Anti-clímax

Ao levar 2 a 0 da risível Portuguesa, o Grêmio perdeu mais que um jogo. Perdeu a chance de disparar 4 pontos; aproveitar o abençoado empate entre Palmeiras e São Paulo; de ter a chance, na quinta, contra o Sport, de ultrapassar a barreira dos 60 pontos; de garantir, na prática, uma vaga à Libertadores; e, claro, de encaminhar o título brasileiro de 2008.

Esta é uma daquelas derrotas que pesa no fim das contas. Ainda mais se tivermos ciência de que o tricolor teve nada menos que 10 dias para se preparar e recuperar atletas fisicamente. Até as batalhas jurídicas soam como um esforço sem razão de ser depois de uma derrota como esta. Pegar um time que está na zona de rebaixamento, joga em casa, precisando ganhar, era a situação perfeita para ser letal e adquirir 3 pontos longe do Olímpico.

Mesmo não tem feito um grande primeiro tempo, o Grêmio controlou o jogo, foi levemente superior e poderia ter marcado seu gol. O grande problema tático do time hoje ficou bem claro desde o início da partida: a falta de criação. Bem marcado, Douglas Costa sumiu entre os volantes adversários. Veio pouco buscar o jogo, o que dificultava tabelamentos e tirava da equipe alternativas ofensivas. As saídas de Willian Magrão, que já parece fisicamente reabilitado, eram a melhor opção, além das escapas de Felipe Mattioni às costas do cavalo cansado Athirson.

Se o primeiro tempo foi até aceitável, e dava a entender que com uma pequena melhora a vitória poderia vir, o segundo foi um desastre. A Lusa começou levemente superior, até que a lesão de Rafael Carioca obrigou a entrada de Orteman, logo aos 7 minutos. Nesta troca, o Grêmio ganhou um buraco no meio-campo, ficou sem o controle do jogo e se perdeu completamente. O gol de Ediglê (!) foi num escanteio conseguido por Preto: ele fintou Orteman com muita facilidade, Victor colocou para canto, e na batida saiu o gol. A pergunta que cabe fazer é por que Makelele não estava nem no banco? Lesão, suspensão? Seria mais útil que o uruguaio, pois é da função. E não se trata de crucificar o meia platino pela derrota, mas ele teve uma atuação extremamente infeliz, com erros de passe, pouco vigor físico e uma furada lamentável ao tentar arrematar ao gol de Gottardi.

Era um jogo em que Celso Roth tinha um ótimo banco a seu dispor para mudar o andamento se a partida estivesse ruim para o time, mas ele não procedeu desta forma. Em vez de apostar na colocação de alguém que pudesse auxiliar o perdido Douglas Costa na armação, preferiu um seis-por-meia-dúzia ao trocar Soares por Perea. Só aos 28 do segundo tempo é que abriu mão do terceiro zagueiro para investir em Souza.

O resultado foi um time apático, que raramente ameaçava empatar, só dando chutões procurando Morales, que esteve bem marcado. Nunca após sofrer o primeiro gol o Grêmio deu mostras de que sairia com um medíocre empate que fosse do Canindé, nem depois da entrada de Souza. Pelo contrário: aos 46, Edno efetivou o que estava mais próximo da realidade naquele momento, que era o segundo gol paulista.

Jornada extremamente infeliz do Grêmio num momento em que isto não era permitido e contra um adversário onde era absolutamente proibido perder pontos. A impressão que dá é que já é a segunda vez que o time da Azenha tem o campeonato à feição e não consegue emplacar em definitivo rumo ao título. Certamente estas vacilações não serão mais perdoadas, até porque os dois próximos compromissos fora são Cruzeiro e Palmeiras, e não mais a fraca Portuguesa.

Campeonato Brasileiro 2008 - 30ª rodada
19/outubro/2008
PORTUGUESA 2 x GRÊMIO 0
Local: Canindé, São Paulo (SP)
Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (MG)
Público: 7.320
Renda: R$ 117.898,00
Gols: Ediglê 10 e Edno 46 do 2º
Cartão amarelo: Rai, Preto e Soares
PORTUGUESA: Gottardi (5,5), Patrício (6), Bruno Rodrigo (6,5), Ediglê (7) e Athirson (5,5); Erick (6), Rai (5,5), Preto (5,5) (Héverton, 31 do 2º - 6) e Fellype Gabriel (5,5) (Gavilán, 19 do 2º - 5,5); Edno (6,5) e Washington (5,5) (Rogério, 40 do 2º - sem nota). Técnico: Estevam Soares (7)
GRÊMIO: Victor (6), Léo (5,5), Pereira (5,5) (Souza, 28 do 2º - 5) e Réver (5,5); Felipe Mattioni (5,5), Rafael Carioca (5,5) (Orteman, 7 do 2º - 3,5), Willian Magrão (5,5), Douglas Costa (4,5) e Hélder (4,5); Soares (4,5) (Perea, 22 do 2º - 4,5) e Morales (4,5). Técnico: Celso Roth (4)

