Pouca bola, muita vaia
O momento mais constrangedor desta noite em que Brasil e Argentina empataram sem golos foi quando, após mais uma tentativa de jogada frustrada da seleção no segundo tempo, Robinho ergueu os braços, pedindo o incentivo da torcida, e ninguém no Mineirão inteiro se manifestou. Um instante que sintetizou a falta de capacidade da equipe, que queria apelar para uma torcida que mais cobrou e vaiou o treinador que apoiou o time.
Mas também não para condenar de todo a (falta de) atitude dos torcedores de Belo Horizonte: o Brasil foi apático e ameaçou pouquíssimo o golo de Abbondanzieri nos 90 minutos. A rigor, foram duas chegadas perigosas no primeiro tempo: uma que começou numa meia-lua de Robinho, que sobrou a Júlio Baptista para uma ótima defesa do arqueiro platino; e a outra numa escapada do mesmo Robinho, que pecou pelo individualismo em vez de deixar Adriano livre para fazer o golo.
É incrível que Dunga, em 22 meses de seleção, ainda não tenha definido um modo de jogar e uma escalação para seu time. O Brasil há tempos vem sendo uma equipe provisória, desfalcada. Hoje ele teve azar também: Anderson vinha jogando pouco e fora de lugar, mas sua saída por lesão para a entrada de Diego aos 33 minutos foi um abalo na criação da equipe. Omisso, o jogador do Werder Bremen sucumbiu à marcação dos volantes argentinos.
Mas não foi só culpa de Diego. A falta de alguém que faça o time jogar, decorrente não apenas da falta de um jogador com esta capacidade (como é Riquelme na Argentina), mas também pela ausência de um padrão tático no time brasileiro, minou completamente as chances de os donos da casa chegarem com perigo. Constantemente era Júlio Baptista quem vinha buscar jogo. Robinho e Adriano foram pouco abastecidos o jogo todo, não havia jogadas pelas laterais. Mineiro, sem suas saídas qualificadas para o ataque dos tempos de Ponte Preta, São Caetano e São Paulo vira um jogador absolutamente comum e burocrático.
A Argentina atuou melhor no segundo tempo e esteve mais perto do golo. Mas também não jogou bem, apenas deu para o gasto. A crise portenha está em um estágio bem mais inicial que a brasileira. O resultado foi o melhor que os argentinos poderiam conseguir. Não perder do maior rival, fora de casa, foi um feito razoável, que seria comemorável não fossem as chances perdidas por Messi e Agüero nos minutos finais. Mas, mesmo com uma atuação abaixo da média, a Argentina teve mais cara de time. Individualmente, apresenta melhores jogadores que este Brasil de hoje.
A troca do esforçado Adriano por Luís Fabiano não mudou nada: seis por meia dúzia. A saída de Diego para a entrada de Daniel Alves foi mais ousada, uma tentativa de repetir a final da Copa América. Hoje era mais jogo para Pato: sem qualquer jogada combinada, triangulação ou coisa do gênero, só uma bola parada ou lance genial salvaria a seleção. Pato era o nome para isso.
No final, o 0 a 0 que resume bem a crise dos dois maiores gigantes da América do Sul. Num jogo fraco, o resultado foi muito mais doloroso para o Brasil. Quarto colocado, apenas 50% de aproveitamento, o time ainda pode perder mais uma posição amanhã e cair para a zona da repescagem. Nestes três jogos contra Venezuela, Paraguai e Argentina, foram 2 derrotas e 1 empate, com nenhum golo marcado. Números que talvez sejam suficientes para derrubar Dunga, o qual eu sempre defendi, mas que cada vez mais me dá motivos para que eu reveja minha posição.
Em tempo:
- Não me lembro de uma renda maior que a deste jogo.
