antes do programa. Faltou só assinar.

Aliás, assino embaixo.
Eu achei que fosse o Vidarte, preservando identidade, mas falando aquele clássico "e tenho dito" no final de seus posts. O que mostraria claramente que ele vem beber deste fonte para dar seus "furos".
Lourenço disse…
Vidarte não pega nem banco no Carta na Mesa.
Vidarte Repórter disse…
Quando o "Carta Na Mão", podcast do Final Sports do qual serei âncora, entrar no ar, o responsável por esse saite e seus lacaios perceberão o terrível erro de julgamento que cometeram com minha pessoa. Mas então será tarde demais.

E tenho dito!
Unknown disse…
CARTA NA MÃO é covardia...

só falta me dizer que serão CINCO âncoras, contra UM do carta na mesa...

aheuheuaheuahuaheuae...
Prestes disse…
Simplesmente sensacional o relato do NATUSCH!
zeh nascimento disse…
AGUANTE ECUADOR CARAJO!!!