É mais que isso?

Como meus últimos três meses foram bastante corridos, hoje foi o primeiro jogo que consegui acompanhar deste Manchester United versão 2007/08, que é, talvez, a grande sensação do futebol europeu atual. É absolutamente insuficiente tomar por base esta vitória de 2 a 1 contra o Everton como um parâmetro definitivo sobre a produção e o modo de jogar da equipe de Alex Ferguson, mas a partida deste domingo me inclina a pensar algumas coisas sobre este time dos Diabos Vermelhos.

Hoje ocorreu aquilo que eu suspeitei desde a primeira vez que li qual seria a escalãção titular do United para esta temporada. Um time cheio de atacantes, com desequilíbrio no meio-campo e que poderia vencer as partidas à base de suas extraordinárias individualidades. Este time do Manchester tem conseguido alguns resultados estupendos, com atuações, dizem, maravilhosas. Talvez eu não tenha visto um dia bom do time.

O Everton não é galinha morta. É sexto colocado, tem um aproveitamento de 56%, uma equipe aplicada e que joga há tempo junto, com qualidade limitada. No Brasileirão, brigaria por Sul-Americana. Mas tem muita organização tática, o que faltou ao Manchester hoje.

Anderson foi literalmente um volante para inglês ver. A equipe atua com Carrick, ótimo trinco, e três meias: Cristiano Ronaldo pela direita, e Giggs pela esquerda, como legítimos pontas que ajudam a recompor o meio; e Anderson pelo meio, um pouco mais recuado, jogador que cerca, mas marca pouco. Na base do Grêmio, deixou a lateral-esquerda, sua posição de origem, para a meia de ataque justamente por sua qualidade e sua pouca inaptidão para tarefas defensivas.

O duelo começou equilibrado, mas a maior qualidade individual do Manchester fez o placar ser aberto aos 21, em um chutaço lindo de Cristiano Ronaldo. Em bela jogada tramada pela esquerda, Pienaar driblou o limitado Brown com facilidade, cruzou, e Cahill subiu mais que Vidic para empatar. E o jogo seguiu equilibrado, com o Manchester tendo iniciativa e o Everton fechado explorando com perigo os contra-golpes.

Nos 5 primeiros minutos do segundo tempo o Everton encaixotou o Manchester, mas não se aproveitou. Apesar de ter um dos artilheiros da Premier League, Yakubu, falta qualidade aos seus companheiros. Dos 5 aos 20 o Manchester United viveu seu melhor momento. O adversário recuou em demasia e era pressão total.

Alex Ferguson tirou Carrick para pôr Saha, e o Manchester tinha seis atacantes de ofício em campo. Ninguém marcava, ninguém jogava, havia um imenso vazio no meio-campo vermelho. O Everton cresceu, o jogo virou uma pelada de lá e cá. Ferguson só se deu conta do erro aos 40, repondo Fletcher e tirando Anderson. Mas foi noutro lance isolado que saiu o golo da vitória, quando Pienaar, então herói, fez pênalti bobo em Giggs, melhor jogador em campo. Cristiano Ronaldo bateu e garantiu os três pontos.

O Manchester United segue a 1 ponto do Arsenal. Talvez o time de Old Trafford seja mais do que eu vi aqui. Hoje, foi um punhado de jogadores excepcionais, que fazem grandes jogadas e foram capazes de bater o Everton, que pagou o preço de ter se recuado demasiadamente para segurar o empate.

Campeonato Inglês 2007/08 - 18ª rodada
23/dezembro/2007
MANCHESTER UNITED 2 x EVERTON 1
Local: Old Trafford, Manchester (ING)
Árbitro: Howard Webb
Público: 75.749
Golos: Cristiano Ronaldo 21 e Cahill 26 do 1º; Cristiano Ronaldo (pênalti) 42 do 2º
Cartão amarelo: Evra, Anderson, Rooney, Hibbert, Cahill e Pienaar
MANCHESTER UNITED: Kuszczak (5), Simpson (5) (O'Shea, intervalo - 5,5), Brown (4,5), Vidic (5,5) e Evra (5,5); Carrick (5,5) (Saha, 25 do 2º - 4,5), Anderson (5,5) (Fletcher, 40 do 2º - sem nota), Cristiano Ronaldo (7) e Giggs (7); Tevez (6) e Rooney (6). Treinador: Alex Ferguson (5,5)
EVERTON: Howard (6), Hibbert (5), Yobo (6), Jagielka (5) e Lescott (6); Phil Neville (5), Carsley (5,5), Cahill (6,5) (Anichebe, 40 do 2º - sem nota) e Pienaar (5); Johnson (5,5) e Yakubu (5,5) (Gravesen, 31 do 2º - 5,5). Treinador: David Moyes (5,5)

Foto: Manchester United

Comentários

luís felipe disse…
O Man Utd confirma uma tese que eu tinha há algum tempo: com dois laterais essencialmente marcadores, não são necessários dois volantes.
Anônimo disse…
O'Shea e Evra são essencialmente marcadores, o que possibilitaria este esquema ao Manchester United. Para o meu gosto, porém, poderia haver alguém, talvez mais um jogador, que desse maior consistência àquele meio-campo. São jogadores excepcionais, mas talvez só Giggs seja de fato comprometido em compor o meio e ajudar no combate aos adversários. Talvez eu esteja errado, o futuro dirá, mas sigo tendo a impressão de que o Manchester não será campeão europeu com esta formação. Ontem, perdeu o meio-campo para o Everton em determinados momentos justamente por isso. Se conseguri, porém, mudarei algumas concepções táticas que tenho a respeito do futebol atual. Aguardemos.