Foto: Gazeta Press

Comentários

Unknown disse…
a esperança é q contra um time mais qualificado, as jogadas consigam sair. mas se jogar como jogou hj, vai tomar 2 goleadas fora de casa.

quem tem roth, tem medo.
Anônimo disse…
Foi uma jornada BROXANTE, nada menos que isso. O time tinha a OBRIGAÇÃO de estar motivado e atropelar a pobre Portuguesa - que, mesmo ganhando, mostrou-se um time fraco de doer.

Ultimamente, ser gremista é mais do que nunca coisa para quem gosta de FORTES EMOÇÕES. Quando dá aquela sensação de "agora vai", eis que o tricolor resolve flertar de novo com o desastre e dar mais uma chance para quem vem de trás. Nesse ritmo, o que teremos de gremistas no Instituto de Cardiologia em dezembro vai ser uma coisa de louco...
Eu diria que tu foi condescendente com o rendimento da equipe hoje. Voltou o futebol burocrático que o Grêmio apresenta sempre que joga fora de casa no returno. Desde o jogo contra o Atlético eu não sei o que é bom futebol fora de casa. E isso vai seriamente comprometer nosso título, acredito eu.

Espero que mude para as próximas partidas. Contra Cruzeiro e Palmeiras, não vai dar pra jogar essa bolinha aí.
Vicente Fonseca disse…
Mas eu ressaltei a podridão coletiva do Grêmio do segundo tempo, não creio que poupei o time.
Bom, aí devo concordar, realmente. Mas acho que o time já entrou mal no jogo. Tanto que quase tomou um gol com menos de um minuto. Não vi a leve superioridade do time sobre a Portuguesa, tanto que as melhores chances do jogo foram da Lusa. Houve muitos erros no meio-campo, e não houve variedade de jogadas no mesmo setor. Quando o Pico tava na ponta dos cascos, os alas avançavam enfurecidos pra cima. Com o Hélder, tu não tem quase nada disso.

E uma coisa preciso concordar. O Grêmio é um time coletivo, não depende da capacidade individual de nenhum jogador, nem pra equilibrar e nem pra desequilibrar o time. Cada jogador precisa ter isso na cabeça. E parece que a maioria deles, da defesa pra frente, está perdendo esse foco. Pico é um deles, Magrão tá indo pro mesmo caminho.

Torçamos para que o cenário mude. Urgentemente.
Vicente Fonseca disse…
Só quero ressaltar que vi um Grêmio um pouco melhor apenas no primeiro tempo, e mesmo assim da metade para o final, quando tinha mais a bola e havia quase matado o contra-ataque da Portuguesa. Teve algumas chances de gol, num chute da entrada da área do Pereira, uma cabeçada alta do Réver e outro no finzinho, acho que do Léo, se não engano. Além do mais, ir um pouco melhor do que a Lusa é não ir lá muito bem.
Anônimo disse…
Vicente, muito correta a tua constatação de que houve uma pequena melhora na atitude do Grêmio no final do primeiro tempo. Foi a partir do momento em que o time resolveu jogar com a bola no chão, sem levantá-la a esmo da defesa para o ataque.

Penso que o principal "causador" dessa melhora foi o Rafael Carioca. Quando ele saiu, lesionado, foi o boi com as cordas.

Adequada a classificação de "risível" ao time da Portuguesa. Justifica, com sobras, a posição que ocupa na tabela.

Orteman não é jogador. É impossível alguém ser tão inepto para a prática do esporte bretão.

Não é negativismo pensar que "agora deu". Afinal, temo que uma equipe que deixe escapar tantas oportunidades de ouro acabe não fazendo por merecer o título. A única ressalva é que Cruzeiro e Palmeiras também derraparam em momentos decisivos. O resultado do Palmeiras, ontem, é uma prova disso.
Lique disse…
engracado tu citar tres lances de ataque do gremio, um de cada zagueiro.

a real e' que ninguem ta' muito afim ou qualificado pra ganhar esse campeonato bom, porem mediocre.