Foi só um jogo, mas a cara de Osorio já começa a aparecer no São Paulo

Foi o excelente trabalho no Atlético Nacional que levou o São Paulo a apostar no colombiano Juan Carlos Osorio. A principal marca da equipe de Medellín era a constante mudança de esquema: só na Libertadores de 2014, quando chegou às quartas de final, foram seis formações táticas diferentes. Dentro de campo, porém, uma orientação não mudava nunca, seja qual fosse o sistema de jogo ou o local onde ele se realizaria: a equipe exercia marcação forte, de forma adiantada, e valorizava muito a posse de bola, especialmente no campo ofensivo. Tudo o que há de mais moderno, portanto.

É exatamente esta característica a principal razão para a dominação que o São Paulo exerceu sobre o Grêmio, ontem à noite, no Morumbi. Foi apenas o primeiro jogo de Osorio, mas a mudança de postura do Tricolor Paulista foi gritante: em vez do toque de bola lerdo, apático e dependente do anêmico Paulo Henrique Ganso, o São Paulo rodou a bola com intensidade, procurou explorar os lados do campo e se posicionar dentro do campo gremista. Assim, apanhou a maioria dos rebotes e sufocou os gaúchos nos primeiros 15 minutos de jogo.

A aproximação de Michel Bastos e Carlinhos lembrou muito a que Díaz e Cárdenas costumavam costurar nos jogos do Atlético Nacional. Osorio usou principalmente o lado esquerdo porque sabia que o Grêmio teria por ali um improvisado Fellipe Bastos. O primeiro gol foi numa chiripa, um raro erro de Rhodolfo, mas surgiu originalmente por ali. Aquele era mesmo o lado mais frágil dos gaúchos, e Roger Machado deveria ter atentado para isso antes do jogo: se Fellipe Bastos jogou improvisado, era o firme Araújo, e não o saidinho Maicon o volante que deveria ter caído por aquele lado. No segundo tempo, o problema foi corrigido com a colocação de Pedro Rocha, mais combativo, o que complicava as subidas de Carlinhos.
O primeiro São Paulo de Osorio foi no 4-2-3-1. Preparem-se para muitas formações diferentes daqui em diante
Em relação ao Grêmio, quem viu uma "revolução" na vitória sobre o Corinthians exagerou tanto quanto quem vê uma atuação preocupante ou vexatória ontem. Os dois resultados foram absolutamente normais dentro do contexto de um Campeonato Brasileiro equilibrado e de um time em formação. A equipe azul teve problemas defensivos diante do Timão, os quais voltou a apresentar no Morumbi, principalmente pelos lados. O que houve ontem foi uma imposição com autoridade do São Paulo, que tecnicamente é um time superior. O adiantamento são-paulino no começo não deixou o Tricolor Gaúcho imprimir o mesmo ritmo que diante de Goiás e Corinthians, quando se adonou do meio-campo e controlou o jogo com posse de bola ofensiva. Quando o Grêmio ameaçava fazer isso, no começo do segundo tempo, foi vitimado por um pênalti inventado por Péricles Cortez - não existe interpretação naquele caso: quando a bola bate no ombro não há falta. O 2 a 0 sofrido de forma tão injusta matou de vez o ânimo e qualquer chance de reação dos gaúchos.

O São Paulo, portanto, conquistou uma boa vitória porque entendeu os primeiros preceitos de seu treinador, e de fato tem jogadores para isso: Wesley, Michel Bastos, Bruno e Carlinhos são atletas tecnicamente e por característica capazes de exercer funções múltiplas em campo e com intensidade, as principais marcas do Atlético Nacional de 2013 e 2014. O principal desafio, porém, ainda dará muito trabalho a Osorio: transformar Ganso em Cardona, o camisa 10 que, embora por vezes indolente, decidia muitos jogos para a equipe de Medellín. Ontem, diante do Grêmio, a atuação do meia são-paulino foi a mesma enganação de sempre: não criou nada quando o time precisou e fez um ou outro lance de efeito quando a partida estava decidida. Se o São Paulo tiver paciência com Osorio, Osorio terá paciência com Ganso. Pode ser a última chance do meia jogar um futebol realmente convincente no Morumbi.

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