A melhor de todas as noites
A Batalha dos Aflitos completa hoje dois anos. Peço licença aos leitores para contar minha história naquele dia. Todos os gremistas tem uma. Sintam-se à vontade para utilizar a caixa de comentários e contem as suas também. Os colorados, por favor, não se ofendam: abrirei espaço para que contem suas histórias em 17 de dezembro também.
Acordei cedo naquela manhã ensolarada e quente de sábado, 26 de novembro de 2005. Como o tempo estava bom, era a ocasião propícia para passar o fim-de-semana no sítio da minha consorte Juliana, que fica a meia hora de Porto Alegre. Tudo já estava acertado: à noite, um churrasquito na casa do irmão dela, em Canoas. Claro que nada disso importava mais do que aquele duelo das 17 horas, que eu ocorreria a 3.000 quilômetros daqui.
Valia não apenas um título ou um acesso à Primeira Divisão, valia a vida do Grêmio. Depois de tantas glórias, as trapalhadas sucessórias de uma corja incompetente e decrépita que colocou o time na Série B, em meio a uma crise financeira gravíssima. Aos poucos, tudo foi se encaixando, aos trancos e barrancos, até que era chegada a hora da verdade. A pergunta que rondou a cabeça de todos naquele fatídico ano seria, enfim, respondida: afinal, o Grêmio vai ou não subir?
Como estava com o pé quebrado, não pude ir aos dois últimos jogos daquele quadrangular final no Olímpico. A dor que se abatia sobre mim era imensa: depois de ir a duelos que não valiam nada, tipo o empate com o Marília, com o tricolor já classificado, sob torrencial chuva, estava eu alijado de ir à Azenha nas partidas finais. Mas o gesso pesado, a coceira na perna e o pé adoentado, nada disso tinha importância diante daquilo tudo.
Ouvi pelo rádio as barbaridades que acometiam o tricolor nos Aflitos antes da partida e já senti as dificuldades. Tudo superável, exemplos não faltavam na história do Grêmio. Começou o jogo, o Grêmio melhor e sai o golo da Portuguesa, que classificava o tricolor. Era o enganoso começo tranqüilo da tarde-noite mais agoniante da minha vida.
Durou pouco tudo aquilo. Quando meus sogros já haviam descoberto que meu arsenal de palavrões era, para eles, surpreendentemente imenso, o Santa Cruz empatava, resultado ainda bom. Mas aí sai o pênalti, até hoje para mim duvidoso, do Domingos. Minha sensação de agonia foi logo tomado por uma certeza que Galatto defenderia, como fez contra o Santa Cruz, na mesma Recife, quatro semanas antes. Deu no poste, e tudo ficou mais tranqüilo. Minha mãe, colorada solidária, me manda um torpedo com os dizeres "Deus está do nosso lado".
Mas o bombardeio de agonia veio com o segundo do Santa, que obrigava o Grêmio a manter o empate; e a pressão infernal do Náutico, que ficou enriavecido em vez de ficar abalado com a perda do pênalti. Graças a Deus, terminou em 0 a 0 o primeiro tempo.
A segunda etapa começou em banho-maria, com o Náutico tentando pressionar e nada. O Santa Cruz não corria nenhum risco de levar golo da Portuguesa, e o jogo lá no Arruda estava uns 15 minutos adiantado. O maldito gesso me impedia de andar para um lado e outro, como normalmente faço nestes jogos mais nervosos. E era o jogo mais nervoso e angustiante de todos os que já passei. Kuki perdeu aquele golo, incrível!
Quando Escalona foi expulso eu pressenti o pior. A pressão era cada vez pior, Galatto fez pênalti que o juiz não deu. Até que Sandro Goiano perdeu aquela bola no meio-campo. O jogador do Náutico avançou pela esquerda, tentou o passe para Kuki. A bola bateu no cotovelo do Nunes, que estava preso ao corpo. O maldito Djalma Beltrami, para compensar o lance anterior, apontou a marca da cal. Nunca um gesto me doía tanto, me desesperava tanto: 36 do segundo tempo, um pênalti. O Grêmio com 1 a menos; digo, 2; digo, 3; ou serão 4?!?!.