Eliminatórias da Copa do Mundo 2010 - América do Sul - 6ª rodada
18/junho/2008
BRASIL 0 x ARGENTINA 0
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Oscar Ruiz (COL)
Público: 52.527
Renda: R$ 6.605.255,00
Cartão amarelo: Juan, Adriano, Mascherano, Gago, Gutiérrez e Cruz
BRASIL: Júlio César (6), Maicon (5), Lúcio (5,5), Juan (5) e Gilberto (5); Gilberto Silva (5), Mineiro (5,5), Júlio Baptista (6) e Anderson (4,5) (Diego, 33 do 1º - 4) (Daniel Alves, 34 do 2º - sem nota); Robinho (5,5) e Adriano (4,5) (Luís Fabiano, 24 do 2º - 5). Treinador: Dunga (4,5)
ARGENTINA: Abbondanzieri (6,5), Zanetti (5), Coloccini (5), Burdisso (5,5) e Heinze (5,5); Gago (4,5), Mascherano (5), Gutiérrez (5) e Riquelme (6) (Battaglia, 38 do 2º - sem nota); Messi (6) (Palacio, 46 do 2º - sem nota) e Cruz (4,5) (Agüero, 22 do 2º - 5,5). Treinador: Alfio Basile (5)
Mas também não para condenar de todo a (falta de) atitude dos torcedores de Belo Horizonte: o Brasil foi apático e ameaçou pouquíssimo o golo de Abbondanzieri nos 90 minutos. A rigor, foram duas chegadas perigosas no primeiro tempo: uma que começou numa meia-lua de Robinho, que sobrou a Júlio Baptista para uma ótima defesa do arqueiro platino; e a outra numa escapada do mesmo Robinho, que pecou pelo individualismo em vez de deixar Adriano livre para fazer o golo.
É incrível que Dunga, em 22 meses de seleção, ainda não tenha definido um modo de jogar e uma escalação para seu time. O Brasil há tempos vem sendo uma equipe provisória, desfalcada. Hoje ele teve azar também: Anderson vinha jogando pouco e fora de lugar, mas sua saída por lesão para a entrada de Diego aos 33 minutos foi um abalo na criação da equipe. Omisso, o jogador do Werder Bremen sucumbiu à marcação dos volantes argentinos.
Mas não foi só culpa de Diego. A falta de alguém que faça o time jogar, decorrente não apenas da falta de um jogador com esta capacidade (como é Riquelme na Argentina), mas também pela ausência de um padrão tático no time brasileiro, minou completamente as chances de os donos da casa chegarem com perigo. Constantemente era Júlio Baptista quem vinha buscar jogo. Robinho e Adriano foram pouco abastecidos o jogo todo, não havia jogadas pelas laterais. Mineiro, sem suas saídas qualificadas para o ataque dos tempos de Ponte Preta, São Caetano e São Paulo vira um jogador absolutamente comum e burocrático.
A Argentina atuou melhor no segundo tempo e esteve mais perto do golo. Mas também não jogou bem, apenas deu para o gasto. A crise portenha está em um estágio bem mais inicial que a brasileira. O resultado foi o melhor que os argentinos poderiam conseguir. Não perder do maior rival, fora de casa, foi um feito razoável, que seria comemorável não fossem as chances perdidas por Messi e Agüero nos minutos finais. Mas, mesmo com uma atuação abaixo da média, a Argentina teve mais cara de time. Individualmente, apresenta melhores jogadores que este Brasil de hoje.
A troca do esforçado Adriano por Luís Fabiano não mudou nada: seis por meia dúzia. A saída de Diego para a entrada de Daniel Alves foi mais ousada, uma tentativa de repetir a final da Copa América. Hoje era mais jogo para Pato: sem qualquer jogada combinada, triangulação ou coisa do gênero, só uma bola parada ou lance genial salvaria a seleção. Pato era o nome para isso.
No final, o 0 a 0 que resume bem a crise dos dois maiores gigantes da América do Sul. Num jogo fraco, o resultado foi muito mais doloroso para o Brasil. Quarto colocado, apenas 50% de aproveitamento, o time ainda pode perder mais uma posição amanhã e cair para a zona da repescagem. Nestes três jogos contra Venezuela, Paraguai e Argentina, foram 2 derrotas e 1 empate, com nenhum golo marcado. Números que talvez sejam suficientes para derrubar Dunga, o qual eu sempre defendi, mas que cada vez mais me dá motivos para que eu reveja minha posição.
Em tempo:
- Não me lembro de uma renda maior que a deste jogo.
