Neve no chopp

Como diz o chavão, apesar da baixa temperatura, o jogo foi quente. Um duelo de muita briga, disputa, guerras pessoais, alternâncias táticas e com o tempero de uma nevasca no início do segundo tempo foram os fatores que deram a este Liverpool x Everton um charme todo especial além do natural por ser um clássico tradicionalíssimo do futebol inglês. Ao final, o empate de 1 a 1 foi péssimo para os vermelhos que, mesmo jogando em casa, não conseguiram ultrapassar o Manchester United na liderança, empatando com os rivais em pontos, mas com um jogo a mais. Não é de hoje que o Liverpool vem vacilando e o Manchester United atropelando. Hoje, a diferença se extinguiu, com o time de Cristiano Ronaldo ultrapassando o rival pela primeira vez.

Sabedor da necessidade de vencer o derby para continuar em vantagem, Rafa Benítez escalou um time com dois laterais que pouco avançavam para garantir uma segurança defensiva capaz de suportar um meio-campo bastante ofensivo. Xabi Alonso, volante que constumeiramente sai para o jogo, era volante ao lado de Gerrard. Com isso, Kuyt e Riera forçavam jogadas pelas pontas, notadamente o holandês, que tentou fazer dupla pela direita com Robbie Keane. Ambos foram bem suplantados pela marcação de Phil Neville e Baines, num dos muitos exemplos de anulação por parte do Everton daquilo que o Liverpool se propunha a fazer.

Após um começo conturbado que se transformou em equilibrado, o time da casa só se impôs quando Fernando Torres começou a entrar no jogo. Aos 25, driblou em velocidade alguns marcadores, mas Riera perdeu; aos 26, cavou um amarelo para Pienaar; aos 27, perdeu cara a cara com Howard, após belo lançamento de Hyypia. Era a única de diferente que tinha o Liverpool. No mais, a vontade de Gerrard em dar carrinhos e sua qualidade em começar as jogadas era a mesma de sempre, mas o bom posicionamento do time de azul impedia que qualquer vantagem fosse obtida.

O segundo tempo foi aquele em que se escancarou quem era quem na partida. O Liverpool passou a ter mais a bola no campo de ataque e tentar pressionar; o Everton se defendia bastante, mas ainda assim conseguia especular no contra-golpe. Baines levava vantagem para cima de Carragher, ótimo zagueiro, mas comum como lateral. Os cruzamentos buscando Torres eram infrutíferos, visto que Lescott ganhava tudo por cima e por baixo. Somente num descuido ou detalhe o gol poderia vir, seja para qual lado fosse. E foi na única vez que Gerrard pôde avançar livre para tentar o chute que sai o tento do Liverpool, aos 22, em belo chute de fora da área.

Então, o Everton veio para cima. À medida que a pressão aumentava, o Liverpool se fechava mais e cada vez menos tinha o escape do contra-golpe. Aos 39, Rafa Benítez tirou Fernando Torres e colocou Lucas, para reforçar a marcação de meio, quando o ideal seria tirar o espanhol para o ingresso de Babel, que poderia dar este fôlego que faltava. O castigo viria dois minutos depois: Arteta bateu falta com força, e Cahill desviou de Reina com astúcia e com a cabeça, empatando o jogo.

O Everton segue sua campanha razoável, de 6º lugar e 36 pontos, mas seu título pode ter sido conquistado hoje: estragar a festa do Liverpool, que tenta um título que não vem há 20 anos. É pouco para o que o Everton já foi, mas felizmente o clube parece longe dos seus piores tempos em que so lutava para não cair. Hoje, foi melhor por ter imposto sua maneira de jogar e conseguido o resultado. O Liverpool, de vacilo em vacilo, vai perdendo terreno. Manchester e Chelsea agradecem.

Campeonato Inglês 2008/09 - 21ª rodada
19/janeiro/2009
LIVERPOOL 1 x EVERTON 1
Local: Anfield Road, Liverpool (ING)
Árbitro: Howard Webb
Público: 44.382
Gols: Gerrard 22 e Cahill 41 do 2º
Cartão amarelo: Pienaar e Arteta
LIVERPOOL: Reina (6,5), Carragher (5), Skrtel (5,5), Hyypia (6) e Fábio Aurélio (6); Xabi Alonso (6,5), Gerrard (7), Kuyt (5,5) e Riera (5) (Babel, 44 do 2º - sem nota); Robbie Keane (4,5) (Benayoun, 21 do 2º - 5) e Torres (5,5) (Lucas, 39 do 2º - sem nota). Técnico: Rafa Benítez (5,5)
EVERTON: Howard (6), Hibbert (5,5), Jagielka (6), Lescott (7) e Baines (6); Phil Neville (6), Arteta (6,5), Anichebe (5,5), Osman (5,5) e Pienaar (6,5); Cahill (6,5). Técnico: David Moyes (6)

Foto: Reuters

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