Foram os piores 26 minutos que já passei como torcedor. Se os olhos não acreditavam no que viam pela TV, a cabeça passava todo o filme daquele ano. A estréia desastrosa contra o Gama; o fiasco de Anápolis; a recuperação na Ilha do Retiro; a virada em Fortaleza; Tudo, tudo aquilo por água abaixo. Agüentar Jacozinho, Beausejour, Gláuber, OSMAR!; As atuações raçudas, porém infecientes, de Marcel; aquele golo do Raone; tudo isso não valeria nada? Ter de assistir a São Raimundo, Gama, Santo André.. tudo de novo? "Não, é muito pra mim", disse eu. E assistir a volta olímpica do Santa Cruz também era duro. Que inveja, por alguns instantes, senti dos tricolores pernabucanos. "Dá um soco nesse desgraçado", pensei. Minha querida consorte, numa das maiores provas de amor, disse que iria comigo em 2006 a todos os jogos da Segundona. Como odeia futebol, hoje ela dá graças a Deus. Ou a Galatto.
Ademar partiu para a bola, todo frouxo. Mas era demais que errase. Eu já esperava pelo golo e a festa dos alvirrubros pernambucanos, com frevo em Recife pelos dois times promovidos ao mesmo tempo. Ademar não errou, acertou o meio da meta. Galatto, incrivelmente, pegou aquele pênalti! A bola saiu para escanteio. Cheguei a me levantar da poltrona, com pé quebrado e tudo mais. Ainda faltavam 10 minutos, porém. Era difícil segurar. Minha mãe manda outra mensagem: "Deus está do nosso lado mesmo". Anderson cavou uma faltinha, prendia a bola, era por aí mesmo. Levou um rapa do gordão Batata, que foi expulso. "Desgraçado, quer compensar!". E eu bradava quando o gurizote entrou pela área. O resto vocês já sabem. Juliana me abraçou, choramos juntos (ela nem gremista é). Meu gesso quebrou ao meio. Saí correndo. Que importava? O Grêmio dava ali provas de que estava de volta. Em todos os sentidos. E eu, que achei que o Grêmio corria risco de sucumbir após aquela derrota para o Gama na estréia? Tudo dava certo, era indescritível.
Já não havia mais dúvidas de que o objetivo seria cumprido. Minha mãe mandou a última mensagem: "Deus". Acabou tudo às 18:57. Meu pai ligou, mas eu, em prantos, pedia para que ligasse depois. Fui ao pátio do sítio auxiliado por meus sogros, me deram água com açúcar. A melhor noite de todas estava só começando. E ainda tinha churrasco para rebater.
Série B 2005 - Quadrangular Final - 6ª rodada
26/novembro/2005
NÁUTICO 0 x GRÊMIO 1
Local: Aflitos, Recife (PE)
Árbitro: Djalma Beltrami (RJ)
Público: 22.353
Renda: R$ 302.070,00
Golo: Anderson 61 do 2º
Cartão amarelo: Escalona, Batata, Bruno Carvalho, Domingos, Tozo, Paulo Matos, Miltinho e Marcel
Expulsão: Escalona 30, Patrício e Nunes 36, Domingos 49 e Batata 60 do 2º
NÁUTICO: Rodolpho, Bruno Carvalho (Miltinho), Tuca, Batata e Ademar; Tozo, Cleison, David (Romualdo) e Danilo; Paulo Matos e Kuki. Treinador: Roberto Cavalo
GRÊMIO: Galatto, Patrício, Domingos, Pereira e Escalona; Nunes, Sandro Goiano, Marcelo Costa e Marcel (Anderson); Ricardinho (Lucas) e Lipatín (Marcelo Oliveira). Treinador: Mano Menezes
Acordei cedo naquela manhã ensolarada e quente de sábado, 26 de novembro de 2005. Como o tempo estava bom, era a ocasião propícia para passar o fim-de-semana no sítio da minha consorte Juliana, que fica a meia hora de Porto Alegre. Tudo já estava acertado: à noite, um churrasquito na casa do irmão dela, em Canoas. Claro que nada disso importava mais do que aquele duelo das 17 horas, que eu ocorreria a 3.000 quilômetros daqui.
Valia não apenas um título ou um acesso à Primeira Divisão, valia a vida do Grêmio. Depois de tantas glórias, as trapalhadas sucessórias de uma corja incompetente e decrépita que colocou o time na Série B, em meio a uma crise financeira gravíssima. Aos poucos, tudo foi se encaixando, aos trancos e barrancos, até que era chegada a hora da verdade. A pergunta que rondou a cabeça de todos naquele fatídico ano seria, enfim, respondida: afinal, o Grêmio vai ou não subir?
