Semelhança ou coincidência?

Dunga forjou seu sucesso como técnico da seleção brasileira entre 2006 e 2009 principalmente por conta de vitórias em clássicos contra a Argentina. Um deles, inclusive, em seu segundo jogo no comando da seleção. Desta vez, em sua terceira partida, o técnico brasileiro bate a maior rival em um duelo que começou complicado, no qual parecia que os argentinos de fato exerceriam o favoritismo que a melhor Copa do Mundo que fizeram. Mas o gol de Diego Tardelli, corroborado com a defesa de Jefferson em pênalti (inexistente) batido por Messi, mudaram os rumos do superclássico.

Mais confiante e entrosada, a Argentina assustou logo na saída de bola, com o lindo lançamento de Pereyra achando Agüero na área. Foram 20 minutos de total domínio do time de Tata Martino. Messi aberto pela direita, Di María pela esquerda, Lamela mais pelo centro... O controle era absoluto, e o Brasil não possuía retenção de bola. Oscar errava passes, Neymar era pouco acionado, os volantes não tinham saída, nem os laterais. A Argentina ocupava o campo brasileiro de forma não consentida: não era uma questão de se fechar conscientemente e esperar um contragolpe, mas sim uma dominação territorial do adversário absolutamente genuína.

Mas o gol de Diego Tardelli, aos 27 minutos, mudou completamente os rumos da partida. Foi uma rara boa jogada de Oscar, um erro de Fernández e Mascherano e uma conclusão linda do atleticano (ah, se ele estivesse na Copa...). Não que o Brasil tenha dominado o jogo a partir dali, mas as coisas se equilibraram. Com a necessidade de atacar e buscar o empate, a Argentina passou a conceder mais espaços. Oscar, Neymar e Tardelli começaram a se encontrar e a levar perigo. Aos 42, o pênalti inexistente marcado pelo árbitro chinês de Danilo em Di María poderia por tudo a perder, mas Jefferson defendeu a cobrança de Messi. Lance que daria a tônica de um segundo tempo superior da equipe verde-amarela.

Na etapa final, o que se viu, sim, foi um Brasil conscientemente fechado esperando um contragolpe para matar o jogo. Houve anulação de espaços, com Lamela e Di María caindo demais de rendimento. A equipe de Tata Martino sobreviveu apenas de lances individuais de Messi, que não esteve em seu dia mais inspirado. Essa situação ficou agravada após o segundo gol, surgido de uma jogada ensaiada, com o dedo de Dunga. Os pentacampeões demonstravam segurança pelos lados (os dois laterais subiram pouco, mas foram exímios na marcação), Luiz Gustavo fez um ótimo trabalho à frente da zaga, Tardelli e Oscar continuavam bem e Neymar estava impossível. Se ele não fosse tão displicente em determinados lances, uma goleada teria sido bem possível.

Dunga não representa qualquer novidade, mas seu começo na seleção é bom. Para quem vinha (e ainda vem) com o trauma de sofrer um gol atrás do outro, o Brasil não foi vazado ainda com o novo técnico e ganhou seus três jogos, todos contra adversários de Copa do Mundo, dois deles contra duas das oito melhores equipes do último Mundial. A vitória de hoje é a do encaminhamento de uma equipe para os próximos amistosos e para a Copa América do Chile. O comprometimento da equipe é vísível, e vem compensando até aqui com sobras o fato de a atual geração não ser das mais talentosas que já tivemos. Os homens de frente hoje pareciam demônios, mesmo sem um grande entrosamento.

Em tempo:
- Superclássico em Pequim, com um péssimo juiz chinês. Muito dinheiro às vezes desanima.

Ficha técnica
Superclássico 2014 - Final
11/outubro/2014
ARGENTINA 0 x BRASIL 2
Local: Ninho do Pássaro, Pequim (CHN)
Árbitro: Fan Qi (CHN)
Público: não divulgado
Gols: Diego Tardelli 27 do 1º; Diego Tardelli 18 do 2º
Cartão amarelo: Mascherano, Fernández, Danilo e David Luiz
ARGENTINA: Romero (6), Zabaleta (5,5), Demichelis (5,5), Fernández (4) e Rojo (5); Mascherano (6), Pereyra (5,5) (Pérez, 31 do 2º - 5) e Lamela (5,5) (Pastore, 14 do 2º - 4,5); Messi (6), Agüero (4,5) (Higuaín, 14 do 2º - 5,5) e Di María (6). Técnico: Gerardo Martino
BRASIL: Jefferson (7), Danilo (6), Miranda (5), David Luiz (6,5) (Gil, 44 do 2º - sem nota) e Filipe Luís (6); Luiz Gustavo (7), Elias (5) e Oscar (6,5); Willian (6), Diego Tardelli (8) (Kaká, 36 do 2º - sem nota) e Neymar (7) (Robinho, 50 do 2º - sem nota). Técnico: Dunga

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