Eliminatórias da Copa do Mundo 2010 - América do Sul - 6ª rodada
18/junho/2008
BRASIL 0 x ARGENTINA 0
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Árbitro: Oscar Ruiz (COL)
Público: 52.527
Renda: R$ 6.605.255,00
Cartão amarelo: Juan, Adriano, Mascherano, Gago, Gutiérrez e Cruz
BRASIL: Júlio César (6), Maicon (5), Lúcio (5,5), Juan (5) e Gilberto (5); Gilberto Silva (5), Mineiro (5,5), Júlio Baptista (6) e Anderson (4,5) (Diego, 33 do 1º - 4) (Daniel Alves, 34 do 2º - sem nota); Robinho (5,5) e Adriano (4,5) (Luís Fabiano, 24 do 2º - 5). Treinador: Dunga (4,5)
ARGENTINA: Abbondanzieri (6,5), Zanetti (5), Coloccini (5), Burdisso (5,5) e Heinze (5,5); Gago (4,5), Mascherano (5), Gutiérrez (5) e Riquelme (6) (Battaglia, 38 do 2º - sem nota); Messi (6) (Palacio, 46 do 2º - sem nota) e Cruz (4,5) (Agüero, 22 do 2º - 5,5). Treinador: Alfio Basile (5)
Foto: Reuters
Comentários
eu nao tenho nada contra o dunga. mas aprender a treinar treinando a selecao brasileira, com a abusada pressao popular-mediatica que ela sofre e com a tipica amplitude de escolhas de jogadores de um bom nivel, me parece uma ma, uma pessima escolha.
o ANÃO não escala o time olímpico e acha que, de uma hora pra outra, a piazada vai jogar sozinha e aguentar a pressão GROBO/GALVÃO 'O-BRASIL-NAO-PODE-JOGAR-COMO-TIME-PEQUENO' BUENO+ETC? será que é isso? tipo, o pato é alguma espécie de AVE MÁGICA que vai simplesmente pensar na bola e o gol vai sair? me parece que pensaram no dunga de 94, mas botaram o de 90 pra treinar a seleção...
já tô pensando no confronto BRASIL X HONDURAS pela repescagem.
no mais, ainda pautado pela 'tradição do futebol segundo galvão bueno', acho que QUALQUER selecinha dessas da euro anham do brasil com um é nas costas. talvez a grécia não, e a espanha, pq é tipo o botafogo...
A Suécia escapou de uma goleada contra a URSS.
Zeh: realmente não há jogos com este time olímpico. Não é nas Eliminatórias que o Dunga tem que escalar, claro. A seleção olímpica deveria ter outro técnico por isso: não há como um treinador se dividir entre Eliminatórias e amistosos visando a Olimpíada. Mas, entre Dunga e Nélson Rodrigues, prefiro o anão que o escritor.
Chico: bem URSS mesmo. Futebol acadêmico e de vermelho.
Abraço a todos.
na minha cabeça insana, portanto, dava pra mesclar medalhões e gurizada nas eliminatórias, pra eles irem sentindo o 'clima' de jogos DE VERDADE. não é a barbada de um amistoso, mas também não tem a importância de uma copa do mundo. e isso, o lf argumentou bem, o dunga não conseguiu fazer pq não tinha 'projeto de time'. é como a burguesia brasileira, que nunca teve projeto de país, de sociedade... aheuaheuheaue...
papo de velho mode on, por mais que essa piazada tenha experiencia de exterior, etc, etc, qnd junta SÓ PIÁ quase sempre dá merda. alguma expulsão idiota, qq coisa do gênero que mine a resistencia e concentração que o time precisa pra ganhar um jogo. JOVEM É UMA MERDA, como diz o ditado popular... aheuaheuaeh...
enfim... é por aí, mais ou menos...
Sobre o Anderson, só uma coisa a dizer: ele é ATACANTE. Qualquer posição que não seja essa, é invenção ou improvisação. No jogo de ontem, vi ele atrás do Júlio Baptista várias vezes. Isso que o Ferguson faz com ele no Manchester United, que muitos consideram genialidade "porque coloca os melhores todos para jogar no mesmo time" chama-se CRIME. Era melhor para ele ficar na reserva do Giggs, do Tevez, do Rooney ou do Cristiano Ronaldo do que fazer a tarefa do Fletcher e do Carrick.