Como estava com o pé quebrado, não pude ir aos dois últimos jogos daquele quadrangular final no Olímpico. A dor que se abatia sobre mim era imensa: depois de ir a duelos que não valiam nada, tipo o empate com o Marília, com o tricolor já classificado, sob torrencial chuva, estava eu alijado de ir à Azenha nas partidas finais. Mas o gesso pesado, a coceira na perna e o pé adoentado, nada disso tinha importância diante daquilo tudo.
Ouvi pelo rádio as barbaridades que acometiam o tricolor nos Aflitos antes da partida e já senti as dificuldades. Tudo superável, exemplos não faltavam na história do Grêmio. Começou o jogo, o Grêmio melhor e sai o golo da Portuguesa, que classificava o tricolor. Era o enganoso começo tranqüilo da tarde-noite mais agoniante da minha vida.
Durou pouco tudo aquilo. Quando meus sogros já haviam descoberto que meu arsenal de palavrões era, para eles, surpreendentemente imenso, o Santa Cruz empatava, resultado ainda bom. Mas aí sai o pênalti, até hoje para mim duvidoso, do Domingos. Minha sensação de agonia foi logo tomado por uma certeza que Galatto defenderia, como fez contra o Santa Cruz, na mesma Recife, quatro semanas antes. Deu no poste, e tudo ficou mais tranqüilo. Minha mãe, colorada solidária, me manda um torpedo com os dizeres "Deus está do nosso lado".
Mas o bombardeio de agonia veio com o segundo do Santa, que obrigava o Grêmio a manter o empate; e a pressão infernal do Náutico, que ficou enriavecido em vez de ficar abalado com a perda do pênalti. Graças a Deus, terminou em 0 a 0 o primeiro tempo.
A segunda etapa começou em banho-maria, com o Náutico tentando pressionar e nada. O Santa Cruz não corria nenhum risco de levar golo da Portuguesa, e o jogo lá no Arruda estava uns 15 minutos adiantado. O maldito gesso me impedia de andar para um lado e outro, como normalmente faço nestes jogos mais nervosos. E era o jogo mais nervoso e angustiante de todos os que já passei. Kuki perdeu aquele golo, incrível!
Quando Escalona foi expulso eu pressenti o pior. A pressão era cada vez pior, Galatto fez pênalti que o juiz não deu. Até que Sandro Goiano perdeu aquela bola no meio-campo. O jogador do Náutico avançou pela esquerda, tentou o passe para Kuki. A bola bateu no cotovelo do Nunes, que estava preso ao corpo. O maldito Djalma Beltrami, para compensar o lance anterior, apontou a marca da cal. Nunca um gesto me doía tanto, me desesperava tanto: 36 do segundo tempo, um pênalti. O Grêmio com 1 a menos; digo, 2; digo, 3; ou serão 4?!?!.
Foram os piores 26 minutos que já passei como torcedor. Se os olhos não acreditavam no que viam pela TV, a cabeça passava todo o filme daquele ano. A estréia desastrosa contra o Gama; o fiasco de Anápolis; a recuperação na Ilha do Retiro; a virada em Fortaleza; Tudo, tudo aquilo por água abaixo. Agüentar Jacozinho, Beausejour, Gláuber, OSMAR!; As atuações raçudas, porém infecientes, de Marcel; aquele golo do Raone; tudo isso não valeria nada? Ter de assistir a São Raimundo, Gama, Santo André.. tudo de novo? "Não, é muito pra mim", disse eu. E assistir a volta olímpica do Santa Cruz também era duro. Que inveja, por alguns instantes, senti dos tricolores pernabucanos. "Dá um soco nesse desgraçado", pensei. Minha querida consorte, numa das maiores provas de amor, disse que iria comigo em 2006 a todos os jogos da Segundona. Como odeia futebol, hoje ela dá graças a Deus. Ou a Galatto.
