Zona de desconforto

O Internacional não foi nada acomodado ontem à noite. Com um time que se mostrou muito mais renovado que desfalcado, fez uma boa partida, goleou o vice-líder do Campeonato Brasileiro e ainda viu o Vasco perder para o São Paulo, o que torna o sonho de chegar à Libertadores um pouco menos irreal - embora ainda distante e muito difícil.

A atuação da gurizada foi ótima, mas uma coisa é preciso ser dita: o Atlético-MG sentiu muita falta de Ronaldinho. Sem seu articulador principal, penou para criar jogadas a partida inteira. Foram apenas duas boas chegadas em cada tempo, o que é pouquíssimo para quem precisava de uma vitória para seguir pleiteando o título nacional. Escudero, recuado, fracassou ao lado de Guilherme. Nenhum deles é articulador. Cuca poderia ter recuado Bernard, e não os outros dois.

Comemorar uma vitória por 3 a 0 sobre o segundo melhor time da competição é digno mesmo de empolgação, mas o Inter não foi exuberante, e sim esforçado, interessado e eficiente - tudo o que não vinha sendo com os medalhões, e já é muito. O primeiro tempo foi fraquíssimo, cheio de erros de passe de lado a lado. O Colorado foi um pouco melhor, mas o jogo em si foi horroroso. Fernandão surpreendeu com uma escalação muito diferente da que se pensava: Bolatti e Josimar no meio, Ygor recuado para a zaga, Cassiano e Rafael Moura na frente.

No segundo tempo, a entrada de Dagoberto melhorou o Inter. Ele deu nova movimentação substituindo um jogador inoperante. Não houve pressão ou domínio colorado, mas uma superioridade territorial e de atitude premiada com o belo gol de Jackson, aos 21 minutos. Só ali o Galo deixou de se acovardar e tentou atacar. Na prática, não criou nada perigoso: apenas abriu espaços para o Colorado ampliar. Fred e Cassiano, dois dos melhores em campo, fizeram jus às atuações com o merecido prêmio do gol. 3 a 0, categóricos e insustentáveis. E com direito a defesa de pênalti de Muriel.

O time deixou a zona de conforto, com jogadores que ainda não são consagrados, mas têm boa qualidade e precisam buscar seu espaço. Talvez quem já tenha renovado com Índio e está prestes a renovar com Kléber tenha se arrependido. O Inter precisa de renovação há dois anos, e o jogo de ontem serve como exemplo. Resta saber se Fernandão também deixará a zona de conforto e escalará quem está fazendo por merecer nestas últimas rodadas. Mas acho difícil.

Quanto ao Galo, foi sua pior partida no ano. As chances de título foram para o espaço. Mesmo que seja interessante ainda acreditar e adotar o discurso de que é possível, o importante, agora, é terminar o campeonato à frente do Grêmio e garantir vaga direta na fase de grupos da Libertadores.

Em tempo:
- Dátolo perdeu o pouco espaço que tinha no elenco. Bastou deixar o campo que a equipe enfiou os três gols. Isso que Lucas Lima nem jogou tanto assim.

FICHA TÉCNICA
INTERNACIONAL (3): Muriel; Nei, Ygor, Jackson e Kléber; Josimar, Bolatti, Fred e Dátolo (Lucas Lima); Cassiano (Otavinho) e Rafael Moura (Dagoberto). Técnico: Fernandão
ATLÉTICO-MG (0): Giovanni; Marcos Rocha, Rafael Marques, Leonardo Silva e Júnior César; Serginho, Fillipe Soutto, Guilherme (Neto Berola) e Escudero (Leonardo); Bernard e Jô. Técnico: Cuca
Local: Estádio Beira-Rio, Porto Alegre (RS); Data: quarta-feira, 10/10/2012, 22h; Árbitro: André Luiz de Freitas Castro (GO); Público: 4.088; Renda: R$ 48.435,00; Gols: Jackson 21, Fred 34 e Cassiano 41 do 2º; Cartão amarelo: Josimar, Rafael Marques e Serginho

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