Ademar partiu para a bola, todo frouxo. Mas era demais que errase. Eu já esperava pelo golo e a festa dos alvirrubros pernambucanos, com frevo em Recife pelos dois times promovidos ao mesmo tempo. Ademar não errou, acertou o meio da meta. Galatto, incrivelmente, pegou aquele pênalti! A bola saiu para escanteio. Cheguei a me levantar da poltrona, com pé quebrado e tudo mais. Ainda faltavam 10 minutos, porém. Era difícil segurar. Minha mãe manda outra mensagem: "Deus está do nosso lado mesmo". Anderson cavou uma faltinha, prendia a bola, era por aí mesmo. Levou um rapa do gordão Batata, que foi expulso. "Desgraçado, quer compensar!". E eu bradava quando o gurizote entrou pela área. O resto vocês já sabem. Juliana me abraçou, choramos juntos (ela nem gremista é). Meu gesso quebrou ao meio. Saí correndo. Que importava? O Grêmio dava ali provas de que estava de volta. Em todos os sentidos. E eu, que achei que o Grêmio corria risco de sucumbir após aquela derrota para o Gama na estréia? Tudo dava certo, era indescritível.
Já não havia mais dúvidas de que o objetivo seria cumprido. Minha mãe mandou a última mensagem: "Deus". Acabou tudo às 18:57. Meu pai ligou, mas eu, em prantos, pedia para que ligasse depois. Fui ao pátio do sítio auxiliado por meus sogros, me deram água com açúcar. A melhor noite de todas estava só começando. E ainda tinha churrasco para rebater.
Série B 2005 - Quadrangular Final - 6ª rodada
26/novembro/2005
NÁUTICO 0 x GRÊMIO 1
Local: Aflitos, Recife (PE)
Árbitro: Djalma Beltrami (RJ)
Público: 22.353
Renda: R$ 302.070,00
Golo: Anderson 61 do 2º
Cartão amarelo: Escalona, Batata, Bruno Carvalho, Domingos, Tozo, Paulo Matos, Miltinho e Marcel
Expulsão: Escalona 30, Patrício e Nunes 36, Domingos 49 e Batata 60 do 2º
NÁUTICO: Rodolpho, Bruno Carvalho (Miltinho), Tuca, Batata e Ademar; Tozo, Cleison, David (Romualdo) e Danilo; Paulo Matos e Kuki. Treinador: Roberto Cavalo
GRÊMIO: Galatto, Patrício, Domingos, Pereira e Escalona; Nunes, Sandro Goiano, Marcelo Costa e Marcel (Anderson); Ricardinho (Lucas) e Lipatín (Marcelo Oliveira). Treinador: Mano Menezes
Comentários
Na batalha dos aflitos eu assisti na Goethe. Na hora do segundo penalti,com alguns bares ja tendo brigas e suas cadeiras voando...pedi duas Bohemias pra tomar na sarjeta...o cara que tava como radio do carro ligado e que eu escutava o jogo pois a tv estava muito longe foi embora...fiquei eu e uns amigos que fiz naquele momento ali mesmo...qdo Galatto pegou e saiu o gol do gremio...tomei meu banho de Bohemia...e eles gritavam: Bohemia abençoada!!!
O meu é mais simples, em pouco se parece com as jornadas angustiantes e inesquecíveis dos jogos de 2007 que não pude ver por causa do trabalho. Eu estava em casa, acompanhado da minha mãe e da minha irmã, e extremamente nervoso desde o primeiro momento. Com tudo que tinham nos feito, eu pedia a Deus por uma vitória nossa, para calar de vez aqueles desgranidos - os pernambucanos e os colorados, que passaram a semana me enchendo os ouvidos com seus deboches. Quando o juiz INVENTOU aquele pênalti do Domingos, fiquei furioso - mas a trave nos salvou, e segui rogando ao Altíssimo "vitória, vitória, para calar a boca de todos eles!". Enfim. Resultados contra a gente, Escalona na rua (justamente), o Galatto me faz o pênalti que não foi marcado, e então o Beltrami marca o pênalti que não foi, expulsam metade do time e enfim. Fiquei meio catatônico naquele momento, acho: só conseguia pensar que não era possível, não podia ser, que era crueldade demais. E os colorados aos gritos na vizinhança, um até gritou "2007 é Série C!". Meu cérebro se dividiu: parte da mente ainda acreditava, pensava que Galatto pegaria e que daí era enfiar os restantes dentro da pequena área e segurar na mão de Deus. A outra parte sofria, somente. E então Galatto defendeu, e eu saí correndo pela casa, gritando em todas as janelas para que os colorados se matassem e enfiassem a Série C no seus respectivos orifícios anais. Não tinha sentado ainda quando o Anderson invadiu a área, e eu pensei "não, espera um pouco, deve estar parado o jogo, isso não está valendo". E sai o gol, e aí foi a loucura. Duvido que algum de vocês me reconhecesse: chutei portas, soquei paredes, fiz um corte meio fundo no joelho que até hoje não sei onde foi - e tudo isso não às lágrimas, mas sim dando gargalhadas, enquanto gritava rouco que tinha sido gol do Grêmio, gol, do Grêmio. Gol. Quando tudo acabou, troquei de roupa, sem tomar banho nem nada, e disse para minha mãe (ainda assustada com aquele estranho que tinha tomado o corpo do seu filho) que eu estava de saída e não sabia quando ia voltar. A Goethe me esperava.
Perdão pelo comentário longuíssimo, é que me emocionei. Como diria o Sant'Anna, foi uma delícia, hehehe. Grande abraço!
Saudações imortais!
"E então Galatto defendeu, e eu saí correndo pela casa, gritando em todas as janelas para que os colorados se matassem e enfiassem a Série C no seus respectivos orifícios anais."
jdslakdlksajdkjasd
Pena não ter visto Igor Natusch naquele dia.
dalhe marcos couto, melhor narração, o único narrador que acreditou no gallato. e deu a secadinha final antes da batida: "olha o que o cabral fala sobre batedor de perna esquerda".
para completar, depois disso ribeiro neto mostra todo seu gremismo.
dsahdjsagdasjdkghka
Quase tão boa é a da rádio pernambucana: "gol do Grêmio. incrível o gol do Grêmio. Anderson, numa bobeira da zaga do Náutico. eu não acredito. eu não acredito". É o GRÊMIO IMORTAL, meus amigos. Abraços comovidos a todos.
Sem duvida o momento do mais exacerbado surrealismo da historia do futebol brasileiro.
foi como se fosse um jogo normal até o cotovelo do nunes, exceto pelo leve sentimento de ÓDIO contra todo e qualquer espécie de torcedor do náutico, do original ao gaúcho: meia de dúzia de FILHA DA PUTA pra lá, um pouco de VAI TOMA NO CU, CARALHO, JUIZ FILHA DA PUTA, MARCA ESSA FALTA, PORRA, VALE TUDO AGORA, [tapas no chão e no sofá], CALA BOCA CACHORRO, e etc.
entre a marcação do penalti e a colocação da bola ao lado do BURACO que o domingos, acho, cavou na marca da cal, mais raiva e mais socos no chão.
qnd o ADEMARTACOLOCADOPRACOBRANÇA tomou posto, me parei a chorar feito uma criança, pq o meu maior trauma até então era o dinho e o arce em 95. "merda, merda, não é possível que por causa de um F-I-L-H-O-D-A-P-U-T-A dum juiz a gente vá apodrecer nessa merda de divisão". ouvia meu pai falando algo, alguma flauta, certamente, mas bem ao longe, pq o denardin berrava nos meus ouvidos. assim fiquei, amaldiçoando, xingando, ficando surdo e chorando até o galatto fazer o improvável. saí da sala gritando, PEGOU, PEGOU, CHUPA FILHODAPUTA, VAOSOLTARFOGUETENACASADATUAMAE, FILHODAPUTA, enquanto o jogo seguia. tava qse saindo de casa pra morrer por porto alegre qnd o batata foi expulso. qnd eu entro na sala, de volta, o denardin já tá no COBRADA... daí foi só alegria.
terminado o jogo, todos os telefones da minha casa tocaram pra saber se eu tinha morrido ou se tava surtado correndo nu pelo bairro.
texto não revisado
Hoje, revendo o clássico OS DEZ MANDAMENTOS, me dei conta de que talvez Mano Menezes seja Moisés, Kuki seja o Ramsés que leva as mãos à cabeça e cai diante do fracasso de sua tropa. O golo do Anderson foi a abertura do Mar Azul (vermelho não cairia bem aqui nessa reles analogia).
Ah, e uma coisa que eu não falei: o meu gesso era daqueles mais modernosos e leves. Rachou ao meio na altura da tíbia, mas continuei com ele até o fim do tratamento, que só acabou em meados de dezembro.
Comentário sem CONCRETUDE esse meu.
Se tivesses corrido pelas ruas do Partenon, te internavam no Sâo Pedro.
A semana que antecedeu à Batalha dos Aflitos fora minha semana de provas bimestrais no colégio. Era apenas um gajo de 15 anos no 1º ano do Ensino Médio. Fazia Informática na Opet, na região central de Curitiba. Por isso, foquei meus nervos nos estudos e deixei para pensar no Tricolor somente no sábado.
Acompanhei a campanha do Grêmio desde os tempos obscuros dos fins de 2004, escutando no rádio as contratações de Marcinho Caganeira, Gustavo e Dênis. Assisti a jogos pela Rede TV!, Sportv e, claro Gaúcha, Guaíba ou Pampa via internet. Portanto, saber que a Globo transmitira aquele jogo não me pareceu um bom presságio. Passou 2005 inteiro sem se importar para a Segundona, e justamente nesse dia, resolveu dar importância.
Às 13h do sábado, saímos de Curitiba rumo a Morretes (cidade localizada no pé da Serra do Mar), pois passaríamos o fim-de-semana na chácara de amigos dos meus pais. Chegamos lá às 15h30, mal toquei na comida e fui pra frente da TV.
Apesar de ter cerca de 20 pessoas na chácara, comecei a assistir ao jogo sozinho, sentado numa mesa de sinuca - meu pai só olhava de revesgueio. O primeiro tempo foi tranquilo, e nem mesmo o pênalti do Bruno Carvalho me deixou muito nervoso.
O segundo tempo era levado em banha-maria, uma retranquinha básica, contra-ataques e talz, até a expulsão do Escalona. Assim que o Beltrami mostrou 'la roja' ao chileno, fui tomar um calmante e passei a assistir ao jogo em pé. Assim que deu o pênalti, um coxa-branca ouviu e saiu correndo pelo chácara, todo feliz:
- Pênalti pro Náutico!!! Pênalti pro Náutico!!!
Eu fiquei em silêncio. Meu pai tornou a ver o jogo e não acreditava. A sala estava repleta de pessoas. Todos que passaram a tarde sem olhar a TV, de repente, lá estavam.
Confusão, meu pai em chamas pedindo pela independência do Rio Grande do Sul, declarando guerra à CBF e ao Brasil, não querendo que o pênalti fosse batido. Coxas-brancas, paranistas e atleticanos, TODOS, nos zombando. E eu, em silêncio, fazendo as contas da folha salarial em 2006, reforços vindo do CRB, CSA, Barra do Garças, Blumenau, Usbequistão.
Ademar pra bola. Meu pai silencia. Eu digo:
- O Galatto vai pegar...
E ele pega! Ninguém acredita. Meu pai sai correndo e vem me abraçar. Eu, tal qual o Galatto em relação ao Lucas, nem ligo pro abraço e sigo de olho na TV. O resto para de ver a TV. Só eu fico com o olho vidrado. Eis que digo:
- Olha lá! Olha o Anderson!
E vem a explosão, a emoção somente igualada pela minha aprovação no vestibular, em 11/01/08.
Acabado o jogo, saio atônito. A ficha só foi cair um dia depois, quando voltei a Curitiba e escutei a narração do Pedro Ernesto.
Segunda-feira, último dia de aula do ano. Havia a apresentação final. Tínhamos feito um site em flash e fomos apresentar às três turmas de Informática. Camisa social, calça social, gravata, gel no cabelo.
Terminada a apresentação, aplausos, aprovação. Então, tiro minha camisa do Grêmio da mala, coloca-a na cabeça e saio correndo pelo salão, refestelando-me em gozo pela graça alcançada:
- É campeão!!! Inacreditável!!!
Fui até a sala do professor de Biologia, um paranista insuportável, que me mau agorou a Série B inteira, e esfreguei minha camisa na cara dele.
Resultados:
- No domingo seguinte, o Coritiba foi rebaixado;
- Em 2007, no dia do vestibular da UTFPR, Paraná e Corinthians foram rebaixados;
- Em 2008, o Vasco.
Coincidência? Vocês não sabem quantas pragas roguei a esses desgraçados que tanto me sacanearam em 2005